Filme do Dia: Comboio (1978), Sam Peckinpah
Comboio (Convoy,EUA, 1978). Direção: Sam Peckinpah. Rot. Adaptado: Bill L.
Norton, a partir da canção homônima de Bill Fries. Fotografia: Harry Strading Jr. Música: Chip Davis.
Montagem: Garth Craven & John Wright. Dir. de arte: Fernando Carrere &
J. Dennis Washington. Cenografia: Frank Lombardo. Com: Kris Kristofferson, Ali
MacGraw, Ernest Borgnine, Burt Young,
Franklyn Ajaye, Madge Sinclair,
Seymour Cassel, Cassie Yates, Brian Davies.
Martin Penwald,
mais conhecido como Pato Firme (Kristofferson) acaba se tornando um líder de um
comboio de caminhoneiros que atravessam as fronteiras do Arizona, Novo México e
Texas, não respeitando barreiras policiais e tampouco acatando as vozes de
prisão. Eles possuem como principal opositor o corrupto delegado Lyle Wallace
(Borgnine). Pato tem como companheira a prostituta Melissa (MacGraw), que
encontrou pela estrada. A determinado momento seu carisma conseguiu mobilizar o
governador Jerry Haskins (Cassel) em seu apoio, porém ao invés de se dobrar ao
circo midiático-político montado pelo governador, Pato retorna ao Texas para
libertar Mike Aranha (Ajaye) da prisão. Ele consegue fazê-lo, mas diante da
reação pesada das autoridades, que mobiliza um tanque e forças do exército, dispensa
a amante e cruza a barreira militar-policial em operação suicida. O caminhão é
atingido e se torna uma bola de fogo. Porém, enquanto se celebra um tributo a
sua existência, o próprio Pato surge vivo e comanda novamente o gigantesco
comboio.
Menos de dez anos
separam esse filme de alguns dos mais lembrados títulos do realizador como Meu Ódio Será Tua Herança (1969) ou Sob o Domínio do Medo (1971), porém são o suficiente para apresentarem um
esvaziamento do que de mais inteligente e subversor havia na obra de Peckinpah.
O que era sobretudo um passaporte para que o cineasta desfiasse situações
provocadoramente conservadoras, como é o caso da violência perpetrada pelo
liberal e aparentemente inofensivo protagonista de Sob o Domínio do Medo, aqui se transforma em mera paródia de si
próprio, como na sequencia de briga em câmera lenta no bar. E o pastiche de um
dos tropos centrais do western, o do justiceiro vítima das injustiças que
consegue fazer justiça por cima da legalidade aqui ganha laivos de caricatura,
ao mesmo tempo se aproximando de um populismo de mais fácil consumo pelo
público. O sexismo, mesmo que suavizado pela incorporação no grupo de
caminhoneiros, de uma brava caminhoneira negra, tem seus limites enquanto
suavização. Se Melissa é apresentada enquanto mero objeto sexual ao início e
depois se transforma em companheira, é “cuspida” para fora do carro no momento
de maior risco de vida e prefere se esconder na traseira do mesmo em outras
situações de semelhante risco. Já a caminhoneira negra é simplesmente a única a
fazer virar um caminhão numa de suas manobras. Kristofferson, por sua vez, já
traz ao seu personagem, algo de “contestador” associado a sua carreira musical.
Destaque para a picotada montagem. EMI Films para United Artists. 110 minutos.
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