Filme do Dia: Os Contos de Canterbury (1972), Pier Paolo Pasolini
Os Contos de
Canterbury (I Racconti di Canterbury, Itália/França, 1972). Direção:
Pier Paolo Pasolini. Rot. Adaptado: Pier Paolo Pasolini, baseado no romance de
Geoffrey Chaucer. Fotografia: Tonino Delli Colli. Música: Ennio Morriconi.
Montagem: Nino Baragli. Dir. de arte: Dante Feretti. Figurinos: Danilo Donati.
Com: Hugh Griffith, Laura Betti, Ninetto Davoli, Franco Citti, Josephine
Chaplin, Alan Webb, Pier Paolo Pasolini, J.P. Van Dyne, Dan Thomas, Michael
Balfour, Jenny Runacre, Peter Caim, Judy Stewart-Murray, Tom Baker, Oscar
Fochetti, Patrick Dufette, Eamann Howell, Albert King, Eileen King.
Vivendo em meio ao ambiente que
descreve, Chaucer (Pasolini) escreve contos que envolvem os hábitos do
populacho medieval: do cobrador que encontra o próprio Diabo (Citti) em sua travessia ao velho (Webb) que decide
possuir uma mulher jovem e acaba encontrando May (Chaplin), que o trai na
frente dele próprio, quando este fica cego; do estudante que narra para um
crédulo marido a proximidade do fim do mundo para possuir sua esposa aos
estudantes que se vingam de um moleiro, possuindo sua mulher e filha; do homem
que é queimado vivo por não possuir dinheiro para corromper os delatores de sua
prática de sodomia ao que é levado a conhecer o próprio inferno e muitos
outros.
Segundo episódio de sua “trilogia da
vida”, porém sem a mesma pujança e vivacidade que une erotismo e comicidade,
assim como o sentido de um passado mítico pré-industrial onde a ordem da
realidade é um contraponto que pretende espelhar o absurdo da sociedade de
consumo moderna. São narrativas que
exaltam os mais básicos instintos, envolvidos por uma moral peculiar que
caracterizam suas mais bem sucedidas adaptações, seja das Mil e Uma Noites ou, do melhor dentre os três, Decameron. Entre as poucas sequências
dignas de destaque se encontram a liberdade poética de introduzir uma homenagem
a Chaplin (também uma de suas filhas se faz presente no elenco), no personagem
de um malandro vivido por Ninetto Davoli, que escapa dos homens da lei com a
mesma desenvoltura que Chaplin ou Mack Sennett o faziam dos Keystone Cops. Uma
outra, de delírio felliniano, é a reprodução de um inferno povoado de demônios
que defecam monges. Igualmente, como nos outros filmes da trilogia, busca
reproduzir o senso pictórico de alguns mestres da pintura da época como Bosch
e, em alguns momentos, realmente conquista, utilizando locações de cidades
históricas inglesas e os mais renomados técnicos por trás das câmeras do cinema
italiano de então, embora a dimensão do humor torne-se subserviente, muitas
vezes, da pura escatologia, numa dimensão menos equilibrada que nas duas outras
produções. Ao contrário da produção anterior, em um único momento faz menção
aos narradores, evitando intercalar os episódios com o ambiente em que são
narrados. Aqui, Pasolini preferiu apresentar o próprio Chaucer pensando e
escrevendo os contos. Urso de Ouro em Berlim. Les Productions Artistes Associés/PEA. 109 minutos.
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