Filme do Dia: A Esquiva (2003), Abdellatif Kechiche
A
Esquiva (L´Esquive, França, 2003). Direção: Abdellatif Kechiche. Rot. Adaptado:
Ghalya Laroix. Fotografia: Lubomir Bakchev. Montagem: Ghalya Laroix. Dir. de
arte: Michel Gionti. Figurinos: Maria Belloso-Hall. Com: Osman Elkharraz, Sara
Forestier, Sabrina Ouzani, Nanou Benhamou, Hafet Ben-Ahmed, Carole Franck, Aurélie Ganito, Hajar Hamlili, Meryem Serbah.
Nos subúrbios de Paris, um grupo de estudantes argelinos
ensaia uma adaptação teatral para a escola sob a orientação da professora de
francês (Franck). A mais entusiasta de todos é Lydia (Forestier). Porém, a
desistência do ator que contracena com ela na peça, por motivos profissionais,
leva a que o amigo de infância de Lydia, Krimo (Elkharraz), assuma seu lugar.
Porém ele só o faz porque se encontra interessado nela, após ter recebido um
fora de sua namorada, Magali (Ganito). A situação gera uma grande tensão dentro
do grupo, pois o melhor amigo de Krimo, Fathi (Ben-Ahmed) acha que ele deveria
permanecer com Magali.
Talvez o que menos importa, ao final das contas, seja a
ciranda de relações e situações em parte pouco verossímil que o filme
estabelece e sim o que ele consegue aproveitar das interpretações da maior
parte de um elenco não profissional, ainda que a dependência do diálogo e as
próprias situações em si acabem por proporcionar uma narrativa excessivamente
longa em sua variação a partir de um motivo praticamente único. E, talvez
propositalmente, tal como na peça, a interpretação de Forestier brilha de longe
em relação aos seus colegas de elenco. Porém, ainda mais fundamental que o bem
resolvido trabalho de interpretação é o modo consciente de trabalhar todo o
drama sem apelar para os desgastados cacoetes do cinema de gênero, tais como
violência, sangue e morte, algo que ao mesmo tempo demonstra uma recusa do
reforço dos estereótipos que já impregnam tais tipos de personagens junto à
sociedade francesa. Aqui, ao contrário,
eles menos perpetram que sofrem tal violência, mais simbólica do que de fato
física, ao serem revistados brutalmente por policiais franceses. Ao fazer uso
de uma construção visual e dramática que possui visível influência do
documentário, com um peculiar
utilização longe de nova da estratégia
de atores vivenciando personagens muito próximos de si – muitos inclusive com o
mesmo nome do personagem – e uma recusa a utilização de trilha sonora o filme
parece antecipar, de forma modesta, Entre os Muros da Escola. Curiosamente ao abdicar do quase “necessário” enfoque
étnico com que o tema vem sendo habitualmente trabalhado – a exceção sendo a relativamente
breve seqüência já referida da abordagem pela polícia francesa, mais parece uma
versão canhestra dos filmes de Rohmer no
sentido tanto da classe social, da idade dos personagens e do uso abusivo da
palavra falada, mesmo que distante das prédicas morais daquele.Lola Films/Noé
Prod./CinéCinéma para Rezo Films. 117 minutos.
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