Filme do Dia: Mary Stuart, Rainha da Escócia (1971), Charles Jarrot
Mary Stuart, Rainha da Escócia
(Mary, Queen of Scots, Reino Unido,
1971). Direção: Charles Jarrot. Rot. Original: John Hale.
Fotografia: Christopher Challis. Música: John Barry. Montagem: Richard Barden.
Dir. de arte: Terence Marsh & Robert Carthwright. Cenografia: Peter Howitt.
Figurinos: Margaret Furse. Com: Vanessa Redgrave, Glenda Jackson, Patrick McGoohan,
Timothy Dalton, Nigel Davenport, Trevor Howard, Daniel Massey, Ian Holm.
Logo após a morte do Rei Francis (Denning), Mary
Stuart (Redgrave), torna-se a última rainha católica da Escócia, ambicionando igualmente o trono de sua prima
Elizabeth (Jackson). Porém, tem que lidar com os inimigos internos, que incluem
ocasionalmente o seu próprio irmão James (McGoohan), o seu segundo marido Henry
(Dalton), arrogante e volátil, e os homens fortes de seu governo, que não
desejam que ela semeie o catolicismo pela Escócia. Ela foge com Henry, mas sua
paixão já se encontra com aquele que será seu terceiro esposo, Lord Bothwell
(Davenport). Novamente separada de seu mais fiel companheiro, Mary saberá pelo
irmão do enlouquecimento e morte de Bothwell em prisão no estrangeiro. Ela
então se encontra no longo confinamento que lhe foi imposto por Elizabeth. Essa--,
que se recusara a matá-la em outras ocasiões, mesmo sabendo que esse era o
objetivo de Stuart com relação a ela própria, dá-lhe a chance do perdão diante
das provas de traição, que Mary recusa, disposta que se encontra a se tornar
uma mártir da igreja católica.
Ninguém pode afirmar que o
filme de Jarrot não seja um drama bem elaborado e que, a seu tempo, cumpriu com
a dimensão dramática de modo equivalente aos filmes sobre a rainha Elizabeth
dirigidos por Kapur o fariam mais de duas décadas após. E o faz, inclusive, de
forma mais sóbria, menos grandiloqüente visualmente, mesmo que sua produção
esteja longe de espartana. Redgrave e Jackson, no auge de suas respectivas
carreiras, comandam o elenco de forma mais que digna. Redgrave torna sua Mary
Stuart uma figura sofredora e vítima das próprias engrenagens sociais, bem mais
passiva do que a altiva e vil figura interpretada por Fanny Ardant no filme de
Kapur. É que aqui a relação parcialmente se inverteu, sendo o destaque dado a
Stuart, embora tampouco se tenha deixado de apresentar um retrato bastante mais
generoso de sua rival do que o pintado de Stuart na produção mais recente. O
filme está longe de ser visualmente inventivo, com exceção de alguns momentos
inspirados, como o plano em que Mary tenta dialogar com o irmão do alto do
castelo, observada de baixo. E soçobram cenas de uma banalidade televisiva, de
tão clichês que soam, algo acentuado pela infeliz trilha sonora pretensamente
triunfante de Barry. Não há como não perceber que Jarrott, mesmo longe de
demonizar a figura de Elizabeth, tira partido de sua “ausência de maternidade”
como algo justificadora para sua ausência de rompantes emocionais – o único
deles, dá-se justamente quando descobre que Stuart teve um rebento. Dentre as adaptações cinematográficas que
tematizam a figura de Stuart se encontra uma versão dirigida por John Ford, na
década de 30, com Katherine Hepburn a personificando e uma curiosa versão que
potencializa o sensacional que pode existir no próprio ato de decapitação,
produzida no surgimento do cinema (The
Execution of Mary, Queen of Scotland). Jarrot, que dirigira pouco antes um
filme histórico menos bem recebido pela crítica (Ana dos Mil Dias), a partir de então parece ter efetivamente
perdido o rumo, sendo seu filme seguinte a fantasia delirante Horizonte Perdido (1973). Universal
Pictures. 128 minutos.
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