Filme do Dia: Uomini sul Fondo (1941), Francesco De Robertis
Uomini sul Fondo (Itália, 1941). Direção: Francesco De
Robertis. Rot. Original: Francesco De Robertis, a partir de seu argumento.
Fotografia: Guiuseppe Caracciolo. Música: Edgardo Carducci. Montagem: Francesco
De Robertis. Dir.de arte: Amleto Bonetti & Giorgio Bianchi. Com: Felga
Lauri, Diego Pozzetto, Marichetta Stoppa.
Numa frota de submarinos um não
regressa ao cais após colidir acidentalmente com um navio que cruza com sua
rota. Avariado, o submarino afunda. O auxílio demora a vir e os tripulantes
contam com pouco mais de um dia de oxigênio no interior do submarino. Alguns
homens são ejetados através de uma cápsula para a superfície e recolhidos. Uma
grande operação de resgate é iniciada e após algumas tentativas malfadadas
homens em escafandros conseguem soldar a lataria do submarino, possibilitando a
sua imersão que é saudada efusivamente pelos seus companheiros. O primeiro ato
do homem que sai do submarino não é o de saudar a multidão, mas hastear a
bandeira nacional a meio pau em tributo ao único homem morto na operação, que
sacrificou sua própria vida para que a operação fosse bem sucedida.
O filme de De Robertis
demonstra a maciça influência e também os limites e/ou diferenças de seu filme
sobre a obra de seu então discípulo Rossellini (que realizaria La Nave Bianca com ele, no mesmo ano) e, por extensão, sobre o ciclo
internacionalmente celebrado como Neo-Realismo no imediato pós-guerra.
Fundamental para a estética de Rossellini será a sua mescla entre documentário
(uso de amadores em suas funções habituais, por exemplo) e ficcionalização (o
episódio do acidente e todo o clamor que se segue). Ainda mais radicalmente que
a trilogia realizada por Rossellini no período, o filme abdica de qualquer
protagonista em favor da coletividade apresentada, mas esse talvez seja o único
quesito em que o filme consegue ser mais radical e não necessariamente com
melhores resultados. De fato, aqui a história ficcional que é criada, mesmo que
longe do esteréotipo das histórias de amor que eram habitualmente escolhidas
para dar uma dimensão atrativa e ficcional à “aspereza documental” de suas
narrativas, e seguida à risca por Rossellini em dois dos filmes de sua
trilogia, acaba soando bem mais romanesca e convencional, ao apelar para
motivos bastante familiares do cinema clássico como o prazo-limite para a
consecução ou não da ação a ser resolvida. E isso fica ressaltado de forma semi-patética
como o filme demonstra que o país literalmente para e escuta no rádio as
notícias sobre a situação dos marinheiros no submarino ressaltando a ideia de
comunidade nacional ausente mesmo de filmes que fazem uma apologia mais direta
ao regime, como o seu posterior Alfa Tau!,
bem mais convencional em termos dramáticos, também envolvendo tripulantes de um
submarino, mas em sua maior parte observados em folga. O tom apologético aqui,
que trai notáveis influências do cinema de montagem soviético dos anos 20, como
os brevíssimos planos e o final, em que a saudação dos marinheiros pretende ser
o equivalente épico de um final semelhante em O Encouraçado Potemkin (1925), de Eisenstein, conta com o
diferencial que é a nota triste, lembrada enfaticamente pelo primeiro
tripulante a desembarcar do navio, da morte de um dos soldados – enquanto a
morte de um dos marinheiros é motivo para a revolta que provocará a explosão de
vitória ao final na produção soviética, aqui ela vem refrear o ânimo justamente
dessa comemoração; de todo modo, deve-se levar em conta que se encontra longe
de dissonante do ideário fascista, sobretudo seguido pelo cinema alemão, que
identifica o heroísmo com a morte gloriosa pelo bem da pátria. Para além disso,
cumpre lembrar um retrato involuntário das diferenças de classe por demais
explícito na disparidade de mundos entre oficiais e marujos, presentes até no
porte físico e uma perspectiva que mesmo demonstrando o auto-controle da
tripulação tampouco deixa de evidenciar a profunda melancolia e condições
precárias de trabalho, que a relação paternalista por parte dos oficiais ao
invés de ocultar apenas acentua. Por fim, vale ressaltar que o filme ao
deslocar a questão do conflito com outras nações para uma operação de
salvamento que apenas envolve compatriotas, reforça ainda mais os laços de
união nacional e argutamente foge de ter que tematizar diretamente a
participação italiana na Segunda Guerra, que estava longe de ser unânime no
país. Scalera Film S.p.a. 94 minutos.
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