Filme do Dia: Nora Helmer (1974), Rainer Warner Fassbinder
Nora Helmer
(Alemanha Ocidental, 1974). Direção: Rainer Werner Fassbinder. Rot. Adaptado:
Rainer Werner Fassbinder, baseado na peça de Ibsen.. Fotografia: Günter
Steinke. Montagem: Anne-Marie Bornheimer & Friedrich Niquet. Dir. de arte:
Friedhelm Boehm. Figurinos:
Barbara Baum. Com: Margit Carstensen, Joachin Hansen, Barbara Valentin, Ulli
Lommel, Klaus Löwitsch, Lilo Pempeit, Irm Hermann.
Nora Helmer (Cartensen) vê o seu casamento e sua vida burguesa ameaçada
quando um dos funcionários da empresa de seu marido (Hansen), Krogstad (Lommel)
é demitido pelo mesmo. Ele ameaça denunciar ao ex-patrão que Nora recebeu dinheiro
dele em troca de favores amorosos quando o marido necessitou de um caro
tratamento médico. Nora procura dissuadi-lo, já que tampouco consegue reverter
o desejo do marido. Após os apelos de Nora para que o marido não atenda a sua
correspondência até o momento de uma festa, após esta ele fica sabendo de tudo.
Mais preocupado com a repercussão social que pode gerar do que propriamente com
o fato de ter sido traído ou da esposa ter usado de expedientes ilegais,
assinando uma promissória no nome de seu já falecido pai, Torvald perdoa tudo
quando uma carta de Krogstad chega as mãos de Nora, enviando a promissória.
Agora é Nora que afirma não mais querer morar com o marido, a quem considera um
completo estranho.
O estilo abertamente anti-naturalista das interpretações casa-se à
perfeição com a estrutura teatral, que não é ocultada por qualquer tentativa
dispensável de “soar mais cinematográfica”. Aqui toda a ação transcorre na
residência dos Helmer e se não se chega a fazer uso do minimalismo dos cenários
de Afinal, uma Mulher de Negócios (1972) tampouco se deixa de fazer uso
de artifícios abertamente teatrais, como o momento em que Nora discute seu
destino com o Dr. Rank e ao fundo se
observa uma das criadas conversar com a amiga de Nora, sendo que a discussão
dos dois é imperceptível a elas. Se as interpretações e os cenários são
marcadamente teatrais, a forma como ambos são explorados, através de virtuosos
movimentos de câmera, que marcam sua distinção com a produção anterior do
cineasta e que ganhariam seu ápice em Roleta
Chinesa se fazem aqui presentes e, juntamente com filtros na imagem e um
intenso jogo de espelhamentos, ao ponto de a determinados não se saber mais
qual a imagem e o seu reflexo, ganham uma verve cinematográfica. Outros momentos se destacam por sua
disparidade em relação ao conjunto visual, como aquele no qual se observa
somente as silhuetas das faces de Nora e sua amiga Christine sussurando ou – e
principalmente – o momento em que Nora rompe com o marido, quando se observa um
uso intensamente inspirado de sobreposições de imagens dos dois que parece
corresponder a intensa carga emocional vivenciada a partir de uma conversa em
um mesmo aposento em que os personagens não chegam praticamente a se mover.
Visualmente o último recurso aparentemente parece ter sido explorado somente
aqui. Trata-se de um momento na carreira
do realizador em que lhe interessa grandemente adaptações da literatura que
destaquem a posição da mulher diante de uma sociedade extremamente regida por
valores patriarcais (como é o caso de Effi Briest), assim como a ruptura
das mesmas com tal ordem. Tal discurso aqui, presente praticamente no início ao
final na preocupação eminentemente econômica e social de Torvald, é explicitada
de vez no momento em que o mesmo se dirige a ela como mais uma de suas posses.
SR/Telefilm Saar GmbH. 107 minutos.
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