Filme do Dia: Quando um Homem é Homem (1963), Andrew V. McLaglen
Quando um Homem é
Homem (McLintok!, EUA, 1963). Direção:
Andrew V. McLaglen. Rot. Original: James Edward Grant. Fotografia: William H.
Clothier. Música: Frank De Vol. Montagem: Bill Lewis & Otho Lovering. Dir.
de arte: Eddie Imazu & Hal Pereira. Cenografia: Sam Comer & Darell
Silvera. Figurinos: Ron Talsky. Com: John Wayne, Maureen
O’Hara, Patrick Wayne, Stefanie Powers, Jack Kruschen, Chill Wills, Yvonne De
Carlo, Jerry Van Dyke, Gordon Jones.
G.W. McLintok (John
Wayne) é um barão do gado que defende o seu direito à terra com a mesma altivez
com a qual defende os índios comanches ameaçados de expulsão de suas terras.
Com o retorno de sua esposa, Katherine (O’Hara), que o havia abandonado e procura se desvencilhar das intimidades do
passado, quando era conhecida como Katy, e insinuando não mais querer nada com McLintok, e sua filha Becky (Powers), ao qual se insinua o casamento com o
almofadinha Matt (Van Dyke), a vida de McLintok fica atribulada. McLintok
prefere que a filha se case com o agricultor que lhe serve como empregado,
Devlin (Patrick Wayne). Essa, embora intensamente atraída por Devlin, inicia um
namoro com Matt. McLintok aproveita o fato de ser o homem mais poderoso da
região, para tentar apaziguar os ânimos e conciliar as divergências, não
deixando de sempre fazer de bobo o prefeito Matt Douglas, pai do pretendente à
mão de sua filha. Katherine se sente enciumada com a presença de outra mulher
em casa, a mãe de Devlin, Louise (de Carlo), após flagrá-los numa situação
embaraçosa e bêbados. Enquanto Becky se ajeita com Devlin, sua mãe tenta recuar
aos avanços de McLintok e acaba passando um vexame diante de toda a vila.
Esse constrangedor
veículo para John Wayne, produzido por sua própria companhia, demonstra a
crescente decadência do gênero a partir do momento em que os gêneros clássicos
sofrem um período de tentativa de sobrevivência, seja através das
super-produções, caso dos musicais, seja através de uma releitura cômica que
pretende ser igualmente um comentário velado sobre a cena familiar americana
contemporânea à sua produção. O resultado é canhestro tanto em termos de
roteiro – perde-se em sub-enredos desnecessários, um deles, o dos
índios, simplesmente deixado de lado a determinado momento e utilizado apenas
como forma de salientar o poder de seu protagonista – quanto, e ainda mais, de
pretensões cômicas. É mais do que evidente que a guerra dos sexos vivida pelo
par central (a quarta das cinco vezes em que O’Hara e Wayne contracenaram
juntos, sendo a mais célebre Como Era
Verde o Meu Vale) serve como pretexto para Wayne apontar sua insatisfação
com os novos tempos de emancipação feminina. Ainda que o seu McLintok seja
magnânimo o suficiente para respeitar a maior parte do tempo as reservas de sua
esposa com relação a si, no final toda a emancipação e pretensa sofisticação da
mesma vem a baixo literalmente, de forma marcadamente misógina, ao deixar a
personagem somente com sua roupa de baixo
diante das gargalhadas de toda a comunidade. Situação que se reflete na
subtrama em que McLintok observa com prazer o seu empregado, Devlin, dar umas
“boas palmadas” na sua própria filha, situação que repetirá no desfecho com
relação a esposa. A moral evidente da história é que as mulheres são como
crianças, aos quais se deve por no seu devido lugar, sem precisar levar muito a
sério. Enquanto filme que tampouco se pretende levar tão a sério, essa produção
se mostra ainda mais insuficiente, com situações que não chegam a irem além do
pastelão pelo pastelão, como a longa, desnecessária e ineficiente sequência em
que todos os personagens findam por resvalar numa poça de lama. Patrick Wayne,
filho do astro, faz aqui um papel no qual torna-se cópia mais jovem dos valores
defendidos pelo pai (e também, como no filme, patrão), em oposição ao
desajeitado jovem que é ridicularizado pelo próprio John Wayne em Rastros de Ódio e, aqui, ao almofadinha
que se quer pretendente da filha, vivido por Van Dyke. A todos esses
comentários sobre o momento contemporâneo a produção –inclusive a fama de
reacionário de John Wayne, que vem a baila na boca do personagem de Matt – ainda se soma a explícita alusão desabonadora
ao candidato liberal às eleições presidenciais, Hubert Humphrey, aqui como o
patético governador Cuthbert H. Humprey. Batjac Prod. para United
Artists. 127 minutos.
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