Filme do Dia: Marcas da Violência (2005), David Cronenberg
Marcas
da Violência (A History of Violence,
EUA/Alemanha, 2005). Direção: David Cronenberg. Rot. Adaptado: Josh Olson,
baseado na história em quadrinhos de John Wagner & Vince Locke. Fotografia:
Peter Suschitzky. Música: Howard Shore. Montagem: Ronald Sanders. Dir. de arte:
Carol Spier & James McAteer. Cenografia: Peter P. Nikolakakos. Figurinos:
Denise Cronemberg. Com: Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris, William Hurt,
Ashton Holmes, Peter MacNeill, Stephen McHattie, Greg Bryk.
Tom Stall (Mortensen) leva uma vida tranquila na cidadezinha
de Millbrook, onde possui um café, quando recebe a visita de dois homens mal
intencionados. O episódio leva a que Stall mate os dois homens em auto-defesa e
se transforme numa espécie de “herói” local. Sua indisposição com o assédio da
imprensa se torna pior quando ele e sua família passam a ser assediados pelo
violento Carl Fogarty (Harris), que jura ser ele o violento criminoso Joey
Cusack. Ele afirma nunca ter visto Carl antes. A pressão continua, até o momento
em que Tom não pode mais negar diante da família, após ter massacrado dois
capangas de Carl e ter tido a vida salva pelo filho Jack (Holmes). Confusa, sua
esposa Edie (Bello), não quer dormir mais no mesmo quarto que ele. Tom recebe
uma ligação do irmão, o mafioso Richie (Hurt), convidando-o a sua mansão. O que
era para ser um acerto de contas que finalizaria com a morte de Tom torna-se o
oposto, ele matando todos os homens da casa, inclusive o irmão.
De um aparente realismo a história de Cronenberg vai se
dirigindo para seu extremo oposto, tornando-se antes uma fábula que parece
desmascarar toda a violência contida nos subterrâneos dos mais calmos e
pacíficos cidadãos tipicamente americanos. Na sua mescla de Sob o Domínio do Medo (1971), ao
retratar tanto no pai como no filho uma predisposição genética para ser mais
violento do que os opositores violentos com os quais se defrontam (metáfora, em
sentido mais amplos, para os próprios EUA contemporâneos?) e a não verossimilitude
das reações do protagonista contra diversos homens ao mesmo tempo, típicas dos
filmes de violência, Cronenberg constrói sua própria versão. Parece haver uma
propensão que chama quase o humor na facilidade com que Tom/Joey se livra de
seus adversários, como se Cronenberg achasse por bem ironizar com enraizados
valores americanos a partir de uma demonstração sintetizada e escabrosa (os
rostos em decomposição são um destaque à parte) da forma que habitualmente foram
utilizados nos espetáculos mais triviais. A dimensão esquizo de seu
protagonista, já antecipada por seu olhar amortecido e aparentemente
indiferente a tudo que ocorre ao seu redor, no belo trabalho de atuação de
Mortensen, já havia sido o tema central de um dos filmes mais interessantes do
realizador, Spider. Embora a
história se passe numa cidade fictícia americana, foi de fato filmada em cidade
do mesmo nome no Canadá. New Line Prod./BenderSpink/Media I! Filmproduktion
München & Co. para New Line Cinema. 96 minutos.
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