Filme do Dia: Eduardo II (1991), Derek Jarman
Eduardo II (Edward II, Reino
Unido, 1991). Direção: Derek Jarman. Rot.
Adaptado: Ken Butler, Steve Clark-Hall,
Derek Jarman, Stephen McBride & Antony Root, baseado na peça de Christopher
Marlowe. Fotografia: Ian Wilson. Música: Simon Fisher-Turner. Montagem: George
Akers. Dir. de arte: Christopher Hobbs & Ricky Eyres. Figurinos: Sandy Powell. Com: Steven Waddington, Andrew Tiernan, Tilda Swinton, Nigel Terry,
John Lynch, Jerome Flynn, Kevin Collins, Dudley Sutton, Jody Graber.
O
Rei Eduardo II (Waddington) torna-se rival da corte ao possuir como amante e
influência determinante no seu reinado Gaveston (Tiernan), deixando de lado a
Rainha Isabella (Swinton). Ao entrar em aberto conflito com o Bispo de Winchester
(Sutton), que prende e humilha, torna-se pressionado pelos nobres, liderados
pelo chefe da milícia Mortimer (Terry), a afastar Gaveston da corte. Eduardo
inicialmente resiste, mas quando tem que escolher entre o trono e o amante, escolhe
o trono. Em conluio com Isabella, Mortimer resolve trazer Gaveston de volta à
corte, porém esse acaba sendo assassinado por ordem de Mortimer. Tornando-se
amante de Mortimer, Isabella inicia com ele uma perseguição a todos que se
encontram próximos do rei. Entre as cabeças que rolam encontram-se o novo amigo
de Edward, Spencer (Lynch) e seu irmão Kent (Flynn). Mesmo destituído de tudo e
próximo da morte como nunca, no cárcere,
Edward é amado pelo carcereiro Lightborn (Collins), enquanto Mortimer e
Isabella amargam a ausência de poder, sob o comando do filho de Isabella e
Edward, o jovem princípe Edward (Graber).
Com recursos habituais como uma utilização imaginosa dos
ascéticos cenários (num estilo próximo aos popularizados na televisão pelos videoclipes)
e figurinos (de forma ostensiva e menos interessante que
em filmes anteriores como Caravaggio)
para criar uma atmosfera atemporal que realça o texto sublime de Marlowe,
Jarman não procurou esconder a origem teatral do material que trabalhou, sabendo
captar parte da intensidade emocional dos diálogos através de interpretações
marcadamente anti-naturalistas – em algumas sequências utilizando-se de efeitos
interessantes, como o rei saltitando como um símio em seu trono. O resultado,
embora envolvente, perde gradativamente o impacto na medida que o cineasta
procura enfatizar maniqueisticamente a homossexualidade dos protagonistas como
a própria redenção moral em meio a uma sociedade corrupta e hipócrita, da mesma
forma que Eisenstein o fez com os proletários em Potemkin ou Spike Lee
com os negros em Malcolm X.
Entregando-se de corpo e alma a glorificação e vitimização das minorias do
discurso politicamente correto ao, por exemplo, apresentar cenas de uma
passeata de gays reivindicando seus direitos, o filme resvala para
momentos de panfletarismo fácil que obscurecem qualquer maior densidade ou ambiguidade dramática proveniente da
peça. Novamente, à medida que se afasta do discurso engajado, volta novamente a crescer dramaticamente até
os belos versos finais “vem morte/com teus dedos, cerra meus olhos/mas se eu
viver/faz com que eu esqueça de mim.” Annie Lennox faz uma ponta, cantando a
despedida de Gaveston. British Lion Film. 91 minutos.
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