Filme do Dia: O Amor Tudo Vence (1961), John Sturges


O Amor Tudo Vence (1961) Poster


O Amor Tudo Vence (By Love Possessed, EUA/Reino Unido, 1961). Direção: John Sturges. Rot. Adaptado: Charles Schnee, baseado no romance de James Gould Cozzens. Fotografia: Rusell Metty. Música: Elmer Bernstein. Montagem: Ferris Webster. Dir. de arte: Malcolm Brown. Cenografia: Edward G. Boyle. Figurinos: Bill Thomas. Com: Lana Turner, Efrem Zimbalist Jr., Jason Robards, George Hamilton, Susan Kohner, Thomas Mitchell, Everett Sloane, Yvonne Craig, Barbara Bel Geddes.
        Por trás da aparência de estabilidade, os casais da elite de uma pacata cidade americana a cada dia sentem despontar seus dramas. Arthur Winner (Zimbalist Jr.), respeitado e íntegro advogado, conhecido como um “pilar da cidade” não consegue demonstrar o menor afeto pela dedicada esposa Clarissa (Geddes). Seu sócio na firma, Julius (Robards Jr.), evita a mulher, Marjorie (Turner) desde o momento que sofreu um acidente que o deixou impotente. Warren (Hamilton), filho de Arthur e Clarissa, teme repetir o mesmo erro do pai, vivendo uma estável vida profissional e uma morna vida afetiva e evita se envolver com sua noiva, Helen (Kohner), preferindo as prostitutas. A situação se agudiza quando Arthur foge de sua rotina e tem um romance com Marjorie, enquanto o filho é acusado pela leviana Veronica Kovacs (Craig) de estupro. Pressionado, rompe de vez com Helen e foge da cidade. Helen, por sua vez, suicida-se. Após a tormenta, Warren volta para os pais, agora certo que eles o amam e Marjorie tenta novamente a sorte com  Julius.
       Esse melodrama típico da época, herdeiro não só do estilo como de colaboradores por frente (Turner, Kohner) e por trás das câmeras (Metty) de Douglas Sirk, curiosamente é dirigido por um cineasta que, em outra frente, era conhecido justamente por dirigir um gênero marcadamente voltado para o público masculino - o western – tendo dirigido Sete Homens e Um Destino, talvez o seu mais famoso, justamente antes desse. Mesmo que mais comedido que alguns melodramas esganiçados de Sirk como Palavras ao Vento ou Imitação da Vida, o filme faz uso de momentos de arrebatamento em sua trilha sonora quando os casais se aconchegam ou simplesmente quando os personagens se deslocam em seus carros. Porém, para além da superficialidade aparente, embora não possua o mesmo senso de ritmo das melhores obras de Sirk, igualmente faz um perspicaz retrato da hipocrisia social americana que acabaria rendendo influências distantes seja nos filmes de Fassbinder ou no recente Longe do Paraíso (2002), de Todd Haynes, que apenas explicita tudo aquilo que potencialmente já era observado em tais filmes. Tudo se orquestra em torno de uma demanda feminina por atenção e sensibilidade e uma resposta inexistente ou sequer um esboço de modificação por parte de seus parceiros. Frente a esse desafio cada uma reage a seu modo: Marjorie através de uma busca do prazer fora de casa no álcool e sexo; Helen no suicídio e Clarissa na passividade a que foi adestrada ao longo da vida. Aos poucos, e com bem mais resistência, os personagens masculinos igualmente vão demonstrando suas fragilidades e a dificuldade de expressá-las que chegam ao ponto de impedir que Julius, mesmo no desenlace final, consiga afirmar que ama sua esposa, preferindo abraça-la ou Arthur que, igualmente no  final, ao escutar do filho que necessita dele como nunca apenas observa a mãe que corre e abraça-o. Um bom elenco de apoio integra a produção, inclusive com Sloane, ex-membro da trupe de Orson Welles,  vivendo seu habitual tipo cínico e Jason Robards, assim como o então candidato a galã Hamilton. Seven Arts Prod./The Mirisch Co. para United Artists. 115 minutos.


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