The Film Handbook#60: Preston Sturges


Preston Sturges
Nascimento: 29/08/1898, Chicago, Illinois, EUA
Morte: 06/08/1959, Nova York, Nova York, EUA
Carreira (como diretor): 1940-1957

Por um breve período - de 1940 a 1943 - Edmund P. Biden (mais conhecido pelo nome recebido por seu padrasto adotivo) realizou sete das mais freneticamente inventivas comédias que satirizaram o modo de vida americano. Ásperas, mesmo que sofisticadas, deleitando-se em absurdos verbais, permanecem como exemplos supremos da habilidade de seu diretor-roteirista.

Antes de encontrar trabalho na Hollywood dos idos dos anos 30 como roteirista, Sturges já havia escrito diversas peças, além de ter sido um inventor excêntrico. Porém foi sua contribuição para filmes como Garota de Sorte/Easy Living e Lembra-se Daquela Noite?/Remember The Night  de Leisen que o estabeleceram como escritor cômico e o encorajaram a passar a dirigir. Sua estreia, O Homem Que se Vendeu/The Great McGinty>1, no qual um vagabundo ganha a gratidão de um empresário político corrupto (votando 40 vezes em um local de eleição) que finalmente ascende ao governo do estado foi típica em sua atitude apaixonada e irreverente com os códigos sociais americanos e de seu estilo frenético e engenhoso. As palavras constituem um elemento de destaque da frequentemente absurda engenhosidade de Sturges: aforismos, gírias, nomes ridículos (Kockenlocker, Ratsy-Watsky, Hackensacker), falas ácidas, delirantes falsas inferências, todas realizadas em um ritmo de tirar o fòlego. Enquanto isso, enredos - frequentemente trazendo erros de identidades e personagens envolvidos em pretensões deliberadas - em constante espiral rumo a um caos febril e improvável,  zombavam ao mesmo tempo de várias vacas sagradas. Natal em Julho/Chistmas in July, no qual o desejo do herói de se tornar rico rapidamente o faz entrar em competições infindáveis se inclina sutilmente sobre a publicidade; As Três Noites de Eva/The Lady Eve proporciona uma divertida paródia de namoro com uma condenada enganando deliberadamente uma antiga paixão que não consegue aprender seu estilo de vida desonesto; em Contrastes Humanos/Sullivan's Travels>2, um diretor de cinema pega a estrada para conseguir pesquisar para seu digno filme sobre injustiça e pobreza ("E Aí Meu Irmão, Cade Você?"), somente para aprender que o riso é o melhor antídoto contra as dificuldades; enquanto Mulher de Verdade/The Palm Beach Story>3, uma farsa complexamente soberba envolvendo um retângulo romântico, satiriza os idolatrados ricos, mesmo reservando um carinho especial pelos beberrões, excêntricos e irresistíveis membros tempestuosos do "Clube das Cervejas e Codornas".

Com a exceção de Contrastes Humanos (uma apologia algo controversa da profissão escolhida por Sturges) e Triunfo Sobre a Dor/The Great Moment (uma rara biografia séria do inventor da anestesia desarranjada com momentos ímpares de pastelão), a obra de Sturges foi admiravelmente livre de um teor moralista, qualidade talvez mais evidente em duas sátiras incomumente subversivas sobre a ética puritana e o sentimentalismo barato da America Provinciana. Em Herói de Mentira/Hail the Coquering>4, um estúpido que não foi aceito pela Marinha, devido a febre do feno, é considerado equivocadamente como herói de guerra, elegendo-se prefeito, enquanto em  Papai por Acaso/The Miracle of the Morgan's Creek, uma garota que se casa embriagada e engravida, de um soldado que posteriormente esquece, torna-se mãe de sêxtuplos e mulher de um homem tímido e cronicamente imbecil. Em ambos, a adoração à figura materna, o patriotismo insano da guerra e a corrupção política são satirizados impiedosamente, enquanto a galeria habitual de tagarelas coadjuvantes (Jimmy Conlin, Franklin Pangborn e, particularmente, William Demarest) emprestam sua inimitável mescla de irritabilidade e absurdo a crescentemente barulhenta maluquice.

A decisão de Sturges de abandonar a Paramount por Howard Hughes infelizmente levou um fim a esse período de prolíficas invenções: dos diversos projetos que iniciou sob o comando de Hughes, somente As Trapalhadas de Haroldo/Mad Wednesday, um retorno do comediante mudo Harold Lloyd foi concluído. Na 20th Century-Fox, ele finalmente voltou ao seu melhor com a comédia incomumente sofisticada e de humor negro Odeio-te Meu Amor/Unfaithfully Yours>5, na qual um regente, convencido por nenhuma razão, que sua mulher está tendo um caso, passa a ter sonhos de vingança que variam de acordo com os humores das músicas que está conduzindo; mesmo aqui, no entanto, o pendor de Sturges para o pastelão resulta em uma cena soberbamente coreografada na qual o demente marido prepara desajeitadamente matar sua mulher. Após o irregular musical que satiriza o western Esta Loira é um Demônio/Beautiful Blonde for Bashful Bend, Sturges partiu para a França, onde finalizaria sua carreira como realizador com o desapontador As Memórias do Major Thompson/The Diary of Major Thompson.

Apesar de quase toda a melhor obra de Sturges ter sido fruto de seus quatro anos na Paramount e seu talento, mais verbal que visual, foi frequentemente bastante localizado, o apelo de seus filmes é tão atemporal que sua importância como realizador cômico está garantida. Da mesma forma, como bem sucedido diretor-roteirista, proporcionou um exemplo para outros tais como Huston, Wilder e Richard Brooks.

Cronologia
Embora o pastelão de Sturges remonte a comédia muda, seu talento verbal coloquial e brilhante tornam-o comparável à figuras tão diversas quanto Wilder, Levinson e Os Irmãos Coen, sua aloprada sátira com a de Tashlin.

Destaques
1. O Homem Que se Vendeu, EUA, 1940 c/Brian Donlevy, Akim Tamiroff, Muriel Angelus

2. Contrastes Humanos, EUA, 1941 c/Joel McCrea, Veronica Lake, William Demarest

3. Mulher de Verdade, EUA, 1942 c/Claudette Colbert, Joel McCrea, Rudy Vallee

4. Herói de Mentira, EUA, 1944 c/Eddie Bracken, Ella Raines, William Demarest

5. Odeio-te Meu Amor, EUA, 1948 c/Rex Harrison, Linda Darnell, Rudy Vallee

Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 276-8.

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