Filme do Dia: Duralex (1926), Lev Kulechov
Duralex (Po Zakonu,
URSS, 1926). Direção: Lev Kulechov. Rot. Adaptado: Lev Kulechov & Viktor
Shklovsky, baseado no conto de Jack London. Fotografia: Konstantin Kuznetsov.
Dir. de arte: Isaak Makhlis. Com: Aleksandra Khohlova, Sergei Komarov, Vladimir
Fogel, Pyotr Galadzhev, Porfiri Podobed.
Um grupo de estrangeiros reúne esforços a margem do rio
Yukon em busca de ouro. Michael Dennin (Fogel), desprezado por todos, encontra
uma pepita. Porém, nem assim ele ganha reconhecimento do grupo, que parte atrás
do ouro sem convidá-lo. Cansado de ser vítima de risos do grupo, Michael assassina
a sangue frio dois deles, Harky (Galadzhev) e Dutchy (Podobed). Os
sobreviventes, a inglesa Edith (Khoklova), bastante apegada a religião e o
sueco Hans Nelson (Komarov), conseguem dominar Dennin. Porém, o degelo do Yukon
faz com que a casa trafegue por semanas a fio à deriva. No dia do aniversário
de Edith algumas concessões são feitas ao prisioneiro que lhe dá um presente.
Por várias vezes Hans tentou por fim a vida de Dennin, sendo impedido por
Edith, que afirma sempre que ele deverá ser julgado perante uma corte que faça
honra à Rainha Vitória. Porém, com a situação cada vez mais desgastante, o
próprio casal se propõe encenar um julgamento e decide por enforcar Dennin.
Atormentados pelo que fizeram, recebem a noite a visita de Dennin, que sobreviveu
a tentativa de enforcamento e vai embora com sua pepita.
Esse que é o mais famoso filme de Kulechov, celebrizado por
suas experiências com montagem que levaram o nome de Efeito Kulechov, possui suas intenções de discussão ética bem mais
sofisticadas do que o habitualmente se via no cinema de então prejudicadas
tanto por uma estruturação formal demasiado convencional em comparação aos seus
contemporâneos mais famosos (Pudovkin, Eisenstein e Vertov) quanto por
interpretações demasiado canhestras que juntamente com o excesso melodramático
de algumas cenas, envelheceram bem pior que a pretensão ética que, por mais
ingênua que eventualmente possa soar, ainda é o que o filme guarda de mais
interessante. Nesse sentido, mesmo que tal dimensão se dê quase sempre em um
nível subliminar, favorecendo uma certa obscuridade, não há como não pensar em
situações impensáveis no cinema padrão mundial de então, como a do assassino
sendo a figura que se sai melhor ao final e da dependência moral que prende o
casal de sobreviventes do massacre aos seus códigos de justiça que acenam, até
mesmo em situações limítrofes, como a descrita pelo filme, para um certo desejo de imparcialidade, sendo
o ritual que mimetiza um julgamento uma mera forma de lidarem hipocritamente
com sua própria culpa no desejo de exterminar Dennin. 80 minutos.
Comentários
Postar um comentário