Filme do Dia: Danryu (1957), Yasuzô Masumura
Danryu (Japão, 1957). Direção: Yasuzu
Masumura. Rot. Adaptado: Yasuzo Masumura & Yoshio Shirazaka, a partir do
romance de Kunio Kishida. Fotografia: Hiroshi Murai. Música: Tetsuo Tsukahara.
Montagem: Tatsuji Nakashizu. Dir. de arte: Atsuji Shibata. Com: Jun Negami,
Sachiko Idari, Hitomi Nozoe, Eiji Funakoshi, Junko Kano, Atsuko Kindaichi,
Akihiro Miwa, Chieko Murata.
Yuzo Hiashi
(Negami) foi contratado pelo patriarca da família Shima para pôr ordem nos
negócios de um hospital da propriedade da família. Além da corrupção e da
ineficiência, boa parte do dinheiro é desviada para alimentar parasitas como o
filho do magnata quase falido, Yasuhiko (Funakoshi). Hiashi se apaixona pela
outra filha do patriarca, Keiko (Nozoe), que, embora secretamente nutra
sentimentos por ele, demonstra um falso interesse pelo pretendente favorito do
pai, Ishido (Hidari). Hiashi conta com a ajuda de uma enfermeira espiã, Eiko
(Kano), para descobrir quem trabalha ou não no hospital. O que ele só
descobrirá depois, no entanto é que Eiko se encontra obsessivamente apaixonada
por ele. Após a morte do patriarca, Hiashi passa a ser o gerente dos interesses
da família. Ele também consegue descobrir que Ishido possui uma amante e revela
a notícia para Keiko. Essa, após flagrar o noivo com sua amante rompe com ele
após perceber o quão calculista ele é. Hiashi é vítima do grupo de
pessoas que demitiu no hospital e para fugir de suas agressões, é conduzido por
Eiko, correspondendo finalmente a dedicação que ela tem tido por ele. Hiashi é
destituído da missão de gerente dos negócios da família, por pressão de
Yasuhiko, desgostoso com os cortes em seu estilo de vida e influente o
suficiente para manipular a madrasta. Ele volta a encontrar Keiko, que lhe
oferece sinceramente seu amor, mas ele já se encontra vinculado a Eiko, com
quem casará, abandonando de vez o hospital, agora sob o comando do corrupto
Ishido.
Esse melodrama de
cores fortes tanto em termos dramáticos quanto na sua fotografia, talvez se
torne ainda mais interessante quando confrontado com seus congêneres
contemporâneos norte-americanos. Ainda mais do que àqueles os personagens
expressam verbalmente seus sentimentos mais profundos, algo que, a determinado
momento, até mesmo Hiashi e Keiko, em momentos diferentes, farão um para o
outro. Ao contrário daqueles, e talvez das narrativas clássicas em geral, o que
talvez seja o seu feito mais interessante, o filme não destrincha, ao final, o
imbróglio amoroso juntamente com o drama que o transcende. De fato, nem Hiashi
ficará com Keiko – sendo que a despedida dessa, no mais belo plano do filme bem
poderia ter sido igualmente o seu último – nem tampouco o desenlace amoroso,
ainda que com outra e não a que ocuparia o seu lugar no melodrama clássico
norte-americano significa a resolução dos outros problemas. Pelo contrário, a
um final de certo modo soturno, pois se Hiashi decide iniciar uma nova vida com
Eiko, e sua garra promete potencialmente um futuro promissor para o casal, a
realidade que se vê no presente é um hospital no qual os corruptos e o irmão
dissoluto de Keiko levando a melhor,
tampouco o herói cumprido com a façanha que havia prometido ao patriarca, algo
impensável em termos de seu equivalente hollywoodiano. Masumura, portanto,
ironiza a partir dos códigos do gênero, como habitualmente faz com maestria
(como é o caso do filme de yakuza em Afraid to Die), porém longe de romper com os mesmos. Aqui Eiko costura as
intrigas, sendo aquela personagem que “tudo vê, tudo ouve” e é apresentada de
uma forma tão antipática e infantilizada que jamais se poderá supor que
efetivamente acabará ficando com o herói. Quando se pensa o olhar habitualmente
simpático dedicado às suas personagens femininas, fortes e resolutas, tanto
Keiko quanto Eiko parecem um tanto deslocadas. Ao menos superficialmente. A
primeira, por ter sua postura emancipada apenas enquanto farsa e sinônimo de
orgulho de classe. A última, por ser a jovem tola e romântica, manipulável sem
medir os custos em relação ao objeto de seu amor. Porém, talvez subliminarmente
o filme aponte que Keiko passou de uma figura superficialmente para
efetivamente autônoma, a partir do momento em que deixa de lado a ideia de
casamento, ainda que contra à vontade, para pensar em sua carreira futura, ao
contrário de sua “rival”, feliz o suficiente apenas por ter conquistado o seu
amado, anulando-se sempre enquanto pessoa. O romance de Kishida já havia sido
adaptado em 1939, por Kozaburo Yashimura e voltaria a sê-lo nove anos após, sob
direção de Yoshitaro Nomura. Daiei. 94 minutos.
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