O Dicionário Biográfico de Cinema#211: Ken Loach
Ken Loach, Nuneaton, Inglaterra, 1936
1965: Up the Junction (TV). 1966: Cathy Come Home (TV). 1967: Poor Cow [A Lágrima Secreta. 1969: Kes. 1971: Family Life [Vida em Família]. 1979: Black Jack. 1980: The Gamekeeper [O Vigia]. 1981: Looks and Smiles. 1986: Fatherland. 1990: Hidden Agenda [Agenda Secreta]. 1992: Riff-Raff. 1993: Raining Stones [Chuva de Pedras]. 1994: Ladybird, Ladybird. 1995: Land and Freedon. 1996: Carla's Song [Uma Canção para Carla]. 1997: The Flickering Flame (d). 1998: My Name is Joe [Meu Nome é Joe]. 2000: Bread and Roses [Pão e Rosas]. 2001: The Navigators. 2002: Sweet Sixteen [Felizes Dezesseis]. 2004: Ae Fond Kiss...[Apenas um Beijo]. 2005: Tickets (co-dirigido com Abbas Kiarostami e Ermanno Olmi); McLibel (d). 2006: The Wind that Shakes the Barley [Ventos de Liberdade]. 2007: It's a Free World [Mundo Livre]. 2009: Looking for Eric [À Procura de Eric]. 2010: Route Irish [Rota Irlandesa]. 2012: The Angel's Share [A Parte dos Anjos]. 2013: The Sprit of '45 [O Espírito de 45] (d). 2014: Jimmy's Hall.
Nascido filho de um eletricista, nas Midlands britânicas, Loach tem permanecido firmemente atento à experiência trabalhadora - há uma medida que, alguns de seus filmes tem tido (ou necessitam) de legendas em "inglês", quando lançados nos Estados Unidos. Estudou direito em Oxford e foi ativo no teatro experimental ao mesmo tempo. Interpretou um pouco antes de fazer parte da BBC, onde aprendeu seu ofício na excelente série Z Cars, sobre a polícia no nordeste da Inglaterra. A partir de então, passou a realizar docudramas, frequentemente com atores desconhecidos e um ar de improvisação, mas com a mesma frequencia dependentes de fontes literárias prévias.
Up the Junction pode ter se assemelhado com uma fatia crua da vida no sul de Londres, mas veio de um livro de Nell Dunn. Cathy Come Home foi bem mais difícil e melhor organizado, e causou grande controvérsia na Inglaterra quanto a se a BBC devia ou não revelar tais condições sociais severas. A Lágrima Secreta foi uma tentativa de levar o método da TV para um longa-metragem, mas foi menos efetivo (talvez pelo uso de jovens atores excelentes, mas convencionais, como Terence Stamp e Malcolm McDowell).
Nestes primórdios, Loach trabalhava com o produtor Tony Garnett: Kes foi seu filme mais importante, sobre um garoto de classe operária que tenta treinar um falcão - e é, proavavelmente, ainda o filme mais conhecido de Loach. Vida em Família foi uma obra bastante soturna, escrita por David Marcer, sobre uma mulher de 19 anos cujos fracassos na vida a levam a ser institucionalizada e, de fato, a enlouquecer. O filme aparenta ser tão sombrio sobre a assistência à saúde mental quanto sobre as enlouquecedoras pressões da família - fiel à vida, verdade, mas sem redenção.
Nos anos seguintes, Loach teve dificuldades em encontrar filmes. O Vigia foi uma narrativa mais convencional, sobre as barreiras do sistema de classes. Porém, Loach parece menos autêntico em narrativas convencionais. Gradualmente, nos anos 80, com variados graus de sucesso (talvez por se sentir confortável com diversos roteiristas) trabalhou seu trajeto de volta à filmes difíceis e exploratórios sobre uma classe trabalhadora mais ou menos acuada. Agenda Secreta - filmado no nordeste da Irlanda - é o mais acessível destes, mesmo sua estrutura sendo estranha e requerendo do espectador uma boa dose de conhecimento do contexto.
Mas Loach tem perseverado, e em Riff-Raff e Chuva de Pedras fez o seu melhor trabalho até então. Estes são filmes não forçados, naturalistas, análises sobre a pobreza banal e "desesperançada", mas bem atuados e com crescente humor. Para mim, é mais fácil respeitar Loach que gostar dele. Raramente possui a ferroada de Alan Clarke, por exemplo. Mas em sua dedicação e seriedade, é uma figura exemplar.
Mesmo na prosperidade insana dos anos 90, Loach perseguiu seu destino. Ficou mais gentil, sutil e engraçado. Foi um dos desenvolvimentos mais impressionantes de um realizador. Quem mais - com Pão e Rosas - conseguiria realizar um filme sobre uma greve de zeladores em Los Angeles ser um sério competidor por prêmios em Cannes? Terra e Liberdade foi uma recriação notável da Guerra Civil Espanhola (com violência, apatia, e intermináveis argumentos políticos), estragado por uma estrutura dramática e banal. Uma Canção para Carla junta um escocês e uma nicaraguense - Loach possui um gosto simpático e tímido por mulheres latinas. E, melhor de todos, Meu Nome é Joe segue o romance de um bebarrão e uma assistente social. Eu próprio ainda não consigo ficar estimulado com Loach, mas comecei a ver mais nitidamente como se dá minha perda ou deficiência.
O Espírito de 45 foi um documentário sobre o governo trabalhista de 1945-51, repleto de interesse e boas imagens de cinejornais, honesto em sua apreciação das realizações, e sombrio sobre as lições, mas curiosamente destituído de humor e plácido.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 1600-02.
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