Filme do Dia: Uma Canção para Carla (1996), Ken Loach

Uma Canção para Carla (Carla’s Song, Reino Unido/Espanha/Alemanha,1996) Direção: Ken Loach. Rot. Original: Paul Laverty. Fotografia: Barry Ackroyd. Música: George Fenton. Montagem: Jonathan Morris. Com: Robert Carlyle, Oyanka Cabezas, Scott Glenn, Salvador Espinoza, Louise Goodall, Richard Loza, Gary Lewis, Subash Singh Pall, Margaret McAdam, Pamela Turner.
     Motorista de ônibus de Glasgow, George (Carlyle), interessa-se pela mulher que viajava sem passagem, levando-o a uma suspensão e ela tendo que sair correndo. A mulher lhe procura e leva-o um presente. Ele a reencontra dançando na rua, porém ela tenta defender-se de sua atitude protetora. Acabam sendo expulsos do cortiço onde ela mora e indo para o apartamento que George divide com seu amigo Sammy (Lewis). Aos poucos George vai sabendo mais a respeito da mulher, trata-se de Carla (Cabezas), refugiada nicaraguense, que deixou todos os laços afetivos - sua família e o parceiro no grupo musical Antonio (Loza) no país que vive o conflito civil. Deprimida, Carla corta os pulsos na banheira e é socorrida por George. George junta suas economias e compra passagem para ambos viajarem para a Nicarágua. Procurando saber qual o paradeiro de Antonio, Carla recebe várias evasivas de todos a quem recorre, inclusive de Bradley (Glenn), ex-agente da CIA e líder de um movimento pacifista que atua na guerra civil. Pragmático e motivado, Bradley viaja com o vacilante George, aterrorizado com a realidade que presencia. Após percorrerem uma parte do país, George e Carla encontram a família dela. Certa noite Carla entra subitamente no quarto de Bradley e este lhe revela que Antonio vive com ele. Carla resolve visitá-lo. Quando George sabe de tudo, parte instantaneamente em um ônibus que se encontrava estacionado. Bradley vai com ele, munido de espingarda. Incapaz de lidar com a realidade que o circunda, George encontra Carla solitária em seu quarto e a convida a voltarem para a Escócia. Carla concorda, porém ao se despedir de Antonio e cantarem juntos a canção que tanto representava para eles, muda de idéia. George parte de volta à Escócia. No momento de sua partida, Bradley lhe traz uma lembrança de Carla: a canção.
      O grandemente cultuado cineasta inglês Loach, associado sobretudo a dramas de cunho político e caráter libertário, ainda mais que em Terra e Liberdade (que se desenvolvia na Guerra Civil Espanhola), conseguiu um resultado pífio nesse seu projeto didático de apresentar, de forma engajada,  a conturbada realidade nicaraguense. Tudo no filme soa falso e esquemático, seja o inverossímil amor de George por Carla, o diálogo de Bradley denunciando o papel primordial exercido pelos EUA para a continuação do conflito (fato, aliás, mas que obviamente conhecido), seja ainda o momento em que Carla se emociona com o relato de seus patrícios e sua fé na revolução. O idealismo ingênuo e sentimental que permeia o filme do início ao final, com direito a canções de ressistência, certamente não entusiasmará um público maior que aquele que se alimenta dos clichês tradicionais de esquerda, como é o caso do movimento estudantil. O personagem de George, por exemplo, é tão patético e Carla parece tão desorientada que, no final das contas, a impressão que fica é que seja onde estiverem, na Nicarágua ou na Escócia, juntos ou separados, não haverá maior diferença para eles ou para nós, já que não os percebemos como realmente “vivos”, antes mero meio para que Loach exponha seu painel da situação em tom monocórdio e grave, sem menor espaço para qualquer ambiguidade ou complexidade dramática. Altafilmes S.A/Channel Four/Degeto Film/Filmstiftung/Institute of Culture/Parallax Pictures/Road Movies/TVE/The Glasgow Film Fund/Tornasol Films S.A. 127 minutos.


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