Filme do Dia: Apenas um Beijo (2004), Ken Loach
Apenas um Beijo (Fond Kiss…, Ae, Reino Unido/Bélgica/Alemanha/Itália/Espanha, 2004).
Direção: Ken Loach. Rot. Original: Paul Laverty. Fotografia: Barry Ackroyd. Música: George
Fenton. Montagem: Jonathan Morris. Dir. de arte: Martin Johnson, Ursula Cleary
& Fergus Clegg. Figurinos: Carole K. Millar & Carole Miller. Com: Atta
Yaqub, Eva Birthistle, Shamshad Akthar, Ghizala Avan, Shabana Aktar Bakhsh, Shy
Hamsan, Gerard Kelly.
Na Irlanda, Casim Kham (Yaqub) é um
jovem de origem paquistanesa que vive em Londres e acaba se apaixonando pela
professora de música de sua irmã Tahara (Bakhsh), Roisin Hanlon (Birthistle), o
que provoca uma reviravolta em suas vidas. No caso dele, por conta de sua
família tradicional já ter escolhido sua noiva, uma prima. No caso de Roisin,
pelas dificuldades que passa a enfrentar no trabalho, por conta de trabalhar em
uma escola católica que precisa que ela se case com alguém católico ou
convertido para ser admitida como profissional efetiva. A situação se complica
com a pressão familiar dos parentes de Casim que chegam a encontrar Roisin para
tentar demovê-la da relação.
Loach, com sua habitual maestria,
consegue articular um pano de fundo de implicações sociais mais amplas com um
drama de matizes bem mais convencionais em primeiro plano. Nesse sentido, o
fato de lidar com amantes de grupos sociais distanciados que sofrem pressões em
seus próprios meios para concretizarem sua relação em termos outros que o da
clandestinidade, tipicamente melodramática, ainda que trabalhada de modo
contido e realista, mesmo que não distanciadamente como em Fassbinder, busca a
mesma empatia de amores impossíveis ao estilo de Romeu e Julieta. Só que aqui, dada a releitura e uma necessária
positivação politicamente correta, o casal acabe concretizando seu amor contra
todas as adversidades. É evidente que as os empecilhos enfrentados pelo casal
para a concretização de seu “verdadeiro amor” provocam uma simpática empatia
por uma visão moderna que se contrapõe a tradicional que, mesmo problematizada,
é observada de esguelha e com antipatia – os personagens da família de Casim,
sobretudo seu pai são a própria encarnação da antipatia em sua inflexibilidade,
salvando-se somente Tahara, sua irmã mais nova, justamente por já compartilhar
dos “valores ocidentais”; o mesmo pode ser dito para a caricatura de carolice
com que é representado o pároco católico no eixo de influência de Roisin. É
evidente que nesse polimento do casal protagonista, Loach faça umas ligeiras
concessões ao período contemporâneo, como o momento em que Roisin afirma que
quase “transara com um desconhecido” , quando Casim a abandonara, em um momento de extrema fragilidade. Porém, no
geral, as implicações sociais e as relações de poder estão longe de serem tão
radicalmente exploradas tanto em termos temáticos quanto estilísticos como em
um filme tal como O Medo Devora a Alma
(1974), de Fassbinder. Ficando apenas uma queixa retórica, mais que a
apresentação de situações de opressão e preconceito social. Isso não impede a
completa fruição do filme e a percepção do tino do realizador no encadeamento
narrativo quase sempre pontuado por tensões. Bianca Film/Cinéart/Glasgow Film Office/Matador
Pictures/Scottish Screen/Sixteen Films Lmtd/Tornasol Films S.A. 104 minutos.
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