Filme do Dia: O Sádico Selvagem (1958), Don Siegel

 


O Sádico Selvagem (The Lineup, EUA, 1958). Direção Don Siegel. Rot. Adaptado Stirling Silliphant & Fred Eggers, a partir da série de TV The Lineup, criada por Lawrence M. Klee. Fotografia Hal Mohr. Música Mischa Bakalenikoff. Montagem Al Clark. Dir. de arte Ross Bellah. Cenografia Louis Diage. Com Eli Wallach, Robert Keith, Richard Jaeckel, Mary LaRoche, William Leslie, Emile Meyer, Marshall Reed, Raymond Bailey.

Um esquema de tráfico internacional de drogas faz com que drogas sejam colocadas nos mais insuspeitos dos turistas provenientes do estrangeiro. E terão que ser coletadas por uma dupla perigosa de psicopatas, Dancer (Wallach) e Julian (Keith), que começa a despertar a atenção da polícia após um episódio envolvendo uma peça trazida por um homem interessado em arte, Dressler (Bailey), que provocou a morte de duas pessoas no meio de uma rua. Um terceiro elemento se somará à dupla, o motorista aloprado, ex-viciado e alcóolatra McLain (Jaeckel). E para investigar os estranhos e ousados crimes, a dupla Al Quine (Leslie) e Fred Asher (Reed).

Antes mesmo dos créditos iniciais já apresenta uma série de eventos incomumente violentos e muito bem encenados, diga-se de passagem. O teste na boca da droga, heroína, também é feito em No Porto de Nova York, com o ópio, só que dez anos antes. E há um aspecto cool, nos diálogos, posturas e ações, a antecipar algo que o cinema estadunidense só voltaria a reproduzir nos anos 70, em filmes como A Conversação. Produções como esta podem ter sido feitas com tão pouca grana quanto os filmes-B noir triviais, mas parecem se encontrar em outro patamar, justamente por conta deste tom cool, a parecer reproduzir a fria lógica de seu assassino, negando qualquer respiro moral hipócrita habitual. A compartilhar com algumas destas produções-B, a fotogênica San Francisco, aqui obsessivamente vinculada a sua famosa Golden Gate, sendo a gigantesca ponte observada de diversos ângulos e situações. E sendo entrevista até o final, quando os observadores do cadáver de Dancer a tem ao fundo.  E também as fachadas ou publicidades de chamativos nomes (Sutro’s, Bromo-Seltzer, Regal Pale) a quase anteciparam de forma mais vívida e contextual a arte pop de um Andy Warhol. Ou apenas um aspecto importante desta, a trivialidade de um cotidiano sedento por aplacar os desejos humanos em troca do vil metal, através do consumo de bens e serviços, dentre eles as drogas ilícitas, mas também museus e aquários. E a cena do crime na sauna de um clube é simplesmente magnífica. Assim como a obsessão do mentor do assassino anotar as últimas frases de suas vítimas para um livro. Uma das cenas mais chocantes é a que o Dancer de Wallach – um dos papéis obrigatórios a ser destacado em seu perfil no IMDB, embora não esteja – desfigura a bela boneca japonesa diante da criança atrás de drogas e depois empurra a mãe desta diante da pobra menina. Seu personagem é tão disruptivo que quando o observamos ao lado de uma peça de museu com um alerta para não ser tocada, saberemos que a tocará. E, aproximando-se do final, veremos novamente cenas espetaculares como as do início. Aliás, ainda mais, um sujeito em cadeira de rodas ser jogado do alto em um rinque de patinação após estapear Dancer. E a criança se tornar escudo para ele.  E os policiais não são tampouco comedidos, em termos de temperança, quando começam a trocar tiros com os criminosos em meio a um ambiente lotado, inclusive de crianças. O que se segue a morte espetacular de Dancer é tão anticlimático quanto alguma imagem que siga um gozo em um filme pornô. E, por isso mesmo, tão breves, quanto estas costumam ser. Além das ousadias em termos de violência gráfica apresentados, conta ainda com dois alucinados criminosos como principais, algo bastante incomum, e revertendo o perfil bem mais convencional da série de TV na qual foi baseado, que tinha os tiras como principais.  |Pajemer Prod. para Columbia Pictures. 87 minutos.

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