Filme do Dia: Riff-Raff (1990), Ken Loach

 


Riff-Raff (Reino Unido, 1990). Direção: Ken Loach. Rot. Original: Bill Jesse. Fotografia: Barry Ackroyd. Música: Steward Copeland. Montagem: Jonathan Morris. Dir. de arte: Martin Johnson. Figurinos: Wendy Knowles. Com: Robert Carlyle, Emer McCourt, Richard Belgrave, Jim R. Coleman, David Finch, Garrie J. Lammin, Dean Perry, George Moss, Derek Young.

Steve (Carlyle) é um escocês recém-chegado a Inglaterra para trabalhar na construção civil, no auge do Thatcherismo. Pelo conselho dos amigos ele acaba decidindo ocupar um apartamento vazio, onde encontra a bolsa roubada de Susan (McCourt). Ao devolvê-la, envolve-se emocionalmente com a garota, aspirante a cantora. Os dois decidem morar juntos, mas os sonhos de Steve aos poucos se desfazem com os fracassos da carreira de Susan, que descobre ser viciada em drogas, a morte da mãe e os conflitos no trabalho. Após observar seguidamente a despedida de Kojo (Belgrave), por ter reivindicado melhores condições de trabalho, de Shem (Coleman), que é preso após ter agredido um capataz e a morte acidental do jovem negro Desmond (Young), Steve, juntamente com um colega de trabalho, tocando fogo no prédio.

Iniciando e finalizando com cenas de ratos que vivem no local da construção, o filme demonstra que o cineasta geralmente consegue maior sucesso quando volta seu realismo social (herdeiro do kitchen sink inglês, da década de 1960) para temáticas domésticas, não internacionais (como é o caso dos mal sucedidos Terra e Liberdade e Uma Canção para Carla). De forma suscinta e longe de sentimental, o filme aborda as motivações sociais associadas à miséria econômica que impossibilitam qualquer tentativa de realização pessoal do protagonista. Mesmo que o retrato do companheirismo entre a classe trabalhadora seja grandemente idealizado (boa parte dos colegas ajudam Steve a montar sua nova casa), o resultado final é convincente e distante de qualquer tom conciliatório. Auxiliam na tessitura da narrativa, o estilo seco e direto do trabalho de câmera, assim como a fotografia desglamorizada e o soberbo naturalismo das interpretações. O descaso para com os pobres e as pressões sufocantes que regem as engrenagens da sociedade são explicitadas nas relações quase escravas que os operários se submetem, assim como na indiferença que a burocracia os atende – são as inumeráveis perguntas que a atendentende do hospital faz a David, quando ele busca notícias do amigo gravemente ferido, que detonam sua ação de revide. Numa cena hilária, repleta de ironia subliminar, a família de Steve não sabe como lidar com as cinzas da mãe morta, em um elegante crematório e distribui boa parte dela sobre suas próprias vestes. O filme é dedicado à memória do roteirista. Prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes. Channel 4/Parallax Pictures. 95 minutos.

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