Filme do Dia: Cathy Come Home (1966), Ken Loach

Cathy Come Home, de Ken Loach | Desobedoc 2020 Em Casa

Cathy Come Home (Reino Unido, 1966). Direção: Ken Loach. Rot. Original: Jeremy Sandford. Fotografia: Tony Imi. Montagem: Roy Watts. Dir. de arte: Sally Hulke. Com: Carol White, Ray Brooks, Winnifred Dennis, Wally Patch, Adrienne Frame, Emmett Hennessy, Phyllis Hickson, Geoffrey Palmer.

Cathy (White) é uma garota da província que vai morar em Londres. Lá conhece o também jovem Reg (Brooks), com quem acaba casando. Porém seus sonhos se transformam rapidamente em pesadelo, quando Reg sofre um acidente de trabalho e eles não tem mais como manter o apartamento alugado. Inicia-se uma via crucis os levará aos extremos de morar em um trailer. Porém, com o incêndio do trailer, o casal se separa, pois Cathy consegue vaga numa instituição governamental que não permite a presença de maridos. O golpe de misericórdia se dá quando o governo leva seus filhos.

Esse telefilme, uma das experiências pioneiras de Loach na BBC, onde já havia dirigido cerca de meia-dúzia de filmes, possui já toda a carga de inquietação e denúncia sociais que tornaram o cineasta célebre. A filmagem em 16 mm e a montagem altamente elíptica refletem o tom de urgência desesperada que baliza o filme. E se a veia pseudo-amadora tem não poucas virtudes, também demonstra suas falhas na interpretação sofrível de Brooks e em situações que tendem a se transformar em um verdadeiro voyeurismo do patético, como a da mulher vizinha de Cathy que afunda na própria cama. Há um clima de sordidez completa na pobreza que possui traços dickensonianos, influência confessa do cineasta. Já o recurso de aproveitar imagens documentais e depoimentos provavelmente de pessoas reais na banda sonora, que não são estritamente congruentes com as imagens, mesmo interessante, é utilizado de forma abusiva, demonstrando que as intenções de Loach pareciam ser mais a de traçar um panorama pseudo-documental da problemática questão da habitação que propriamente desenvolver a trama narrativa de forma mais convencional. Ele atingiu seu tento, já que houve uma mudança na política habitacional inglesa motivada pelo clamor gerado por essa produção. Sua intervenção militante é uma radicalização da proposta de realismo social efetuada a partir de meados da década de 1950 com o movimento que ficou conhecido como Free Cinema. As canções pop dessa outra face da então celebrada Swinging London são executadas somente em curtos trechos, como que espelhando os raros momentos de felicidade e utopia do casal. BBC. 75 minutos.


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