Filme do Dia: Lion: Uma Jornada para Casa (2016), Garth Davis


 

Lion: Uma Jornada para Casa (Lion, EUA/Austrália/Reino Unido, 2016). Direção: Garth Davis. Rot. Adaptado: Luke Davies, a partir do livro A Long Way Home, de Saroo Brierley. Fotografia: Greig Fraser. Música: Volker Bertelman & Dustin O’Halloran. Montagem: Alexandre de Franceschi. Dir. de arte: Chris Kennedy. Cenografia: Nicki Gardiner & Seema Kashyap. Figurinos: Cappi Ireland. Com: Sunny Pawar, Dev Patel, Rooney Mara, Nicole Kidman, David Wenham, Tannistha Chatterjee, Abishek Bharate, Pryanka Bose, Divian Ladwa.

Saroo (Pawar) é uma criança lépida e trabalhadora, que ajuda a mãe (Chatterjee) e o irmão mais velho Guddu (Bharate). Certo dia Guddu disse que passará umas semanas distante e Saroo insiste que ele o leva consigo. Porém ao desembarcar do trem, Saroo se encontra adormecido e como Guddu tem que trabalhar deixa ele dormindo e pede que não saia do local. Saroo acorda assustado no meio da noite e entra em um trem, adormecendo em um vagão. Ao acordar ele se encontra com um trem em movimento. E assim permanece por dias. Desembarca em Calcutá, uma megalópole, sem conhecer nada nem ninguém e tampouco sem falar hindi. Vivendo a esmo, Saroo foge de uma mulher que pretende alicia-lo, Kamla (Bose) e, tempos depois, um homem do restaurante que o percebe faminto o leva as autoridades que o encaminham para uma moradia coletiva superlotada, de condições precárias e onde várias crianças sofrem sevícias. Um casal de australianos, John e Sue Brierley (Wenham e Kidman) resolve adotá-lo e o leva com eles. Vivendo de forma tranquila, ao menos até a chegada do irmão, Saroo se vê crescentemente obcecado pelas memórias do passado, o que gera uma crise com sua família e namorada. Obcecado em encontrar o local onde sua família morava, ele já se encontra prestes a desistir de tudo, após muito tempo de busca, quando acha no Google Earth indícios fortes do que seja seu trajeto quando criança. Sem nenhuma dúvida ele parte, sendo apoiado pela família e namorada., reencontrando a mãe, sabendo da morte do irmão e tranquilizando a família de que os ama do mesmo jeito.

Muito do pretenso engajamento que o filme desenvolve com um público mais convencional se deve a elaboração visual de um realizador oriundo do mercado publicitário e que soma a essa estética (montagem dinâmica proporcionando suspense na perseguição aos garotos na estação ferroviária, redundância e exuberância visuais proporcionadas por planos grandiloquentes do alto, como o que abre o filme e observa seu protagonista ainda pequeno, da dimensão de uma formiga a correr pela árida região pedregosa em que nasceu) atributos de longevo interesse melodramático, como é o caso da separação da família. Imagens, odores e palavras trazem de volta flashes (ou seriam flashbacks?) do passado, numa tradição evocativa do filme de demandas psicanalíticas hollywoodiano do pós-Segunda Guerra. O antagonista aqui se encontra interiorizado no próprio protagonista, como em boa parte daquelas produções, sendo que sua extravagância visual em contar sobre um drama banal e recorrente, mas de apelo emotivo certo, poderia lhe sugerir o papel de uma espécie de Attenbourough da intimidade, tentando – sem grande sucesso – transformar em escala épica um drama humano individual. Soma-se a isso uma trilha sonora rotineira e interpretações não mais que passáveis, com Patel do início ao final praticamente com a mesma expressão de bom moço que o transforma na versão adaptada ao trânsito entre dois mundos tão grotescamente distintos, em oposição ao irmão problemático, estruturalmente, e não por um período em questão como o abordado por parte do filme em relação a ele. E, como dose esperada em grande quantidade de produções contemporâneas “baseadas em uma história verdadeira”, como o filme ressalta ao início, ao final não apenas várias legendas irão acrescentar elementos ao desfecho feliz da narrativa como, de modo ainda mais torpe, tirar partido emocional de imagens não ficcionais de fotografias e audiovisuais do reencontro entre mãe adotiva e biológica ao lado de Saroo, com uma plateia de vizinhos a fazer o papel de coro. See-Saw Films/Screen Australia/Aquarius Film para The Weinstein Co. 118 minutos.

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