Filme do Dia: Agenda Secreta (1990), Ken Loach
Agenda Secreta (Hidden Agenda, Reino Unido, 1990). Direção: Ken Loach. Rot. Original: Jim Allen. Fotografia: Clive Tickner. Música: Stewart Copeland. Montagem: Jonathan Morris. Dir. de arte: Martin Johnson & Nigel Phelps. Figurinos: Dalphe Dare. Com: Francês McDormand, Brian Cox, Brad Dourif, Mai Zetterling, Bernard Archard, Maureen Bell, Bernard Bloch, Stephen Bridgen, Victoria D´Angelo.
Reconhecido internacionalmente como
advogado ligado as preocupações com os direitos humanos, Paul Sullivan
(Dourif), se prepara para abandonar a Irlanda, onde investiga ações pouco
transparentes do exército britânico e retornar aos EUA com sua namorada Ingrid
Jessner (McDormand), quando decide ir ao encontro de um membro do IRA e ambos são
mortos pelo exército britânico, gerando grande repercussão. Disposta a elucidar
o caso, Ingrid passa a confiar no investigador independente nomeado para o
caso, o também americano Brian Cox (Kerrigan). Buscando se distanciar de
qualquer envolvimento com o apoio britânico, considerado altamente suspeito,
Cox encontra-se com um ex-agente do
exército britânico que lhe apresenta toda uma situação bem maior, apresentando-lhe
uma conspiração da qual fazem parte eminentes políticos e cujo objetivo final
fora desestabilizar a ascensão do Partido Trabalhista e facilitar a subida ao
poder de Margaret Thatcher. Cox se encontra com um dos figurões envolvidos, Sir
Robert Neil (Archard), que o dissuade, com motivos convincentes, de continuar a
operação, tanto por afirmar que a cópia da fita que o membro do IRA pretende
lhe passar não tem valor legal como por se encontra com várias fotos de seu
encontro secreto com o terrorista
irlandês e com Jessner. Cox manda um bilhete para Jessner afirmando que
desistiu do caso e essa, revoltada, vai se encontrar com o agente do IRA que,
pouco após lhe passar a cópia da fita, é preso e assassinado. No aeroporto,
Ingrid encontra Cox e tenta motiva-lo para permanecer no caso sem sucesso.
Mais uma vez Loach faz um brilhante uso
de estratégias do cinema de gênero convencional (no caso aqui dos filmes de
espionagem e suspense) para recriar, com extrema tensão, um tema pouco explorado
pelo cinema inglês: a legalidade independente de seu serviço secreto que, sob a
rubrica de “confidencial”, acoberta toda sorte de torturas, assassinatos e
ações ilegais. Como pano de fundo dos constantes deslocamentos de carros dos
protagonistas são apresentados, a todo momento, símbolos e ações dessa “guerra
particular”, sejam os murais católicos nas paredes das igrejas, crucifixos ou
constantes ações de guerra do exército britânico na sua pretensa repressão ao
terrorismo. O final acaba sendo um anti-clímax para quem esperava todos os
conflitos solucionados e a justiça prevalecendo sobre a corrupção política e
institucional. Independente da pertinaz questão sobre o tratamento ortodoxo de
temas políticos levar ao subjugamento desses às convencionais expectativas
típicas a qualquer filme de gênero, principalmente quando não se tem
conhecimento das particularidades que a situação política apresenta, discussão
já presente quanto aos filmes de Costa-Gravas, o filme é mais um resultado bem
conseguido das preocupações políticas de Loach, que o tornam um cineasta à
parte no panorama europeu contemporâneo. Por outro lado, sua estratégia
consciente por se mover nas convenções de gênero lhe permite uma penetração
junto ao grande público bem mais eficiente que cineastas mais experimentais.
Inspirado em um fato real. Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Initial. 108
minutos.
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