Filme do Dia: A Vida de Jesus (1997), Bruno Dumont
A Vida de Jesus (La Vié de Jesus, França, 1997). Direção e Rot. Original: Bruno
Dumont. Fotografia: Philippe Van Leeuw. Música: Richard Cuvillier. Montagem:
Pierre Choukroun, Yves Deschamps & Guy Lecorne. Dir. de arte: Frédérique
Suchet. Figurinos: Nathalie Raoul & Isabelle Sanchez. Com: David Douche,
Marjorie Cottreel, Kader Chaatouf, Sébastien Delbaere, Samuel Boidin, Steve
Smagghe, Sébastien Bailleul, Geneviève Cottreel.
Em um vilarejo provinciano do Nordeste
francês, o jovem Freddy (Douche), vê-se oprimido diante de situações tão
adversas quanto o desemprego, a epilepsia e o igualmente pouco esperançoso
horizonte de seu círculo de amizades, além de uma namorada Marie (Marjorie
Cottreel) pouco dada a expressar grandemente sua afetividade e uma mãe (Geneviève Cottreel) que sempre lhe cobra uma
posição mais firme na vida. A situação apenas piora com a morte de um dos
amigos de AIDS e o desprezo de Marie, após ter participado em um episódio
coletivo de bolinação de uma garota no colégio. Marie, por sua vez, vai se
aproximar justamente do árabe Kader (Chaatouf), uma espécie de bode expiatório
para todas as frustrações de grupo. Essa atitude é a gota d´água para deflagrar
a violência do grupo, particularmente de Freddy, que acabam por provocar a
morte de Kader.
Muita da força desse filme sombrio e
pessimista é proveniente de uma relativamente sofisticada – mesmo que
paradoxalmente simples – estratégia que vai desde a utilização de atores
amadores até uma recusa ao sentimentalismo. Douche encarna o melancólico jovem
protagonista com admirável precisão tanto na dificuldade de expressar emoção
quanto na composição de um tipo emocionalmente bastante sofrido e ressentido,
envelhecido precocemente. Por outro lado, sua recusa ao sentimentalismo, o
distanciamento entre o narrador e o que é narrado e sua construção da atmosfera
provinciana e pouco eloqüente onde se encontra o grupo – as descrições dos atos
sexuais entre Freddy e sua namorada são mais clínicas que propriamente afetiva
ou eróticas, por exemplo – são evocativos tanto de um certo pessimismo
associado com baixo auto-estima como em Mouchette,
de Bresson (ainda que sem a possibilidade de pensar uma redenção transcendental
através da morte), cada vez mais sufocante, quanto da frustação coletiva de um
grupo pouco instruído que se volta barbaramente contra o elemento estrangeiro,
como O Machão, de Fassbinder, ainda
que aqui filtrado sob uma chave mais naturalista que abertamente encenada como
no cineasta alemão. O resultado final busca e, em grande parte consegue, traçar
um perfil do agressor como mais vítima que a própria vítima. Nesse sentido,
encontra-se menos preocupado em uma apressada condenação moral de seu
protagonista que em compreender as “motivações psicosociais” que o levaram a
empreender a violência final. Filme de estréia de Dumont. 3b
Productions/Norfilm/C.R.R.A.V/CNC/Ministère de la Culture de la Republique Française/Canal
+/Procirep/Fondation GAN pour le Cinema/Région Nord-Pas-de-Calais. 96 minutos.
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