Filme do Dia: Kes (1969), Ken Loach
Kes (Reino Unido, 1969). Direção:
Ken Loach. Rot. Adaptado: Ken Loach & Tony Garnett, baseado no romance A Kestrel for a Knave, de Barry Hines. Fotografia:
Chris Menges. Música: John Cameron. Montagem:
Roy Watts. Dir. de arte: William McCrow. Figurinos: Daphne Dare. Com: David
Bradley, Freddie Fletcher, Lynne Perrie, Colin Welland, Brian Glover, Bob
Bowes, Robert Naylor.
O adolescente Billy Casper (Bradley)
é vítima de chacota de todos seus colegas na escola, além de trabalhar como
entregador de jornais e suportar os maus tratos do irmão mais velho Jud
(Fletcher). Estudando em escola pública e proveniente de uma família de baixa
renda, Billy se refugia em seu próprio mundo, onde treina o falcão que chama
Kes. É atormentado pelo professor de futebol, Sugden (Glover) que o obriga a
tomar banho gelado e briga com Macdowell (Naylor), colega de turma mais velho,
que xingara sua mãe (Perrie), conhecida pelos namoros nos bares da cidade.
Habitualmente disperso e pouco preocupado com o futuro – mal vê a hora de
abandonar a entrevista com o inspetor que redige sua ficha para encaminhá-lo ao
mercado de trabalho – Casper vive um fugaz momento de glória na sala de aula do
professor de inglês, Farthing (Welland), quando descreve como treinara o
falcão. Porém, ao não apostar o dinheiro do irmão Jud no azarão da corrida de
cavalos, encontrará Kes morto ao chegar em casa, provocando mais um tumulto
familiar.
Indispensáveis para a eficácia do
filme, pungente, ainda que longe de sentimental, é o tom quase antropológico
que descreve os costumes da classe média baixa inglesa e a vigorosa e sutil
interpretação do jovem Bradley, de carreira bissexta no cinema. A empatia pelo
protagonista e o tema recorrente em toda a obra de Loach, das aspirações de
membros das classes populares que são destruídas pelo ambiente social
contrário, já se encontra presente em seu primeiro filme para o cinema, ainda
que aqui seu estilo habitualmente seco de realismo abra espaço para imagens de
um lirismo muitas vezes ausente de sua produção posterior. Igualmente
interessante é o paralelo entre o comportamento da própria ave, anti-social,
independente e altiva e o protagonista que, mesmo tendo dificuldade de inserção
social e vivendo em uma família conturbada, não deixa de defender enfaticamente
sua dignidade e o seu interesse pelo treinamento da ave como forma de
afirmar-se, mesmo que precariamente, frente a todos aqueles que não acreditavam
em sua potencialidade. Herdeiro do realismo social de filmes como A Solidão de uma Corrida sem Fim
(1962), de Tony Richardson, por sua vez seria grandemente influenciador de toda
uma geração de cineastas britânicos posteriores. Kestrel
Films/Woodfall Film Productions. 109 minutos.
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