O Dicionário Biográfico de Cinema#193: Joan Bennett
Joan Bennett (1910-1990), Palisades, Nova Jersey
A filha do ator Richard Bennett e irmã caçula da atriz Constance Bennett, Joan foi educada em Connecticut e Paris. Aos 16, fugiu com um milionário e teve uma criança - exatamente à mesma época que Constance fugiu com um milionário. Após um breve casamento e divórcio, trabalhou como extra em The Divine Lady [A Dama Divina] (29, Frank LLoyd). Seu pai então a ajudou a ter um papel maior em Bulldog Drummond [Amante de Emoções] (29, E. Richard Jones) e rapidamente se tornou uma estrela romântica loura. Na verdade, fez mais de quarenta filmes, antes de chegar aos papéis pelos quais é justamente lembrada. A loura, nos anos prévios a Walter Wanger, que a viu em Disraeli (29, Alfred E. Green) com George Arliss; em Moby Dick (30), de Lloyd Bacon; Maybe, It's Love (30), de Wellman; Doctor's Wives (31), de Borzage; She Wanted a Millionaire [Ela Queria um Milionário] (32, John Blystone); Wild Girl [Mulher Indomável] (32) e Me and My Gal [Eu e Minha Pequena] (32), ambos para Raoul Walsh; uma recatada Amy em Little Women [As Quatro Irmãs]. Por esta época encontrou Wanger e assinou um contrato com ele. Seu talento para a comédia se aperfeiçoou em The Pursuit of Happiness [O Direito à Felicidade] (34, Alexander Hall); Mississippi (35, Edward Sutherland); She Couldn't Take It [A Dança dos Ricos] (35, Tay Garnett); e The Man Who Broke the Bank at Monte Carlo [O Homem que Desbancou Monte Carlo] (35, Stephen Roberts). Em 1936 ela fez Thirteen Hours by Air [Treze Horas no Ar] para Mitchell Leisen e Big Brown Eyes [Olhos Castanhos] para Walsh, e em 1937 Wanger a exibiu em Vogues of 1938 [Vagas de Nova York] (Irving Cummings).
Foi somente em 1938, em um thriller romântico de Tay Garnett, Trade Winds [Os Segredos de um D. Juan], que mudou de loura à morena. E é digno de nota que Constance foi loura e que Joan somente floresceu quando sua irmã entrou em declínio. Após Artists and Models Abroad [No Turbilhão Parisiense] (38), com Jack Benny para Leisen, teve um alvoroço por dramas de época, com Louis Hayward, incluindo The Man in the Iron Mask [O Homem da Máscara de Ferro] (39, James Whale) e Son of Monte Cristo [O Filho de Monte Cristo] (40, Rowland V. Lee). Mas depois de Housekeeper's Daughter [Criada para Amar] (39, Hal Roach) e Green Hell [Inferno Verde] (40, Whale), divorciou-se de seu segundo marido e fez The House Across the Bay [Amada por Três] (40, Archie L. Mayo) para Wanger. Ela casaria com ele no ano seguinte e entraria em seu período mais rico como atriz: primeiro em The Man I Married [Casei-me com um Nazista] (41, Pichel) e então, crucialmente, em Man Hunt [O Homem Que Quis Matar Hitler] (41), de Lang. Interpretando uma azeda londrina neste filme, revelou uma específica e sentimental grosseria que nunca emergira antes. Então fez Wild Geese Calling [Vidas Sem Rumo] (41, John Brahm); Confirm or Deny [Correspondente Especial] (41), um projeto de Lang assumido por Mayo; e Margin for Error [Um Pequeno Erro] (43), um dos filmes que Otto Preminger escolheu renegar. Em 1944, foi a mulher na janela (*) de Fritz Lang, em Um Retrato de Mulher, envolvendo Edward G. Robinson em um sonho e então, em 1946, foi brilhante como Lazy-Legs, que novamente trouxe desastre a Robinson, em Scarlet Street [Almas Perversas]; enquanto em Um Retrato de Mulher ela é sedutora, em Almas Perversas é casualmente corrupta e carinhosamente vulgar. Não surpreendentemente, é uma performance continental e um filme que parece ter muito pouco a ver com a América, e seu roteiro honesto da sensualidade somente faz seu lugar como a deusa do amor oficial de 1946 parecer reservado.
Ela foi a garota de Nob Hill [Beijos Roubados] (45), descendo o nível com George Raft para Hathaway; em Colonel Effingham's Raid [O Velho Aborrecido] (46) para Pichel; e a esposa dupla de Hemingway em The Macomber Affair [Covardia] (47), de Zoltan Korda, antes de um surpreendente "trio" de filmes europeus nos Estados Unidos, que a garota loira dos anos 30 jamais teria sonhado: The Woman on the Beach [Mulher Desejada] (47, Jean Renoir); The Secret Beyond the Door [O Segredo da Porta Fechada] (48, Lang); e The Reckless Moment [Na Teia do Destino] (49, Max Ophüls) - os últimos dois produzidos por seu marido. A seguir, teve um grande sucesso popular, como a mãe e avó ideal em Father of the Bride [O Papai da Noiva] (50) e Father's Little Dividend [O Netinho do Papai] (51), de Minnelli. Mas, tal benção doméstica foi desfeita quando Wanger se sentiu compelido a atirar contra o agente da esposa, Jennings Lang. Foi preso brevemente e estaria novamente com Joan em 1953.
Ela nunca estrelaria novamente um bom filme e, enquanto se encontrava em turnê de diversas peças, fez: The Guy Who Came Back [O Último Jogo] (51, Joseph M. Newman); Highway Dragnet [Consciência Culpada] (54, Nathan Juran); We're No Angels [Não Somos Anjos] (55, Michael Curtiz); There's Always Tomorrow [Chamas Que Não se Apagam], de Sirk (56); e então Desire in the Dust [Ecos do Passado] (60, William Claxton). Em meados dos anos 60 parecia ter se aposentado, mas quando Wanger morreu, em 1968, ingressou numa série de TV, Dark Shadows [Sombras Tenebrosas], que em 1970 virou um filme desnecessário. Em 1976, interpretou a diretora do colégio em Suspiria (Dario Argento), e apareceu em dois filmes para TV: This House Possessed (81, William Wiard) e Divorce Wars: A Love Story [Guerras do Divórcio] (82, Donald Wrye).
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 221-23.
(*) N. do E: Thomson faz um trocadilho com o título original do filme de Lang, mantido (ainda que não diretamente, já que a versão brasileira não é fiel) na tradução.
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