Filme do Dia: A Revolução dos Bichos (1954), Joy Batchelor & John Halas

 


A Revolução dos Bichos (Animal Farm, Reino Unido, 1954). Direção: Joy Batchelor & John Halas. Rot. Adaptado: Lothar Wolff, Borden Mace, Phillip Stapp, John Halas & Joy Batchelor, a partir do romance de George Orwell. Fotografia: Matyas Seiber.

Animais cansados das sevícias sofridas por seu patrão, resolvem expulsá-lo da fazenda e gerir os próprios negócios da mesma. Os porcos acabam se destacando no movimento “revolucionário”, tendo sido seu mentor um idoso porco que morre antes de ver o levante posto em prática. O líder que se segue, Bola de Neve, organiza uma estrutura de trabalho, mas parece demasiado fraco aos olhos de Napoleão, sedento pelo poder. Fazendo uso dos cães para assassinar Bola de Neve, Napoleão toma o poder e instaura um regime de trabalho e exploração não muito diferenciado daquela vivido em tempos pré-revolucionários. Os animais se unem para se defenderem das ocasionais tentativas de retomar a fazenda por parte dos humanos, mas cansados da exploração e dos negócios excusos dos porcos com os humanos, para favorecimento próprio, reagem coletivamente, após terem conseguido neutralizar a força policial canina, pondo fim a opressão.

Essa adaptação da célebre obra de Orwell que se tornou o segundo longa de animação britânico, e o primeiro de cunho ficcional,  é ao mesmo tempo ousada para os padrões de seu gênero então, ao abordar uma temática grandemente adulta, mesmo fazendo uso de traços e narrativa convencionais e bastante uso da voz over e um tanto quanto antenada da batalha ideológica vivenciados então pela Guerra Fria. Assim, a leitura fabular apresentada por Orwell serve praticamente como modelo restritivo para uma caricatura do regime totalitário soviético, sendo as marcas de monumentalização da figura do ditador uma evidente alusão a Stálin. Enquanto no romance de Orwell a questão do poder parece algo imanente à própria dimensão humana, aqui demonstra ser simplesmente afastada a partir da escolha da opção política “correta”. Dentro dessa moldura simplificadora, os personagens de Bola de Neve e Napoleão são retratados de forma talvez demasiado maniqueísta em seu antagonismo. Mesmo que a filmografia posterior da dupla de realizadores tenha enveredado por uma produção de curtas didáticos relacionados a questões de saúde e não propriamente ideológicos, a leitura aqui apresentada é demasiado restritiva e seu final possui uma dimensão apaziguadora e catártica inexistente no romance. Algo que pode se encontrar associado a encontrar agências de inteligência norte-americanas dentre as fontes de financiamento dessa produção. Halas & Batchelor Cartoon Films para Associated British-Pathé. 72 minutos.

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