Filme do Dia: O Conto das Três Irmãs (2019), Emin Alper

 

O Conto das Três Irmãs (Kis Kardeler, Turquia/Alemanha/Holanda/Grécia, 2019). Direção e Rot. Original: Emin Alper. Fotografia: Emre Erkmen. Música: Giorgos Papaioannou & Nikos Papaioannou. Montagem: Cicek Kahraman. Dir. de arte: Ismail Durmaz & Osman Cankirilli. Figurinos: Alceste Tosca Wegner. Com: Cemre Ebuzziya, Ece Yüksel, Helin Kandemir, Müfit Kayacan, Kayhan Açikgöz, Kubilay Tunçer.

Sevket (Kayacan) possui três filhas e perdeu recentemente a esposa. Uma delas, Nurhan (Yüksel), foi trazida de volta por Necati (Tunçer), por negligenciar suas obrigações domésticas. Reyhan (Ebuzziya), a primogênita, é casada com o indolente e um tanto aparvalhado pastor Veysel (Açikgöz), tendo um filho pequeno cujo pai não é ele. A mais jovem é Havva (Kandemir), também a mais instruída, que consegue ler e escrever e tem hábitos de higiene mais exigentes que os praticados na residência. Necati resolve passar mais tempo na propriedade de Sevket, que o mima com comidas e bebidas feitas pelas filhas. Quando Veysel decide se unir ao grupo exclusivamente masculino e passa a implorar trabalho no posto de Necati, uma situação de tensão se inicia e ele é expulso do grupo. Ainda sob efeito do álcool, Necati acha que foi injusto com Veysel, porém quando se apresenta propício a lhe oferecer algo, reencontra-o e a situação piora ainda mais. Transtornado após tantas humilhações, Veysel provoca uma tragédia. A situação de saúde de Nurhan piora. Após meses desaparecido, Veysel volta a encontrar Reyhan, que afirma se encontrar grávida de um filho seu, mas que pretende abortá-lo em Ancara.

As locações fotográficas, a iluminação e a própria fotografia não ficam tão distantes da de seu conterrâneo mais conhecido, Nuri Bilge Ceylan. A Anatólia tampouco. E o trabalho dos atores idem. E até mesmo os pendores de se namorar com Tchecov, mas também aqui com os Irmãos Grimm.  Porém, há algo de mais trivial e mais colado estritamente aos eventos narrativos que àquele. O que não necessariamente o desabona. E de se tratar de moradores de uma região aparentemente um tanto inóspita das montanhas consegue ser a senha para uma abordagem de modos ainda marcados por um patriarcalismo tradicional, mas com mulheres que conseguem dar conta de si e mesmo se impor aos homens – há, inclusive, uma cena de uma espécie de estupro às avessas do casal Reyhan e Veysel, com ela muito consciente e objetiva sobre o que quer do momento, ao contrário dele. E também muito pouco marcados pelos meios midiáticos e eletrônicos, e sua inescapável hibridez com à cultura tradicional mesmo em comunidades mais remotas, mas que contando com energia elétrica. Aqui, esse outro mundo se resume ao citadino, sonhado por Veysel. Assim como pelas irmãs. Todos loucos por qualquer posição mais secundária possível que seja junto a homens afluentes da cidade como Necati, para abandonar a rude lida com o trabalho no campo. Há também uma franqueza ou abordagem direta maior na temática vinculada ao sexo que em Ceylan, como no momento em que as duas irmãs mais velhas discutem mais abertamente sobre o sexo, uma delas enojada das poucas vezes que viu um pênis ereto. E o fato do elenco se encontrar longe de próximo das personagens que representam, ao contrário de alguns dos mais célebres personagens neorrealistas, tampouco é problema. Antes uma convenção. Que tende a ganhar talvez para os propósitos dramáticos de seu realizador. Porém, dito isso, há também soluções meio óbvias, que são apresentadas em registro não menos. Como é conversa dramática franca entre Reyhan e Havva. Terceiro longa do realizador. Dividido em dois momentos por um plano em que o carro de Necati se afasta de propriedade, sendo que em ambos impera a compressão temporal – no caso do primeiro não mais que algumas horas entre um dia e a manhã seguinte e no segundo, embora a impressão seja de que exista uma maior passagem de tempo, não parece muito diverso. Quando se houve da boca de Sveket o desejo de contar a história das três filhas ingratas, evidente referência ao conto dos irmãos Grimm, fica-se  com as inúmeras tentativas de fazer com que essas estejam dispostas a ouvi-lo que propriamente com a históra que foi uma das que serviu de base para a que estamos assistindo. Circe Films/Horsefly Prod./Komplizen Film/Liman Film/Nulook Prod.  108 minutos.