Filme do Dia: The Blacksmith's Love (1911), Francis Boggs
The Blacksmith’s Love (EUA, 1911). Direção e Rot.Orginal: Francis Boggs. Com: Tom Santschi, Herbert Rawlinson, Eugenie Besserer, Frank Richardson, Frank Clark, Fred Huntley, Anna Dodge.
Inicia a Guerra
da Secessão. Mace Brewer (Rawlinson) parte para a guerra, deixando sua jovem esposa
Mary (Besserer) sozinha. Seu amigo, Joe Saunders (Santschi) também faz o mesmo
com sua velha mãe (Dodge). Após a última batalha sangrenta, Joe encontra Mace
aparentemente morto e conta para sua mãe. Ele, no entanto, encontra-se em
estado de catatonia após o choque traumático da experiência da guerra e da
proximidade da morte. Após a missa de um ano de luto pela perda de Mace, Joe
Saunders pede a mão de Mary em casamento e é prontamente aceito. O casal vive
feliz até que um recuperado Mace volta a surgir repentinamente. Mary opta pelo
que acredita ser o certo, voltando ao marido que inicialmente casara, para a
tristeza e desilusão de Joe.
Embora capturados
em ângulo diversos, esse filme inicia com um plano americano de dois
personagens, habitualmente casais como aqui, como muito comum na produção da
Vitagraph. A passagem do tempo, ressaltada pelas cartelas, vem a demarcar a
virtude das personagens e do respeito ao pretenso luto da heroína. E,
curiosamente, somos forçados a jogar fora nossa primeira hipótese, de que o
filme simplesmente faria uso do malentendido a respeito da morte de Mace como
forma de trazer uma surpresa sem conflitos para sua família. Pelo contrário,
ele aposta mais uma vez na triangulação amorosa que toma os mais diversos
feitios na produção da época, obedecendo somente o princípio de dois homens e
uma mulher em jogo. Por que o jovem aparentemente recuperado do trauma psíquico
vivenciado não dá notícias a sua família nesse ínterim é um mistério
insondável. O filme, evidentemente, flerta de forma perspicaz com a fantasia da
esposa que fica com o melhor amigo do marido, assim como do involuntário
bigamismo. À incorporação do sofrimento
na figura feminina, na patética cena final, em que os dois homens se encontram
em posições invertidas e simétricas diante da câmera, é atenuada pela
compreensão de quem sai perdendo mais que todos nessa história toda. E o casal
original abandona o recinto, não sem um último frêmito e quase desmaio da
heroína. Ao derrotado, resta ser consolado pela mãe, que parece que continuará
sendo a figura feminina de referência em sua vida. Consegue lidar melhor com a
longa temporalidade comprimida em tão pouco tempo de forma melhor que muitos
dos filmes de Griffith, sendo talvez passível de comparação com O Mar Imutável, desse realizador,
realizado um ano antes e com um arco temporal ainda bem mais vasto no
reencontro entre marido e mulher. Destaque para uma personagem de mulher de
mais idade bem mais verossímil do que as produções contemporâneas habitualmente
utilizam, fazendo uso de patéticas perucas brancas em atrizes visivelmente bem
mais jovens que as personagens que erncarnam (como é o caso de The Trail of Cards dentre tantos
outros). E, mais que isso, para algumas opções bem interessantes de representar
os eventos que, guardadas as devidas proporções, poderiam bem ser antecipadoras
de uma poética panteísta a la Dovjenko, como a timidez de Joe ao fazer o pedido
de união para Mary através de um bilhete – propiciando ao mesmo tempo a chance
de não deixar nenhuma ambiguidade sobre o que se trata e sem precisar da
intervenção mais direta do narrador através de cartelas – e correndo para se
esconder em meio ao mato e pedindo que se ela concordasse acendesse a luz de seu quarto, opção igualmente que o
personagem encontra para se esquivar de uma possível recusa direta que lhe
seria demasiado embaraçosa. Integrante da Coleção Jean Desmett. Selig Polyscope Co. para General Film Co. 15
minutos e 43 segundos.
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