Filme do Dia: A Pequena Vendedora de Fósforos (1928), Jean Renoir & Jean Tédesco
A Pequena Vendedora de Fosfóros (La Petite Marchand d´Allumettes, França,
1928). Direção: Jean Renoir & Jean Tédesco.
Rot. Adaptado: Jean Renoir, baseado
no conto de Hans Christian Andersen. Fotografia: Jean Bachelet. Dir. de
arte: Erik Aaes. Com: Catherine Hessling, Manuel Raaby, Jean Storm, Amy Wells.
Jovem e pobre vendedora de cigarros
(Hessling) sai numa noite de nevasca forte e não consegue vender uma unidade
sequer. Atormentada por crianças, acaba buscando refúgio na ilusão de uma
vitrine de loja. Sonha com um mundo fantástico de manequins de loja que se
movimentam e cavalos que voam e vem a morrer no sono, sendo encontrada na manhã
seguinte.
Renoir realizou uma poética e
inusitada incursão ao universo de Andersen. Um dos detalhes mais interessantes
do filme é o fato do mundo “real” do qual surge a jovem costureirinha ser uma
evidente maquete em estúdio, sugerindo a fantasia que se esconde por trás do
que é descrito como “realidade” no filme
– e, indo um pouco mais longe, que a própria realidade é apenas uma fantasia em
grau distinto do sonho. De todo modo, Renoir conseguiu um efeito de irrealidade
mesmo em seu mundo real, com os atores se movendo por vezes tais como títeres,
o que mais uma vez não os distancia tanto assim do universo de sonho, sendo que
os elementos de vigília são fundamentais para o sonho da heroína tal como
pensado por Freud em seu A Interpretação
dos Sonhos. Esse filme de Renoir soa não apenas idiossincrático em relação
à sua carreira como igualmente ao próprio cinema produzido então. Mesmo que
possa ser inserido no contexto dos filmes de “fantasia” não pouco comuns, sua
aproximação visual de elementos vanguardistas e o desprezo por uma lógica
dramática convencional o afastam do cinema clássico, enquanto por outro lado
certas convenções de filmes de gênero e uma maior presença da narrativa o
distanciam dos filmes de vanguarda. É interessante o quanto Renoir mantém o
clima melancólico habitual da literatura de Andersen, ao contrário da maior
parte de adaptações inspiradas em sua obra pelo cinema, notadamente as de
Disney. Uma filha de Joyce faz uma pequena ponta não creditada dançando com um
soldadinho de chumbo. Sua versão original conta com dez minutos adicionais. 30
minutos.
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