Filme do Dia: A História Não Contada dos Estados Unidos - A Bomba (2012), Oliver Stone
A História Não
Contada dos Estados Unidos – A Bomba (The Untold History of United States. Chapter 3: The Bomb, EUA, 2012). Direção Oliver
Stone. Rot. Original Matt Graham, Peter Kuznick & Oliver Stone. Música Adam Peters.
Montagem Alex Márquez.
Inicia com as
chocantes manifestações – inclusive de personalidades públicas, a começar pelo
presidente Truman – de racismo aberto contra os japoneses, geradas em sua maior
parte pela trauma junto aos norte-americanos representado pelo ataque à base de
Pearl Harbour. Os ataques aéreos – e Roosevelt advocava por não se utilizar de
diligências bárbaras como atacar grandes cidades – já haviam se tornado lugar
comum sobre as grandes metrópoles europeias e asiáticas (Madri, Xangai,
Barcelona, Londres, Berlim, Moscou, Leningrado, etc.). Faz uso mais intenso e
diversificado de filmes ficcionais. Iwo Jima – O Portal da Glória,
retratando a agressividade dos combates e baixas americanas no Pacífico (até o
herói John Wayne é ferido a tiro) e Gregory Peck discursando para seus
aviadores sobre ser melhor já se considerarem mortos, esquecerem a casa em Almas
em Chamas, em paralelo aos preceitos de um oficial britânico que incitara
corte marcial para os pilotos fugidos do combate. Ambas as produções são de
quatro anos após o fim da guerra. E também Nicholas e Alexandra (1971),
quando se refere ao temor dos japoneses de ter sua família real, tido o imperador
como divindade, massacrada pelos soviéticos tal como já haviam realizado com o
seu próprio tzar e sua família. Assim como a série de TV Truman, no qual
o presidente é vivido pelo ator Gary Sinise.
Aqui, ao contrário das imagens ficcionais habitualmente utilizadas pela
série como ilustração de tópicos comentados pelo narrador, Stone acusa uma
leitura mistificada do personagem-título. O ponto de vista soviético é
ignorado, e Walace e Jimmy Byrnes, “cancelados”. As cidades alemãs (Hamburgo,
Dresden – cidade de inestimável valor histórico) sofreram fortes e
indiscriminados bombardeios aéreos, em 1943, iniciando uma nova guerra, mais
sanguinolenta e destrutiva. Quando não havia o que ser destruído na Alemanha,
os bombardeios sobre Tóquio, uma cidade então maciçamente erigida em papel e
madeira, provocou mais de 100 mil mortos. 155 projetistas e engenheiros
atômicos assinaram um pedido de não uso do artefato para Truman, embora a
carta-abaixo-assinado nunca tenha chegado em suas mãos. Em maio os japoneses tentaram
negociar com os soviéticos sua exclusão da Guerra do Pacífico e uma negociação
em melhores termos com os americanos. O próprio secretário de defesa
norte-americano era contrário ao uso da bomba atômica, enquanto Truman retrucou
a respeito dele entregar o cargo, se assim o desejasse. Seis de sete oficiais
do alto comando norte-americano achavam moralmente reprovável o uso da bomba.
Kyoto, capital do Japão Imperial e cidade histórica, foi descartada e se
escolheu Hiroxima, cidade até então preservada dos bombardeios aéreos. Se
alguns dos pontos questionáveis, passíveis de serem vistos como uma invenção
demasiado enfática ou narrativa (para ficar em um termo usado e abusado) sobre
os bombardeamentos de Hiroxima e Nagasaki, de terem sido os responsáveis pelo
final da guerra e de terem poupado centenas de milhares de mortos
norte-americanos, reproduzidos muitas décadas após por George Bush, outros
foram praticamente apagados da história, varridos para baixo do tapete, como a
invasão soviética ao país, que teria causado mais mortes que as duas bombas
atômicas juntas, sendo o elemento fundamental para a rendição do Japão,
temeroso de ter parte de seu território de influência (Mandchuria, Coreia)
apoderado pelos vermelhos. É a grande “surpresa” trazida pelo documentário em
relação aos seus congêneres, no qual o protagonismo americano reina absoluto. E
embora Stone só o explicite diretamente ao final, um exercício nada difícil de
ser feito é o de se imaginar caso Wallace houvesse ganho a indicação de
vice-presidente e se tornado o sucessor de Roosevelt, os fatos teriam sido
idênticos, ainda bem antes que o próprio realizador se indague. Ele é a então
exponencial figura pública americana revivida pelo documentário. Vice de
Roosevelt e membro do governo Truman até que suas divergências com relação à
política hostil a União Soviética o fariam renunciar ao seu cargo (observamos
imagens de um ator, inclusive jogando a carta de renúncia com certo ímpeto
ressentido após a leitura). Tentaria uma vaga à presidente na eleição seguinte
pelo Partido Progressista, não tendo mais que 3% dos votos, abandonando a vida
política. Era um pacifista em tempos de ascensão – aparentemente irresistível -
da Guerra Fria e foi acusado de simpatias comunistas por Truman e pela
imprensa. E Stone o vincula diretamente ao porte de estadistas como Roosevelt
que, à guisa de amenizar o que acredita ter sido seu maior erro político, não
se bateu por Wallace, por estar demasiado cansado de lutar por seus ideais e já
avizinhado pela morte. |Secret History. 58 minutos.
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