Filme do Dia: O Tratamento Gua Sha (2001), Zheng Xiaolong

 



O Tratamento Gua Sha (Gua Sha, China, 2001). Direção: Zheng Xiaolong. Rot. Original: Mark Byers. Música: Ye Xiaogang. Dir. de arte: Bob Kirk. Com: Tony Leung, Tamara Tungate, Zhu Xu, Jiang Wenli, Hollis Huston, Stephanie Vogt, Joe Erker, Cat Cacciatore.

Datong (Leung) é um bem sucedido programador de jogos para computador que vive com sua família nos Estados Unidos que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando é acusado de agredir fisicamente seu próprio filho, que passa a ficar sob a custódia do Serviço Social americano. As marcas de possível agressão nas costas do filho são o resultado de um tratamento milenar chinês, o Gua Sha, praticado pelo avô da criança (Xu). Perante à corte, o juiz acaba definindo que a criança fique sob a custódia do Estado, sendo que o próprio advogado de defesa, amigo pessoal de Datong e seu patrão, John Quinlan, fica chocado com as fotos e desiste do caso, para o desespero de Datong e sua esposa Jiang (Wenli). Para piorar, Datong agride fisicamente um promotor, que encenou tudo para incentivá-lo a perder a calma. A vida de Datong ainda fica mais complicado quando o avô, sentindo-se culpado,  decide voltar à China e Datong entra em conflito aberto com Quinlan, pedindo demissão. Sua nova advogada de defesa, decide que eles devem se separar formalmente, para que exista uma remota chance do juiz pedir um novo julgamento. Na noite de natal, enquanto Datong arrisca a própria vida para subir no apartamento de sua família pela calha do prédio, a funcionária do serviço social, juntamente com o ex-patrão de Datong, confirma ser Gua Sha  um tratamento que, apesar das aparências, não provoca nenhuma dor e conseguem que o juiz volte atrás em sua decisão.

Bebendo na fonte do melodrama clássico americano ao modo de Griffith, Xiaolong acaba repetindo todos os cacoetes e a moralidade já presentes no mestre do cinema americano, com direito ao tradicional final catártico e completamente inverossímil, em que o mesmo Gua Sha que motivara todo o conflito, é solução para sua superação. Ainda que consiga trabalhar de forma até original  que desentendimentos e julgamentos apressados podem ter como raízes à falta de conhecimento de outras culturas, o resultado final é grandemente prejudicado por sua estrutura melodramática bastante simplória, calcada na percepção que o espectador sabe que o protagonista está sendo acusado injustamente de algo que não fez. Unindo-se tal fato ao sentimentalismo mais manipulativo e clichês desgastados, como a quase queda final do protagonista em sua escalada do prédio e o fato de todos os americanos falarem em chinês, dublando-os. Para não falar em certos furos graves do roteiro, como o espancamento digno de assassinato que Datong realiza em um ladrão que lhe havia roubado o presente de seu filho, que simplesmente é esquecido na seqüência de fatos felizes que se sucedem. As relações com os Estados Unidos, são outra das obsessões recorrentes na produção chinesa da época, aparecendo posições que vão desde um anti-americanismo radical sob as hostes do próprio Estado, como na produção de propaganda O Nascimento da Glória, até críticas mais nuançadas como essa que, destacam  o etnocentrismo americano como um dos  poucos obstáculos em uma terra que possibilita a figura do selfmade man típico, como o protagonista. A atriz Jiang Wenli é a musa da produção dos estúdios baseados em Beijing, trabalhando em diversas produções, como as dirigidas por Qi Jian. Beijing Forbbiden City Film. 100 minutos.

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