Filme do Dia: Amarilly of Clothes-Line Alley (1918), Marshall Neilan
Amarilly of Clothes-Line Alley (EUA, 1918). Direção: Marshall Neilan. Rot. Adaptado: Frances Marion, baseado no romance de Belle K. Maniates. Fotografia: Walter Stradling. Cenografia: Wilfred Buckland. Com: Mary Pickford, William Scott, Kate Price, Ida Waterman, Norman Kerry, Fred Goodwins, Margaret Landis, Tom Wilson.
Amarilly (Pickford) vive com sua
numerosa família em um cortiço trabalhando em ocupações improvisadas.
Desempregada de seu emprego de faxineira de um teatro, ela é convidada pelo
noivo, Terry McGowen (Scott) para trabalhar no mesmo clube no qual é barman.
Amarilly conhece o janota Gordon (Kerry), que a convida para trabalhar de faxineira
em sua mansão. Ela é utilizada como cobaia pela tia de Gordon, a Sra. David
Phillips (Waterman), afetada socialite, que tenta transformar Amarilly em uma lady,
para confirmar a idéia de que é o meio que modela o caráter e os hábitos de uma
pessoa. Gordon acaba se apaixonando por Amarilly, mas a situação se torna
socialmente constrangedora quando sua tia, propositalmente, convida a popular
mãe de Amarilly (Price) para uma recepção formal na qual são apresentados para
o esnobe meio ao qual Gordon e a tia fazem parte. Humilhados, Amarilly parte
com a mãe e os irmãos, voltando a se encontrar com Terry, mas afastando
polidamente a tentativa de reaproximação de Gordon, que vai a sua casa pedir
desculpas pelo ocorrido na recepção.
O que mais chama a atenção nesse filme
é o eletrizante ritmo com o qual é narrado, numa montagem hiper-dinâmica que
não deixa muito tempo para qualquer pretensão de reflexividade, sobretudo
certamente para o espectador médio de então. A dimensão de crônica de costumes,
mais leve do que o tom habitualmente cinzento com o que semelhante ambiente é
descrito nas produções de Griffith, antecipa a simpatia, os tipos populares –
Kate Price, por exemplo, especializou-se em viver matronas de bom coração e sem
nenhuma educação formal como em O Pequeno Lorde com a mesma Pickford -
e o paternalismo de um Borzage (Sétimo Céu). Píckford, ao contrário das
heroínas de Griffith, vive uma no qual o
bom caráter e a aura virginal estão impregnados de toques de malícia e mesmo
esperteza subliminares, como quando imediatamente volta atrás de seu ex-amor ao
descobrir que “sorvete e pickles não
se misturam”. Aliás a simpatia evidentemente maior que é dispensada ao núcleo
humilde da trama e a dignidade em condições adversas reforçam o lugar social de
cada um ao final e põe por terra a teoria “progressista” da tia. Não faltam
inserções providenciais da figura eclesiástica, também presente no filme de
Borzage, nos momentos certos – como naquele no qual Terry, dispensado por sua
amada, tampouco aceita a opção de apelo fácil de ir com os amigos para um
bordel. Ao contrário de Griffith e também Chaplin, é o ponto de vista feminino
que aqui prepondera – Terry, por exemplo, não passa de um bobo completamente à
mercê dos caprichos de sua amada. O final ainda apresenta o dispensável
episódio do acidente ocorrido com Terry, possibilidade vaga de algo distinto do
esperado, assim como um epilogo no qual se observa a habitual família feliz com
sua prole e algum sucesso econômico diante da situação passada. Os entretítulos
comentam, mesmo bastante esporadicamente, elementos da própria narrativa,
constituindo-se em um charme a mais nesse filme que consegue dar conta do que
pretende. Mary Pickford Co. para Artcraft Pictures Corp. 65 minutos.
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