Filme do Dia: Raskolnikov (1923), Robert Wiene

 


Raskolnikov (Alemanha, 1923). Direção: Robert Wiene. Rot. Adaptado: Robert Wiene, baseado no romance Crime e Castigo de F. Dostoievski. Fotografia: Willy Goldberger. Dir. de arte: Andrej Andrejew. Com: Gregori Chmara, Maria Kryshanovskaya, Elibeta Skulskaja, Alla Tarasova, Andrei Zhilinski, Mikhail Tarkhanov, Mariya Germanova, Pavel Pavlov.

Após escrever uma tese em que defende a possibilidade de um crime, desde que realizado por pessoas extraordinárias, Rashkolnikov (Chmara) acaba assassinando a mulher para quem penhorava seus parcos objetos e sua irmã, que foi visitá-la no momento do crime. Ele se torna cada vez mais interessado em Sonja (Kryshanovskaya), filha de um alcoólatra, Marmeladow (Tarkhanov), que conheceu na mesa de um bar. Ainda que seja o principal suspeito do comissário de polícia, o fato de um outro homem ter confessado o crime, deixa-o livre. Porém a pressão do comissário e, principalmente de Sonja, fazem com que confesse-o.

O filme demonstra que Wiene, ao contrário do que foi bastante alardeado pela crítica, não foi o homem de um único filme. Aqui o expressionismo de seu filme mais célebre (O Gabinete do Dr. Caligari) é evocado, ainda que de forma dispensável, na cenografia tortuosa e anti-realista, mesmo longe do radicalismo cenográfico de Caligari. Os próprios ambientes sombrios em que a ação transcorre já expressariam por si sós a confusão mental do protagonista, vivido com intensidade por Chmara, ator russo, de trânsito internacional (algo só possível, com a mesma flexibilidade, evidentemente, no cinema mudo), que viveria Jesus no filme seguinte de Wiene, A Tragédia do Golgotha, do mesmo ano, e que desde o início de sua carreira também atuou nos Estados Unidos e cujo último filme, por sinal, foi uma versão francesa de Crime e Castigo, em 1971. Ainda que Wiene se disperse em subtemas de menor importância e faça uso de uma carga melodramática excessiva com o decorrer da narrativa, algo admiravelmente contida em seu início, o filme demonstra um retorno a uma proposta mais ambiciosa do que meras derivações mal sucedidas de seu maior sucesso, tais como o fraco Genuine (1920). Destaque para os planos inicial e final, dois closes-ups do atormentado protagonista, sendo que no último ele finalmente parece ceder a sua constante tensão após a confissão. Todo o elenco é soviético. Leonardo-Film/Neumann Filmproduktion. 135 minutos.

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