Filme do Dia: Rumo a Tóquio (1943), Delmer Daves
Rumo a Tóquio (Destination Tokyo, EUA, 1943). Direção:
Delmer Daves. Rot. Adaptado: Delmer Daves & Albert Maltz, baseado no conto
homônimo de Steve Fischer. Fotografia: Bert Glennon. Música: Franz Waxman.
Montagem: Christian Nyby & Vladimir Barjansky. Dir. de arte: Leo K. Kuter.
Cenografia: Walter F. Tilford. Com: Cary Grant, John Garfield, Alan Hale, John
Ridgely, Dane Clark, Warner Anderson, William Prince, Robert Hutton, Tom Tully.
Submarino
americano parte da Baía de San Francisco e, antes mesmo que o comandante saiba,
toda a tripulação já sabe que sua missão secreta é atacar as bases japonesas na
Baía de Tóquio. Com o carismático
Capitão Cassidy (Grant) como
comandante, o grupo enfrenta sua primeira e última baixa quando um
soldado, Mike (Tully), que oferece apoio para um japonês que saltara de seu
avião em chamas, acaba por esfaqueá-lo pelas costas, sendo imediatamente
metralhado após o ato. Três soldados são escolhidos por Cassidy para uma missão em terra japonesa, entre eles
o faroleiro Wolf (Garfield), que adora contar suas aventuras com garotas. A
missão é um sucesso. Ao atingir mais de um navio de guerra japonês, o submarino
chama atenção para si e é alvo dos bombardeios de um navio japonês sofrendo
avarias. Ao mesmo momento a tripulação tem que lidar com a crise de apendicite
de Tommy (Hutton), a mascote de todo o submarino, que é bravamente sanada por um cirurgião
improvisado partir da leitura de um livro de medicina, e com instrumentos
cirúrgicos igualmente improvisados. A única chance que o Comandante aposta de
defesa vem a ser, de última hora, um ataque contra o navio que torpedeia o
submarino, operação de sucesso imediato, que é um passaporte para o retorno
seguro para as águas da Baía de San Francisco.
Um
exercício talvez interessante seria o de comparar essa produção com suas
congêneres realizadas, por exemplo, na Itália. Enquanto a produção italiana
contemporânea jamais alude diretamente aos inimigos externos e raramente faz
menção a eventos vinculados a Segunda Guerra, os americanos não se furtam de
efetivar um filme com mensagens diretamente anti-nipônicas, alimentadas
evidentemente pelo ódio pós-Pearl Harbour. Algumas delas chegam a ser risíveis
em sua moralidade inconsequente. Como é o caso, sobretudo, de um soldado que
comenta que os japoneses tem que sobreviver com o equivalente a 7 dólares por
mês e que muitas de suas crianças tem que ser vendidas por seus próprios pais.
A esse tipo de comentário o Comandante não apenas retruca algo a respeito dos
japoneses não serem capazes de compreender os sentimentos que eles nutrem por
suas esposas e, em tom de profecia, alude à necessidade de um dia os japoneses
também poderem ofertar a seus filhos o skate mais caro do mercado, tal como o
soldado falecido o fizera. A repressão e a censura à informação também são
citadas em tom quase editorialesco. Em outros momentos, a apologia a valores
caros como a família é disseminada em meio a situações ridículas como o
Comandante lembrando a primeira vez que
levara o filho ao barbeiro ou a expectativa de sensacionalismo sexual que ronda
a audição do disco que havia sido encontrado nas cobertas do soldado falecido
ao se escutar uma voz feminina e suas declarações de afeto, rapidamente
substituídas pelo sentimento de vergonha coletivo ao saberem se tratar de uma
gravação da viúva do mesmo. A dimensão furtiva e traidora de um nipônico,
representada pelo único efetivo e efêmero contato entre homens dos dois países,
que é a tentativa de captura do soldado japonês à deriva no mar se soma à
representação já bastante enraizada no imaginário americano dos peles vermelhas, igualmente traiçoeiros e palidamente representados, ainda enquanto figuras de
oposição, nos filmes de faroeste. Longe de conciso em termos de narrativa, o
filme às vezes adentra por subtramas perfeitamente dispensáveis, como a do
soldado com apendicite, talvez buscando angariar uma simpatia nos dramas
individuais que se torne demasiado fria quando restrita ao cenário de guerra.
Como em outros filmes de guerra contemporâneos, inclusive italianos, faz-se uso
de imagens de arquivo de cenas de batalha, ainda que a maior parte seja
reconstruções feitas com maquetes em tanques, estratégia utilizada inclusive no
caso do ataque ao porto de Tóquio. Filme de estréiade Daves. Warner Bros. Pictures. 135 minutos.
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