Filme do Dia: A Dama de Xangai (1947), Orson Welles


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A Dama de Xangai (Lady from Shangai, EUA, 1947). Direção: Orson Welles. Rot. Adaptado: Orson Welles, a partir do romance If I Die Before I Wake, de Sherwood King. Fotografia: Charles Lawton Jr. Música: Heinz Roemheld. Montagem: Viola Lawrence. Dir. de arte: Sturges Carne & Stephen Goosson. Cenografia: Wilbur Menefes & Herman N. Schoebrun. Figurinos: Jean Louis. Com: Rita Hayworth, Orson Welles, Everett Sloane, Glenn Anders, Ted de Corsia, Erskine Sanford, Gus Schilling, Carl Frank.
O marinheiro Michael O’Hara (Welles) se apaixona a primeira vista pela sensual Elsa (Hayworth), que conhece em um passeio no parque. Ela decide contrata-lo para uma misteriosa viagem em seu iate, ao lado de seu inescrupuloso marido portador de deficiência física, Arthur Bannister (Sloane) e de seu parceiro de negócios não mais confiável Grisby (Anders), que planeja a sua própria morte como sendo efetuada por O’Hara, mas sem que ele fosse preso de fato, pois o cadáver jamais seria encontrado. Ele aceita, pois necessita dos 5 mil dólares para fugir com Elsa. Grisby, no entanto, acaba sendo de fato morto e O’Hara vai a julgamento pelo crime.  Considerado como culpado, tem como advogado justamente Bannister. Ele acredita que Bannister pretende incriminá-lo para se safar, pois pensa ser ele o criminoso. Levado por empregados de Elsa para um parque de diversões abandonado, onde também surge Bannister, a verdade surgirá, assim como a morte, em uma sala de espelhos.
Comparado a sua fulgurante primeira metade, onde o mistério se faz regra e mal se atenua o assombro com a beleza de certos planos e composições visuais para se observar outros ainda mais belos, e onde o espectador patina tal e qual seu protagonista sobre o que se está tramando a sua revelia, sua segunda parece bem mais atrelada aos códigos do que seria uma trama noir convencional e, nesse sentido, menos interessante. Welles não desperdiça o que aprendeu em seu trajeto, mesmo sendo mais contido em termos de inventividade visual que em seu Cidadão Kane: observa-se um piquenique exótico como naquele e a representação  visual  dos ambientes mexicanos, guardadas as devidas proporções de ser uma trama ficcional e não um documentário, beneficia-se de sua experiência brasileira com o inacabado It’s All True, não faltando alguns acordes de Na Baixa do Sapateiro e uma referência aos tubarões que se auto-devoram em Fortaleza em comparação com a entourage de Bannister. Sim, muitas das características centrais habitualmente associadas ao noir aqui se encontram, o cara “durão”, a femme fatale, o flashback guiado pela voz over, o senso de paranoia e de indefinição do caráter de seus personagens, mas Welles os puxa para um universo delirante e barroco, também em termos visuais, em nada semelhante às mais convencionais e realistas tramas do gênero-estilo (Pacto de Sangue, por exemplo). Que não se duvide, no entanto, que a ambiguidade moral que permeia os personagens tradicionalmente no noir sirvam como uma luva para alguém como Welles, sempre tão afeito a brincar com as definições de verdadeiro e falso.  No campo da moralidade, também ultrapassa os limites do que habitualmente se convencionou na época, fazendo insinuações a respeito da pretensa  impotência do perverso Bannister, assim como uma referência bastante explícita ao próprio ato sexual, no momento em que em meio a ruas iluminadas somente pelo luar, um dos vários olhos a espionar o casal Elsa-O’Hara afirma que está “uma boa noite para se fazer aquilo”. Welles consegue, a partir de sua aparente pouco dinâmica e bela máscara facial, extrair tanto a emoção de uma mulher apaixonada quanto a frieza de alguém que quer se safar de Hayworth, então casada com ele e recém-saída do papel que marcaria sua carreira e vida, Gilda. Columbia Pictures Corp./Mercury Productions para Columbia Pictures. 87 minutos.

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