Filme do Dia: A Revolta do Colégio (1936), William Wyler


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A Revolta do Colégio (These Three, EUA, 1936). Direção: William Wyler. Rot. Adaptado: Lillian Hellman, a partir de sua própria peça. Fotografia: Gregg Toland. Música: Alfred Newman. Montagem: Daniel Mandell. Dir. de arte: Richard Day. Figurinos: Oscar Kiam. Com: Mirian Hopkins, Merle Oberon, Joel McCrea, Catherine Doucet, Alma Kruger, Bonita Granville, Marcia Mae Jones, Margaret Hamilton.
As amigas recém-formadas Martha (Hopkins) e Karen (Oberon) compram uma propriedade que pretendem transformar em escola. Ao chegarem ao local, descobrem que ela se encontra em ruínas. Quem as ajuda a erguer o novo local é o solícito médico Joseph “Joe” Cardin (McCrea), que se apaixona por Karen e é correspondido. Quem igualmente as ajuda é a rica senhora Amelia Tilford (Kruger), avó da perversa garota Mary (Granville), que pretende que se torne uma das estudantes do local. Junta-se ao grupo a inconveniente tia de Martha, Lily (Doucet), atriz que faz ás vezes de educadora quando não consegue que o teatro a sustente. Uma das garotas da escola escuta um comentário de Lily sobre a paixão secreta nutrida por Martha igualmente para com Joe e o comentário servirá para que Mary influencie sua avó sobre o ambiente não ser nada adequado para a educação e convívio de meninas, assim como chantageie uma garota que tem medo dela, Rosalie (Jones). Um processo é levado ao tribunal com a derrota de Martha, Karen e Joe, tidos agora por toda a população como um triângulo amoroso. Karen rompe com Joe e Martha parte com a tia Lily, que expulsara da residência, após a sua repentina e oportunista chegada não tendo dado notícias quando do julgamento. No trem, no entanto, tia Lily fornecerá indícios para que Martha consiga provar sua inocência

O que fortemente era sugerido, inicialmente, de uma inclinação lésbica na amizade entre as amigas, encarnado sobretudo na personagem de Martha, sugestão sem dúvida mais fiel a peça de Hellman que, justamente por tratar do tema, não pode ser creditada à época do lançamento do filme, logo se desfaz com a entrada do simplório personagem do médico vivido por McCrea, que inicialmente capitaliza a atenção e o amor de Karen e, posteriormente, também o de Martha. Se alguns momentos isolados, como o da sequencia que se inicia com os pingos de chuva, representando o próprio momento de dor e derrota e a câmera se afastando de uma janela com chuva,  os movimentos de câmera podem muito distantemente evocar o que Tolland faria posteriormente em Cidadão Kane ou mesmo com Wyler (Os Melhores Anos de Nossas Vidas), o filme se encontra longe de uma apresentação visual distinta. De fato, a tentativa de unir aqui técnica e dramaturgia surge demasiado forçosa, nem de longa orgânica quanto no célebre plano-sequência, também envolvendo uma janela em que se parte do Kane criança até sua mãe decidindo o seu futuro no escritório. O que o filme perversamente reforça, ao seu final, é a lógica do casal como tendo direito a felicidade e sendo unido pelo “terceiro elemento” a pairar sobre ele, agora devidamente auto-sacrificado sem direito a qualquer indenização, moral, financeira ou mesmo “afetiva”. Que não se espere meios tons em seu rotineiro maniqueísmo. Quando se retrai diante do “polêmico” tema discutido originalmente na peça de Hellman, o cinema norte-americano demonstra a força de sua moralidade pós-Código Hays, implacável quando se leva em conta que em outras cinematografias do período, o tema do internato feminino associado marginalmente ou frontalmente a relações entre garotas era ao menos vislumbrado. No primeiro caso, o brasileiro Aves Sem Ninho (1939), de Roulien, ao qual se pode de fato se referir a existência de uma revolta como inapropriadamente faz menção o esquecido título em português dessa obra; no segundo, a ousada produção alemã Senhoritas de Uniforme (1931), de Leontine Sagan & Carl Froelich. Uma refilmagem desse drama, Infâmia, dirigida pelo próprio Wyler, em 1961, tentaria se “redimir” do desvio da obra, referendado pela própria Hellman, aqui posto, tendo como dupla protagonista Audrey Hepburn e Shirley MacLaine. Destaques para Bonita Granville, na pele da garota de tiques que prenunciam certa psicopatia que será explorada, de forma mais incisiva, em personagens infantis do cinema norte-americano como a protagonista de Angústia (1946), de John Brahm, assim como de forma praticamente caricata em A Tara Maldita (1956), de Mervin LeRoy. The Samuel Goldwyn Co. para United Artists. 93 minutos.

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