The Film Handbook#216: Terrence Malick
Terrence Malick
Nascimento: 30/11/1943, Waco, Texas
Carreira (como diretor): 1973-
A despeito de ter dirigido somente dois longas (e é questionável se voltará ainda a dirigir), Terrence Malick permanece um dos mais idiossincráticos realizadores norte-americanos a ter trabalhado em anos recentes. Possuidor de uma sensibilidade que é ao mesmo tempo literária e intensamente visual, e aparentemente desdenhosa das convenções da Hollywood comercial, ele empregou uma abordagem irônica e oblíqua à narrativa e aos personagens, reminiscente dos filmes de arte europeus.
Antigo estudioso de Rhodes e jornalista, Malick lecionou filosofia antes de estudar cinema. Após escrever Meu Nome é Jim Kane/Pocket Money (um semi-cômico western contemporâneo, dirigido por Stuart Rosenberg), realizaria sua estreia no longa-metragem com Terra de Ninguém/Badlands>1, história baseada em fatos reais sobre um casal delinquente que passa a se divertir praticando crimes sem sentido no Meio Oeste americano dos anos 50. Filmado vibrantemente por Tak Fujimoto e fazendo uso de uma trilha musical que vai de Carl Orff a Nat King Cole, o filme difere de Bonnie & Clyde/Bonnie and Clyde (e de outros filmes similares) no tom que adota em relação aos jovens assassinos, cujos sonhos de fama e amor são alimentados pelos filmes de James Dean e as estúpidas revistas da época. Os diálogos revelam pouco em relação às motivações, mas Malick inclui uma narração - extraída do diário da garota - que atesta o romantismo deformado e mal orientado do casal, escrito como que no vácuo do estilo hiperbólico das revistas de fãs e de quadrinhos dos anos 50. Imagem, enredo, conversação e comentários são configurados em contraponto afiado e irônico para demonstrar o mistério impenetrável das ações e pensamentos humanos: os assassinatos permanecem inexplicados pelos meros fatos.
Malick reviveu e expandiu estes métodos no visualmente arrebatador Cinzas no Paraíso/Days of Heaven>2, história de um triângulo amoroso que finda em tragédia durante a Primeira Guerra Mundial. Novamente, o diretor filtra as percepções dos personagens e eventos através de um ingênua e desarticulada narração estranhamente poética de uma jovem, na forma de um comentário - sobre as ações de sua irmã mais velha, dividida entre seu amante e o rico fazendeiro com o qual é persuadida a casar por dinheiro- que somente serve para mistificar as questões. A motivação é, além disso, obscurecida pelas interpretações, com as faces dos atores tão inescrutáveis quanto máscaras; de fato, os elementos - capturados em todo o seu poder primitivo pela câmera de Nestor Almendros, de forma mais notável durante uma tempestade de gafanhotos - são igualmente importantes para revelarem o drama, sua pureza e magnificência permanecendo em resoluto contraste com as pequenas intrigas e injustiças sociais que definem a ambição humana. Raramente um filme americano foi tão refrescantemente abstrato, tão extravagantemente belo em sua atenção às mudanças de sentido criadas pela colisão de som e imagem. O enredo do filme comporta alguma semelhança com o de O Pão Nosso de Cada Dia/City Girl, de Murnau; certamente as imagens poéticas de Malick recordam a simplicidade e o poder de clássicos silenciosos como Aurora/Sunrise.
Supostamente desapontado com a performance do filme nas bilheterias, Malick retirou-se para Paris, onde regularmente recebe roteiros para potenciais projetos, nenhum dos quais até o momento se concretizou. É de se esperar que ele seja persuadido a sair de sua aposentadoria já que, por mais fria, detalhada ou preciosista que seus detratores considerem sua obra, é um realizador de rara inteligência e originalidade.
Cronologia
Se a pequena produção de Malick faça com que seja impossível sugerir influências mais amplas, visualmente Terra de Ninguém pode evocar Nicholas Ray e Penn e Cinzas no Paraíso o cinema mudo. Seu estilo narrativo idiossincrático provoca comparações com o de figuras tão diversas quanto Welles, Lewin, Mankiewicz, Kubrick, Bresson, Godard e Rohmer.
Destaques
1. Terra de Ninguém, EUA, 1973 c/Martin Sheen, Sissy Spacek, Warren Oates
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 184-5.
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