Filme do Dia: A Fuga das Galinhas (2000), Nick Park & Peter Lord
A Fuga das Galinhas
(Chicken Run, Reino Unido/EUA/França,
2000). Direção: Nick Park & Peter Lord. Rot. Original: Nick Park, Peter
Lord & Karey Kirkpatrick. Fotografia: Frank Passingham & Tristan
Oliver. Montagem: Robert Frances Tamsin Perry & Mark Solomon. Dir. de arte:
Phil Lewis.
Após
inúmeras tentativas frustradas, todas as galinhas que esperam desesperadamente
a sua hora de morrer, põem suas esperanças no jovem galo Rocky, que cai por acaso
no galinheiro fortemente vigiado da Sra. Tweedy, em que a vigilância fica a
cargo do estúpido Sr. Tweedy. As galinhas sonham que Rocky as ensinará a voar.
Esse, porém, foge na véspera do esperado dia. Mal vivenciado o luto, a líder do
grupo, Ginger, que se encontrava apaixonada por Rocky, possui a ideia de
construírem uma aeronave, justamente no momento em que a Sra. Tweedy possui seu
plano maquiavélico de matar todas as galinhas, transformando-as em tortas com a
geringonça automática que foi construída.
Primeira
incursão em longa-metragem da dupla, que habitualmente trabalha com outros
realizadores ou individualmente. Entretenimento ao mesmo tempo inteligente e
divertido, possibilitando um engajamento de maior número de plateias. Ao
transformar o galinheiro numa alegoria quase explícita dos campos de
concentração (rendendo sua homenagem a Inferno n. 17 de Wilder), ao mesmo tempo afasta-se, embora não completamente, da
misoginia que havia impregnado boa parte da produção de Wilder. Assim, ainda que
existindo certa comprovação da burrice das galinhas, aqui observada não apenas
enquanto comentário de gênero mas também – e talvez mais fundamentalmente – da
massificação estupefaciente, que faz com que todos aceitem os mecanismos da
engrenagem social sem questioná-las, o protagonismo da ação libertadora é menos
do frango americano gabola que é Rocky, que da turrona Ginger, com quem ele
vive em diatribe. É verdade que todas precisam, em última instância, do velho
galináceo (mesmo ele afirmando que nunca fora um piloto da Real Força Aérea
britânica já que não passava de um galináceo, numa das melhores tiradas do
filme). Como boa parte da ação se dá longe dos excessos verbais, o filme parece
reservar umas poucas em que o riso se insinua de forma quase inescapável. Subverte
ou incorpora alguns clichês de um cinema ilusionista mais escapista – a cena em
que a geringonça arranca voo é, sem
dúvida, um triunfo do engenho humano sobre as adversidades conformistas, sem
deixar de lado seu escapismo (bem poderia ser a clássica cena de E.T. tal como construída) e o alto teor
de inverossímil mesmo para os padrões de uma animação, mas o resultado da
empreitada é uma sociedade utópica, mais que o paraíso apenas para o casal
Rocky e Ginger. Aardman Animations/Pathé/Allied Filmmakers/StudioCanal para
Dreamworks. 84 minutos.
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