Filme do Dia: Intolerância (1916), D.W. Griffith


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Intolerância (Intolerance: Love´s Struggle Throughout the Ages, EUA, 1916). Direção: D.W. Griffith. Rot. Original: D.W. Griffith, com entretítulos de Anita Loos e Frank E. Woods. Fotografia: G.W. Bitzer. Montagem: D.W. Griffith, James Smith & Rose Smith. Dir. de arte: D.W. Griffith & Walter L. Hall. Figurinos: D.W. Griffith & Clare West.  Com: Mae Marsh, Robert Harron, F.A. Turner, Sam de Grasse, Walter Long, Tom Wilson, Howard Gaye, Lílian Langdon, Olga Grey, Bessie Love, Frank Bennett, Maxfield Stanley, Josephine Crowell, Constance Talmadge, Elmer Clifton, Alfred Paget, Seena Owen, Carl Stockdale, Lílian Gish.
Quatro narrativas sobre esforços de amor através de quatro períodos históricos distintos. Nos anos 10, uma jovem (Marsh) luta para criar o filho sozinho, já que o marido (Harron), encontra-se preso. Porém, um grupo de mulheres reformadoras acabam retirando o bebê de suas mãos. Na Babilônia, uma jovem das montanhas (Talmadge) se envolve na rivalidade religiosa que provoca uma furiosa guerra e a subseqüente queda da cidade. Na Judéia, fariseus condenam Jesus Cristo à morte. Na Paris do século XVI, um casal de huguenotes pretende se casar, mesmo com todo o ódio religioso que culmina no Massacre de São Bartolomeu.
Uma das produções mais caras e célebres da história do cinema, foi a espalhafatosa resposta a seu filme anterior, O Nascimento de uma Nação (1914) – somente as sequências da festa de celebração em Babilônia custaram duas vezes mais que todo o orçamento do mesmo – que havia provocado a revolta de negros contra o modo racista em que foram representados. Fica mais que patente que as duas narrativas que Griffith se detém com maior apuro, em sua nova técnica que ficou conhecida como montagem alternada, apresentando de forma intercalada quatro histórias que ocorrem em momentos diversos (e que foi impiedosamente satirizada por Keaton em A Antiga e a Moderna), são a história contemporânea, onde se encontra presente todo o melodrama naturalista dos filmes curtos que realizou na Biograph e o episódio sobre Babilônia, onde o realizador pode se deter em um melodrama mais preocupado com efeitos visuais e majestosos cenários, em escala impressionante e talvez inédita em toda a história do cinema. Porém nem os atrativos visuais nem, muito menos, a nova técnica de montagem, que foi tida como um obstáculo à compreensão da narrativa, por mais didática que sejam às recorrentes menções a um plano de uma mãe embalando um berço como transição entre os momentos históricos distintos, e nem tampouco o apelo melodramático, cuja força já se faz presente no próprio subtítulo, foram capazes de deter o fracasso monumental nas bilheterias. Para além da duração extremamente longeva, mesmo para os padrões de hoje, o fato das quatro narrativas ainda contraporem a um quadro histórico mais amplo, os dramas de personagens singulares, buscando um efeito de identificação melodramático, tornou os eventos descritos por vezes excessivos para um público pouco familiarizado com tal nível de complexidade. Destaque para o modo em que Griffith constrói a identidade com o sofrimento dos personagens, sobretudo no episódio contemporâneo, através, por exemplo, de um plano de detalhe em que a mãe guarda apenas uma das pequeninas meias do filho que lhe foi tirado de seus braços (tema que voltaria a ser explorado e atualizado por Ladybird, Ladybird, de Loach) ou ainda pelo intenso abraço que a mulher dá em seu marido ao retornar da prisão, após um certo distanciamento inicial  - demonstração de um senso de ritmo soberbo para os padrões da época. Assim como a seqüência final, que acentua e dilata o suspense de seus filmes curtos para a Biograph, contrapondo o rapaz, vítima de uma acusação injusta de homicídio, em vias de ser guilhotinado, e sua amada em luta desesperada contra o tempo. Apesar de todas as acusações de seu moralismo vitoriano, existem cenas de nudez parcial das mulheres no harém, comuns em produções da época, tais como os épicos de De Mille ou Genuine (1920), de Wiene. Destaque igualmente para o ápice megalômano, em seus tons melodramáticos e patéticos, das cenas finais, em que através das abstratas boas intenções celestes, a paz passa a reinar entre os homens. O resultado final, ainda que excessivo em todos os sentidos (narrativo, de produção, de metragem) tampouco deixa de apresentar momentos de brilho, como os citados, e por outro lado, de impressionar, seja na monumental cena que abre a seqüência das comemorações no episódio de Babilônia (cujos elefantes na decoração, inspirados em Cabíria (1914), renderam o enredo para Bom Dia, Babilônia, dos Irmãos Taviani), seja no realismo da descrição dos combates (não é à toa que mais de 60 dos milhares de extras saírem contundidos).  Provavelmente nenhuma outra produção reuniu tantos nomes que eram ou se tornariam célebres como John Ford, Tod Browning, W.S. Van Dyke, Frank Bozarge, Douglas Fairbanks, Wallace Reid, King Vidor, Erich Von Stroheim em rápidas aparições ou como extras. Tentando aplacar o não menos monumental prejuízo, Griffith lançaria em 1919, como filmes individuais, os episódios contemporâneo (The Mother and the Law) e da Babilônia (The Fall of Babylon). Existem inúmeras versões de metragem diferenciada. Triangle Film Corp/Wark Producing Corp para Triangle. 163 minutos.

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