The Film Handbook#218: Bertrand Tavernier

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Bertrand Tavernier
Nascimento: 25/04/1941, Lyon, França
Carreira (como diretor): 1963-

Apesar de, em muitos aspectos, Bertrand Tavernier ser um realizador ao velho estilo, confortável com as virtudes tradicionais da elegância narrativa e das caracterizações fortes, é um dos mais constantemente conceituados diretores franceses a emergir da França desde os anos 60. Embora a variedade de temas sugira sua versatilidade, seu estilo visual dinâmico e sua preocupação com a reação dos indivíduos à sociedade em geral, atribuem-lhe uma consistência de filme a filme.

Tavernier se tornou um crítico de renome para Positif e Cahiers du Cinema antes de dirigir dois curtas em 1963. Durante o final dos anos 60, escreveu alguns roteiros e trabalhou como publicitário para o cinema, realizando, por fim, sua estreia no longa em 1972, com o impressionante O Relojoeiro/L'horloger de Saint Paul>1, uma adaptação de Simenon sobre os efeitos de um caso de homicídio na consciência política do pai do assassino; uma discretamente sutil mistura de comentário social e drama psicológico, beneficiou-se de uma interpretação tipicamente soberba de Philippe Noiret, que reapareceria nos dois filmes seguintes de Tavernier. Em Que la Féte Commence, um drama histórico épico, de rara integridade, sobre as intrigas políticas e sexuais na corte de Felipe d'Orléans em 1719, interpretou o hedonista regente; em O Juiz e o Assassino/Le Juge et l'Assassin, proporcionou uma admiravelmente complexa e arrepiante interpretação da tentativa de um magistrado de julgar se um assassino é de fato louco ou somente um simulador. Na verdade, muito dos filmes de Tavernier apresentam performances de excepcional qualidade. Em Des Enfants Gâtés>2, Michel Piccoli está excelente como alter-ego do realizador, cujo afastamento da casa e da família para escrever com maior facilidade um roteiro, leva-o a um caso com uma vizinha, primeiramente e, depois, a um descompromisso com o aluguel que redesperta tanto sua criatividade quanto seu compromisso político. Apesar do filme transcender gêneros, tal é a habilidade de Tavernier para o drama exato da experiência cotidiana que é engenhoso, emocionante e fiel à vida.

Fazendo excelente uso de Glasgow e dos planaltos escoceses, A Morte ao Vivo/La Mort en Direct>3 foi uma incomumente sensível ficção-científica: ambientada em um futuro próximo, quando doenças terminais existem apenas em novelas de TV, uma mulher é informada que está morrendo; ela é protegida por um vagabundo que está filmando cada movimento com uma câmera adaptada aos seus olhos. Uma análise sombria sobre o voyeurismo e a exploração midiática, o filme impressiona através de seus fluidos movimentos de uma câmera desimpedida e sua evocação de um mundo no qual a moralidade, mais do que as aparências, difere do nosso próprio. Mais convencional, mas não menos intrigante, Um Olhar para a Vida/Une Semaine de Vacances examinava as dúvidas que confrontavam um professor sobre sua carreira, enquanto A Lei de Quem Tem o Poder/Coup de Torchon foi um retrato perspicaz e sombrio de um, de outro modo, afável policial (novamente Noiret) se dirigindo a cometer assassinatos pelo impensado racismo colonial da França nos anos 30 na África Oriental. Ao todo mais lírico, Um Sonho de Domingo/Un Dimancha à la Campagne foi uma exuberante peça familiar, no qual um idoso e nada notável pintor é visitado por seus filhos e netos: evocando as graças e desapontamentos da memória, através de uma vibrante fotografia e interpretações impecáveis, Tavernier não somente presta homenagem a Renoir como, por analogia, reconhece a natureza essencialmente nada ousada de sua própria obra.

Como o documentário Mississippi Blues, Por Volta da Meia-Noite/Round Midnight>4 testemunhava seu amor pela música e tradições americanas. Uma romântico, mas sincero e comovente tributo ao jazz, fez uso atmosférico de seus cenários em estúdio para recriar o ambiente dos clubes de jazz da Paris dos anos 50, sendo prejudicado apenas por imprecisões menores e por sua implicação que somente os franceses apreciam plenamente a música. Apesar de remeter aos esforços de um saxofonista contra o alcoolismo, as imagens foram novamente pródigas, enquanto Dexter Gordon foi sabiamente permitido ser ele próprio, numa performance de enorme charme.

A versatilidade de Tavernier foi também evidente em um sombrio drama medieval, Béatrice. Se seus filmes não são formalmente inovadores, retém uma capacidade de surpreender com seus achados sobre o comportamento humano e uma ocasional habilidade para incomodar (como em A Morte ao Vivo A Lei de Quem tem o Poder). Assim sendo, proporcionam entretenimento provocador e inteligente, que nunca subestima seu público.

Cronologia
Como Claude Miller, Tavernier parece ter sido influenciado tanto por diretores americanos (Hitchcock, Hawks) como por compatriotas, tais como Melville (para quem trabalhou), Truffaut e Malle

Leituras Futuras
Ninguém se deteve sobre sua obra; apesar de seus 30 Ans de Cinema Américain (co-escrito com J.-P. Coursodon) ser tido em alta conta.

Destaques
1. O Relojoeiro, França, 1972 c/Philippe Noiret, Jean Rochefort, Jacques Denis

2. Des Enfants Gâtés, França, 1977 c/Michel Piccoli, Christine Pascal, Michel Aumont

3. A Morte ao Vivo, Reino Unido, 1980 c/Romy Schneider, Harvey Keitel, Harry Dean Stanton

4. Por Volta da Meia-Noite, França, 1986 c/Dexter Gordon, François Cluzet, Gabrielle Haker

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 284-6. 


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