Filme do Dia: Monty Phyton - O Sentido da Vida (1983), Terry Jones & Terry Gilliam

Monty Phyton - O Sentido da Vida (The Meaning of Life, Reino Unido, 1983). Direção: Terry Jones & Terry Gilliam. Rot. Original: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones & Michael Palin. Fotografia: Peter Hannan & Roger Pratt. Música: John Du Prez. Montagem: Julian Doyle. Dir. de arte: Harry Lange, John Beard & Richard Dawking. Cenografia: Sharon Cartwright & Simon Wakefield. Figurinos: James Achesop. Com: Michael Palin, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Graham Chapman, , Carol Cleveland, Simon Jones.
         O fato deles próprios zoarem com sua dispersão – a determinado momento, peixes com caras humanas se indagam se irá ser discutido “o sentido da vida” ao qual o título se refere – não impede que essa característica, seminal para a obra do grupo, seja ao mesmo tempo seu ponto forte  e seu calcanhar de aquiles. O mesmo se aplicaria, diga-se de passagem, a misoginia com que as mulheres são interpretadas por elementos do próprio grupo através do comentário a uma sequencia próxima ao final, no qual um grupo de mulheres de topless seguem um sujeito que escolheu a forma como gostaria de morrer – e, noutros termos, apenas a representação da americana que vai a um restaurante que serve menus para assuntos com seu marido é efetivamente hilária. Oriundos do universo televisivo de um programa de sketches, tal lógica, de certa forma, encontra-se continuada no longa-metragem para o cinema. Do “curta metragem” apresentado antes do longa, com direito a créditos e logotipo próprios, paródia do próprio processo de exibição de outro período e que volta a surgir durante o longa até o seu último minuto se utiliza de mecanismos diversos, sendo a maior parte deles visivelmente comandados pelos próprios enunciadores do filme, como o momento em que o navio-prédio do curta que reaparece no longa e é prontamente esmagado para que o filme de longa-metragem continue sem ser importunado pelo curta. Existe números musicais, alguns deles bizarros, como o que tem sua ambientação na região industrial de Yorkshire, com dezenas de crianças filhas de pais católicos, impedidos de fazer uso de preservativos por conta da doutrina da igreja e a quem o pai já decidiu, desempregado, vende-las para instituições de pesquisas. Ao final do sketch, as crianças singelamente cantam sobre a importância de não se ter o esperma derramado de forma estéril e aleatória como os membros de outros credos. Do outro lado da rua, um casal protestante comenta o quão absurdo é tal ética, sendo tampouco eles poupados, em sua minguada e regrada vida sexual na qual a possibilidade de fazer uso de métodos contraceptivos, inclusive estimulando o próprio ato, não passa de uma possibilidade de uma conversa formal. Alguns momentos privilegiam o inesperado, como o professor da aula sobre sexo que, a determinado momento, puxa uma cama embutida na sala e vai demonstrar aos alunos a partir de um encontro com sua esposa. Ou ainda um dos mais memoráveis, na qual um homem assustadoramente obeso vomita sobre tudo e todos antes de literalmente explodir. Dividido em capítulos que também pretendem acompanhar a vida do nascimento à morte - representada com sua tradicional figura sinistra com foice e roupa camponesa, na sequencia que apresenta uma das gags mais efusivamente criativas, com não apenas o grupo escolhido por ela, tendo seus espíritos saídos dos corpos, mas igualmente os espíritos de seus veículos, rumo ao céu,  que é uma boate kitsch de números idem. Terry Gilliam, seria o único membro do grupo a, sobretudo posteriormente (Os Bandidos do Tempo foi lançado dois anos desse), partir para uma vigorosa carreira solo, com estilo visual próprio e humor distante das facilidades do grupo. A evidente sofisticação, em termos de produção, com relação a filmes anteriores como A Vida de Brian (1979) veio igualmente acompanhada por certa diluição de seu potencial anárquico visando certamente um público mais amplo. Muito desse potencial anárquico-dispersivo, pelo bem e também pelo mal se encontra associado a muito rara participação, em termos de cinema, de todos os principais atores, ou seja o próprio grupo, na elaboração do roteiro. Celandine Films/The Monty Phyton Partnership/Universal Pictures para Universal Pictures. 107 minutos.

Postado originalmente em 14/12/2014






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso