O Dicionário Biográfico de Cinema#300: John Barrymore
John Barrymore (John Blythe) (1882-1942), n. Filadélfia
O irmão mais jovem de Ethel e Lionel, John, foi filho do ator inglês Maurice Barrymore e da atriz Georgina Drew. Houve muitas tentativas de se levar John Barrymore à sério: nestes cenários foi um ator genial, terrivelmente enfraquecido pela disposição maliciosa de Hollywood em pagar por toda a sua bebida e por seus esforços de justificar o rótulo de grande amante das telas. De seu Hamlet, Ricardo III e Mercutio foi dito, em vozes abafadas, tal como criações próximas do sublime. O declínio dos dias finais em filmes B e as grotescas paródias de si próprio são oferecidas como uma tragédia da qual devemos nos afastar para que os ecos de uma grandiosidade ao estilo de Kean tenham o espaço adequado. Mas quem sabe quão grande ator Kean foi? E o Hamlet de Barrymore agora se perde entre opiniões. Barrymore sobrevive menos enquanto Kean, que um Kean inventado por Sartre, Pierre Brasseur, Vittorio Gassman, e Alan Badel - notem o Barrymore de, digamos, 1926, "o grande perfil", assemelha-se surpreendentemente com Badel. Isto para dizer, que ele é um ator que não acredita na atuação do modo que seu público romântico acreditava. Nenhuma de suas armas - beleza, retórica ou extravagância - de fato o convencia. A atuação se tornou uma armadilha e "John Barrymore" um papel oneroso que ele alternadamente ou zomba ou não alcança. A verdade é, portanto, uma comédia de humor negro, e somente neste nível Barrymore é importante e sério. Felizmente uma obra-prima ilustra uma busca indefesa de si próprio: Twentieth Century [Suprema Conquista] (34, Howard Hawks), que teve Barrymore como Oscar Jaffe, um exagero extraordinário, um ator-empresário engajado em um uma impiedosa superação de um caso com Carole Lombard: a destacada união de dois grandes farsantes. Como Badel em Kean, Barrymore em Suprema Conquista, simultaneamente glorifica e ridiculariza a interpretação. É um exagerado, mas um cético, incrédulo do romance, no entanto irremediavelmente encantado por ele como uma única alternativa ao caos. Sob esta perspectiva, Barrymore se torna mais engajado quando seu material deteriora, e o declínio alcóolico é a inevitável tragicomédia que provocou sobre si mesmo. Além do que, é crível que um americano belo e charmoso em 1925 levasse Hamlet mais a sério que Dolores Costello e uma garrafa de bourbon?
Fez sua estreia no cinema em 1913 em An American Citizen e trabalhou para a Famous Players-Lasky pelos anos seguintes, grandemente em comédias. E foi após a I Guerra Mundial que começou a deixar sua marca em papéis de longas: Raffles, the Amateur Cracksman (17); Here Comes the Bride (18); Test of Honor (19); Dr. Jekyll and Mr. Hyde [O Médico e o Monstro] (20, John S. Robertson); The Lotus Eater (21, Marshall Neilan); e Sherlock Holmes (22, Albert Parker). Fez The Beau Brummel (24, Harry Beaumont) para os Warners e ficou com eles para The Sea Beast [A Fera do Mar] (26, Michael Webb) e Don Juan (26, Alan Crosland). O primeiro foi uma versão de Moby Dick que inventaram de acrescentar Dolores Costello ao elenco, enquanto o segundo foi o primeiro longa a ter uma trilha musical. Mais interessante foi o modo que Barrymore tentou, em vão, ter uma antiga amante, Mary Astor, substítuda por uma nova, Costello. Está novamente com ela em When a Man Loves [Quando o Homem Ama] (27, Crosland) e então interpretou François Villon em The Beloved Rogue [Amor de Boêmio] (27, Crosland), seguido por The Tempest [A Tempestade] (28, Sam Taylor) e Eternal Love [Amor Eterno] (29, Ernst Lubitsch). O som não foi obstáculo para Barrymore: teve o álcool para combatê-lo. Fez General Crack [O General Crack] (29. Crosland), The Man from Blankey's [Galante Impostor] (30, Alfred E. Green), Moby Dick (30, Lloyd Bacon) - desta feita com Joan Bennett - duas versões do tema Svengali (*) - Svengali (31, Archie Mayo) e The Mad Genius [O Gênio do Mal] (31, Michael Curtiz) - antes de unir-se a MGM. Sua aparência estava se deteriorando e a bebida estava fazendo tudo que supostamente faz, mas Barrymore permaneceu astro principal em Arsène Lupin (32, Jack Conway); dificilmente impressionado por Garbo em Grand Hotel [Grande Hotel] (32, Edmund Goulding); em State's Attorney [Promotor Público] (32, George Archainbaud); como o pai de Katharine Hepburn em A Bill of Divorcement [Vítimas do Divórcio] (32, George Cukor); com o irmão e a irmã no notório Rasputin and the Empress [Rasputin e a Imperatriz] (32, Richard Boleslavski]; contracenando com Diane Wynyard em Reunion in Vienna [Reunião em Viena] (33, Sidney Franklin); esteve em duas produções soemente com estrelas Dinner at Eight [Jantar às Oito] (33, Cukor) e Night Flight [Asas da Noite] (33, Clarence Brown); como professor primário em Topaze [Topázio] (33, Harry d'Arrast); e Counsellor-at-Lawn [O Coneslheiro] (33, William Wyler).
Suprema Conquista foi uma ruptura em sua carreira. Após abandonar o projeto para filmar Hamlet interpretou um roliço Mercutio em Romeo and Juliet [Romeu e Julieta] (36), decaindo então para papéis coadjuvantes em filmes-B: Maytime (37, Robert Z. Leonard); True Confession [Confissão de Mulher] (37, Wesley Ruggles); três Bulldog Drummonds; Spawn of the North [Lobos do Norte] (38, Henry Hathaway); e Luís XV no veículo para Norma Shearer Marie Antoniette [Maria Antonieta] (38, W.S. Van Dyke). Seus anos finais foram uma sucessão de filmes fascinantes nos quais um Barrymore agonizante revela a sua própria fraude: Hold that Co-Ed [Agarrem Esta Normalista!]; The Great Man Votes [O Grande Homem Vota] (39, Garson Kanin); um observador bastante divertido da intriga em Midnight [Meia-Noite] (39, Mitchell Leisen); The Great Profile [O Eterno Don Juan] (40, Walter Lang); The Invisible Woman [A Mulher Invisível] (41, Edward Sutherland); World Premiere [Espiões do Eixo] (41, Ted Tetzlaff); e Playmates [Dois Romeus Enguiçados] (41, David Butler). Morreu, naturalmente.
Texto: Thomson, David. The New Biograpical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 173-75.
(*) N. do E: termo que se refere a um personagem ficcional de George Du Maurier, da última década do século XIX, e tornou-se tão popular que passou a designar pessoas não confiáveis e de caráter hipnótico. O próprio filme do qual Barrymore foi protagonista ajudou a popularizar o mesmo.

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