Filme do Dia: Punishment Park (1971), Peter Watkins


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Punishment Park (EUA, 1971). Direção: Peter Watkins. Fotografia: John Churchill & Peter Smokler. Música: Paul Motian. Montagem: Terry Hodel & Peter Watkins. Dir. de arte: David Hancock. Com: Patrick Boland, Kent Foreman, Carmen Argenziano, Luke Johnson, Catherine Kittner, Scott Turner, Stan Armsted, Mary Ellen Kleinhall.
Um grupo de jovens radicais de esquerda, aprisionado pelo exército americano, decide optar por, ao invés de cumprir sua sentença penal em presídios por anos, aceitar o desafio de Punishment Park, no deserto californiano, onde terão um determinado limite de horas para se dirigirem a um monte onde se encontra uma bandeira norte-americana fincada. Quanto mais próximo se encontram do objetivo, mais acirrado fica o conflito com o exército americano. Enquanto isso, um novo grupo de jovens é levado aos tribunais, julgado e condenado, e opta igualmente pela mesma opção.
Watkins faz uso de uma estética documental para uma narrativa que gradualmente se torna cada ver mais explicitamente ficcional, com um resultado final de efeito bastante duvidoso. Quando o filme avança em sua narrativa se torna crescentemente fake o uso de tais recursos e situações inverossímeis de terem sido filmadas enquanto documentário se tornam cada vez mais patentes. Esse desconforto entre as pretensões pseudo-documentais do filme e o que resultou fica ainda mais aguçado com as canhestras interpretações. Por outro lado, falta sutileza igualmente no modo como o realizador expõe o dualismo ideológico entre conservadores e radicais de esquerda e soçobram cacoetes oriundos dos filmes de gênero, como a corrida dos jovens pelo deserto sendo literalmente “caçados”, não muita distinta de um filme de ficção científica ou faroeste. Ao tentar acrescentar uma dose de realismo documental, Watkins ainda apela para uma narração off neutra que acompanha com voz impessoal o tempo que falta para que o prazo da chegada ao objetivo se esgote e a temperatura ambiente, assim como inúmeros depoimentos para a câmera. Porém, como em A Bruxa de Blair, tal mimetização de recursos está longe de não ser problemática em termos de verosimilitude – como a equipe de tv pode se encontrar acompanhando toda a trajetória dos “perseguidos” e não se encontrar na mesma situação de penúria deles ou, por outro lado, não ser vítima de um assalto, caso estivesse portando mantimentos? Quanto a relação documentário e ficção, alguns filmes lidam bem melhor com a tentativa de confluência desses modos de apreensão da realidade, aparentemente díspares, tais como Iracema, uma Transamazônica (1976), de Jorge Bodanzky & Orlando Senna. Curiosamente a estratégia de filmes documentais que fazem uso de recursos ficcionais (Na Captura dos Friedmanns, por exemplo) parece ser mais bem sucedida do que o oposto (caso do igualmente fracassado O Caminho para Guantanamo). Chartwell/Françoise. 88 minutos.

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