Filme do Dia: Terror Universal (1998), Kevin Brownlow
Terror Universal (Universal Horror, EUA, 1998). Direção:
Kevin Brownlow. Música: James Bernard. Montagem: Kevin Brownlow.
Brownlow
revisita os clássicos de terror dos estúdios Universal. Longe de excepcional, o
documentário se afasta de qualquer pretensão de originalidade cumprindo, no
entanto, de maneira eficiente, a proposta de ser uma produção didática.
Apresentando uma compilação de imagens que se inicia com o grande sucesso que
foi O Corcunda de Notre-Dame (1923)
até o ocaso do gênero, saturado de si mesmo e tendendo para a paródia de si
próprio ou mescla com a comédia, como o que a dupla Abbot&Costelo se
encontra com Frankenstein (1948). O filme se detém em dois momentos
particularmente interessantes que são alguns clássicos do terror no cinema mudo
americano, relativamente pouco conhecidos nos dias de hoje, geralmente
estrelados por astros como Lon Chaney e os clássicos do cinema falado Drácula (1931), de Tod Browning e Frankenstein (1931), de James Whale,
que popularizou a face do monstro como é conhecida até hoje. Com relação ao
primeiro, apesar de contar com Lugosi, superior ao ator espanhol que vive o
vampiro, afirma sua inferioridade frente a versão para a língua hispânica do mesmo, mais inventiva e visualmente fluida. Quanto
ao segundo, destaca, além da maquiagem, a produção visual do filme como um todo,
particularmente a caracterização do laboratório (que foi reutilizado por Mel Brooks algumas décadas depois, em sua sátira-tributo, O Jovem Frankestein). Porém, suas comparações acabam praticamente
restritas à técnica, sendo pouco sensível ao não destacar a incomparável
superioridade do filme de Whale, que realizaria uma das primeiras paródias ao
próprio gênero com A Noiva de
Frankenstein (1935) em relação ao de Browning. Destaca igualmente a imensa
influência do cinema expressionista alemão,
através de técnicos, atores e cineastas que fizeram carreira nos
EUA, como Lang e Murnau entre os
últimos. Embora o filme explicite algumas dessas influências como a de O Golem (1916) de Wegener sobre o filme
de Whale, ou o clássico Nosferatu sobre
a versão hispânica do romance de Bram Stoker, não se refere a óbvia influência
de Murnau sobre filmes como O Desconhecido (1927). Também demonstra
a influência do cinema ilusionista contemporâneo a Georges Mélies, através do
filme O Espectro Vermelho (1907),
cujo título não chega a ser referido. Igualmente é lembrada a influência da
arquitetura da Bauhaus na composição da inusitada cenografia moderna do castelo
em O Gato Preto (1934), de Ulmer e
credita o declínio do ciclo tanto a já aludida saturação como igualmente a
saída de Carl Laemmle jr. do controle do estúdio e a eclosão da Segunda Guerra
Mundial, em que a carnificina real tornava ingênuo os expedientes para espantar
as platéias que eram utilizadas pelo gênero. Embora seja basicamente um filme
de compilação, conta ainda com depoimentos do roteirista Curtis Harrington,
Lupita Tovar, atriz do Drácula hispânico, do cineasta Curt Siodmak, de
parentes como Sara Karloff (filha do lendário Boris Karloff, que viveu o
personagem de Frankenstein três vezes e ficaria praticamente restrito ao gênero
desde então) e das veteranas Gloria Stuart e Fay Wray (a garota de King Kong). Porém, nenhuma se compara
ao famoso escritor de ficções-científicas Ray Bradbury, um aficcionado dos
filmes apresentados que, entusiasmado como uma criança, relembra bem humorado, quando os assistiu nas
telas sendo segundo ele, inclusive, veículo para despertar os primeiros
instintos sexuais da juventude de então, como o filme de Browning. Entre outros
filmes também apresenta cenas da primeira versão para as telas de Frankenstein (1910), duas das várias
versões da transformação do protagonista de O
Médico e o Monstro (Mamoulien, que dirigiu a versão mais famosa, de 1931,
não revela o segredo da mesma, que só após sua morte foi creditada a trucagens
de laboratório), Os Assassinatos da Rua Morgue (1932),
O Homem Invisível (1933) e O Lobisomem (1941), que tornaria célebre o filho do astro mudo Lon Chaney, de mesmo
nome. Essa produção para a TV é narrada por Kenneth Branagh. Photoplay
Productions. 95 minutos.
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