The Film Handbook#102: Michelangelo Antonioni
Michelangelo Antonioni
Nascimento: 29/09/1912, Ferrara, Itália
Morte: 30/07/2007, Roma, Itália
Carreira (como diretor): 1943-2004
Se os filmes de Michelangelo Antonioni refletem seus próprios sentimentos sobre a vida, e existe pouca dúvida que o façam, é curioso que ele os realize ao final de contas já que, apesar de tentarem expressar e esclarecer emoções humanas, ao mesmo tempo implicam que toda comunicação humana é fútil, estéril, mesmo impossível.
O jovem Antonioni se envolveu em teatro estudantil e crítica cinematográfica, antes de trabalhar como roteirista para Rossellini e assistente de direção para Carné. Após realizar uma série de documentários, ele dirigiria seu primeiro longa ficcional, Crimes d'Alma/Cronaca di un Amore>1 em 1950. Um estudo brando sobre a culpa sentida por dois amantes quando o marido da esposa, que haviam considerado matar, morre em um acidente de carro, antecipa a austera melancolia e ausência de uma narrativa repleta de eventos dos seus filmes posteriores. De fato, ao longo dos anos 50, ele refinou seu frio estilo ao examinar, repetidamente, as consequências do amor e da fadiga espiritual da burguesia, e a forma que o ambiente afeta e reflete os estados mentais. Em O Grito/Il Grido>2, a protagonista - excepcionalmente da classe operária e não média, em se tratando de Antonioni - é abandonada por seu amante e embarca numa odisseia emocional e física através de um chuvoso e cinza Valé do Pó, antes de finalmente retornar à casa, onde aparentemente comete o suicídio.
Se o ritmo lento e elíptico do filme e sua abordagem enigmática aos personagens e situações confundiram muitos, seu proeminente e límpido estilo visual estava perfeitamente antenado com a moda dos anos 60. Uma primeira experiência com as cores em Deserto Vermelho/Il Deserto Rosso - com maças pintadas de cinza e uma plantinha de branco, correspondendo ao estado neurótico de sua heroína - foi seguido por uma visita a "Londres do swing" para realizar Blow Up - Depois Daquele Beijo/Blow Up>4. Mesclando mistério com metafísica o filme foi um bizarro e convincente enigma sobre a percepção visual e, assim, do próprio cinema: em um intrigante quarto escuro um fotógrafo de moda expõe o filme de um assassinato que pode ou não ter acontecido, e Antonioni questiona o ditado que a câmera nunca mente.
Desse retrato pouco convincente retrato da cultura da Carnaby Street o diretor se deslocou para a América e a insatisfação da juventude. Apesar de Zabriskie Point>5 ter sido semelhantemente ingênuo em sua análise de uma sociedade à beira do colapso, o olho de Antonioni para a paisagem americana - profusão de letreiros, o Vale da Morte - foi tão forte quanto sempre. Um plano final longo e extravagante da explosão de uma casa inteira, voando lentamente pelo espaço, foi uma imagem formalmente ousada do consumismo caótico. Mais bem sucedido, outro filme de língua inglesa, Profissão: Repórter/Professione: Reporter>5 provou ser sua melhor obra em anos. Ambientado sua maior parte no Norte da África e na Espanha, e sobre um desiludido jornalista televisivo que troca de identidade com um terrorista que encontra morto no quarto de hotel, é uma narrativa hipnótica da tentativa vã de um homem de escapar ao seu próprio destino. O deserto é um estado mental, o jornalista um caso perdido, mas o filme, com seu entusiasmo tranquilo e explosões esporádicas de humor, encontra-se prazerosamente livre do derrotismo espiritual que marca a obra anterior de Antonioni.
Recentemente, no entanto, ele focou em experimentações com vídeo. O Mistério de Oberwald/Il Mistero de Oberwald foi uma versão falha de A Águia de Duas Cabeças de Cocteau, e o visualmente impressionante Identificação de uma Mulher/Identificazione di una Donna, mapeando a fútil busca de um diretor pela atriz perfeita para seu novo filme, um retorno ao pessimismo árido dos primeiros anos. Porém a reputação de Antonioni como um diretor de raro intelecto permanece intacta: a precisão visual com que cria paralelos entre as emoções de seus personagens e o mundo exterior é prejudicada somente por uma inflexibilidade filosófica que frequentemente beira o maneirismo.
Cronologia
A despeito de seu interesse pela burguesia, as raízes de Antonioni residem no Neorrealismo e Rossellini parece uma influência particular. Tanto suas narrativas elípticas quanto seu estilo visual semi-abstrato foram influentes no cinema de arte dos anos 60; pode-se traçar paralelos com figuras tão diversas quanto Bergman, Tarkovski, Wenders e Pakula.
Destaques
2. O Grito, Itália, 1957 c/Steve Cochran, Alida Valli, Betsy Blair
3. A Aventura, Itália, 1960 c/Monica Vitti, Gabrielle Ferzetti, Lea Massari
4. Blow Up - Depois Daquele Beijo, Reino Unido, 1966 c/David Hemmings, Vanessa Redgrave, Sarah Miles
5. Zabriskie Point, EUA, 1969 c/ Mark Frechette, Daria Halprin, Rod Taylor
6. Profissão: Repórter, Espanha, 1975 c/Jack Nicholson, Maria Schneider, Jenny Runacre
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 14-16.
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