Filme do Dia: La Nave Bianca (1941), Roberto Rossellini & Francesco De Robertis
La Nave Bianca (Itália, 1941). Direção: Roberto Rossellini & Francesco De Robertis. Rot.
Original: Roberto Rossellini & Francesco De Robertis, sob argumento do
último. Fotografia: Giuseppe Caracciolo. Música: Renzo Rossellini. Montagem:
Eraldo Da Roma. Dir. de arte: Amleto Bonetti.
Marinheiro sonha encontrar sua amada “madrinha”, a quem escreve
cartas, sem a conhecer pessoalmente, sendo vítima de troça de seus companheiros.
Ele se encontra feliz pois finalmente marcou um encontro para conhecê-la
pessoalmente, porém chega atrasado ao embarque do bote para terra. Uma operação
não esperada de guerra se sucede e em meio ao combate ele é ferido gravemente,
sendo internado em um navio-hospital. Lá é cuidado por ninguém menos que é sua
madrinha, algo que somente descobre ao perceber em seu traje o mesmo medalhão que
ela havia lhe presenteado.
De longe, trata-se do mais
fraco dos três filmes dirigidos por Rossellini em sua “trilogia das forças
armadas”, mesmo que não tenha sido creditado a ele. Fazendo uso somente de
atores amadores (que tampouco são creditados e faziam parte do próprio grupo
que operava no navio) e locações, na melhor tradição que posteriormente seria
vinculada ao Neorrealismo, percebe-se que somente tais cacoetes não estreitam
sua aproximação com o maior realismo cinematográfico. Aqui, tal proposta
estética realista, cara ao regime, sucumbe diante de um sentimentalismo
tresloucado ausente nos dois outros filmes. As interpretações de amadores, por
exemplo, tem como efeito menos a sorte de enfraquecer a dimensão demasiado
dramática dos diálogos muitas vezes e aproximar os personagens de tipos
populares, como efetiva magistralmente De Sica em seu Ladrões de Bicicleta (1948) ou Visconti em A Terra Treme (1947), do que reproduzirem o que de pior havia na
dramaturgia convencional hollywoodiana, com olhares e posturas demasiado
excedentes. Para completar a mistura indigesta, sobra a música habitualmente
triunfalista de Renzo Rossellini e as evocações visuais ao Encouraçado Potemkin (1925), em diversos momentos do filme,
acompanhando-o do início (o movimento rotatório dos canhões no navio) ao final
(a comemoração dos marinheiros com o retorno do encouraçado italiano, mesmo que
aqui observada de forma individual primeiro, antes de coletiva), para não falar
da cena em que os marinheiros são apresentados em suas redes em dormitório
coletivo, numa proposta de representação mais realista do que propriamente
pictórica com que tal imagem extrai sua força no filme soviético. De todo modo,
a incorporação de variadas referências – a própria medalha, elemento dos mais
convencionais nos rocambolescos melodramas, como sinal de identificação entre
personagens que se perdem, também é observada num primeiro momento dependurado,
tal e qual o pince-nez do médico no
filme soviético – ao filme de Eisenstein vão contra a exclusão de estilos
antípodas tal como pensada por um influente autor como André Bazin. Um dos
piores momentos do filme é o modo infantilizado com que é selada a representação
de devoção do marinheiro por sua madrinha e o quanto uma das poucas inserções
atemporais do filme, senão a única, dá-se justamente numa evocação dela, mesmo
que a imagem sugira mais inicialmente ser dele, o associando com uma das
crianças que ensina. Ela acrescenta logo a seguir, no entanto, que no caso dele
há “algo diferente”. Dos três filmes certamente é o que igualmente incorpora
mais referências explícitas de apologia ao regime, seja na saudação de toda a
tropa ao Duce, também lembrando-se do líder monárquico logo após alguém
exclamar “longa vida ao rei”. O peso demasiado excedente de uma marca “oficial”
no filme provavelmente se dá igualmente por ter sido o único dos três a ter
sido produzido diretamente pelas Forças Armadas. No final, fica bastante
patente a incorporação de elementos convencionais do cinema clássico
hollywoodiano, como a resolução da história de amor e da ansiedade com a
chegada do encouraçado se concretizando não apenas ao mesmo tempo, mas praticamente
no mesmo plano. A versão original conta
(ou contava) com 9 minutos a mais. Centro Cinematografico del Ministero della
Marina/Scalera Film S.p.a para Scalera Film S.p.a. 68 minutos.
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