Filme do Dia: O Inferno Branco de Pitz Palu (1929), Arnold Fanck & G.W.Pabst


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O Inferno Branco de Pitz Palu (Die weiße Hölle vom Piz Palü, Alemanha, 1929). Direção: Arnold Fanck & G. W. Pabst. Rot. Original: Arnold Fanck & Ladislaus Vajda. Fotografia: Sepp Allgeier, Richard Angst & Hans Schneeberger. Montagem: Arnold Fanck. Cenografia: Ernö Metzner. Com: Gustav Diessl, Leni Riefensthal, Ernst Petersen, Ernst Udet, Mizzi Götzel, Otto Spring, Kurt Geron, Charles McNamee, Mizzi Gotzel.
Dr. Johannes (Diessl) sobe a dificil montanha Nevada de Pitz Palu com a esposa (Gotzel) que é atingida por uma avalanche de neve. Ele bate na porta do jovem casal, Maria (Riefensthal) e Hans (Peterson) e abre seu coração para Maria, que se sente atraída por ele. Juntos, partem para uma escalada a montanha, em que Hans se fere gravamente e os três agonizam de frio até a sua descoberta por um aviador amigo do casal. O casal consegue ser resgatado, mas Johannes é sepultado pela neve.

O filme talvez seja o auge de todo o ciclo de “filmes da montanha” que teve como seu maior realizador justamente Fanck. Ao contrário de A Luz Azul (1932), que Riefensthal dirigira por influência do próprio Fanck, à exceção de seu início, todo o desvario do amor romântico em grande parte sendo deslocado para sua arrojada construção visual, como todos os excessos típicos. Para isso, pode-se abrir mão da concisão narrativa para se deleitar visualmente com os pingos de água que descem dos cristais de gelo ou – ainda pior – das tochas iluminadas à noite na busca por uma expedição que fora vítima de uma avalanche; se no primeiro caso, ainda se pode pensar na importante dimensão simbólica que o gelo traz ao servir como elemento de diversão e prazer de um amor jovial para o casal, e como evocação dos fantasmas da morte de semelhante amor para o visitante, no segundo é um desvio que não tem como outro fim o efeito de deleite pictórico, inclusive com os corpos, posicionados de forma estratégica para também se integrarem ao encantamento visual. E o mesmo pode ser dito dos longos planos do avião circundando a cadeia de montanhas ou do movimento acelerado das nuvens no céu, algo que Vertov tiraria partido no mesmo (O Homem com a Câmera); ainda que não se possa afirmar da influência desse, certamente o cinema de montagem soviético influenciou a montagem fortemente dinâmica de seu prólogo. Porém, em termos mais substanciais, Johannes sem dúvida provocou um efeito sobre o casal. Comparado a ele, Hans parece um arremedo infantil. O que o distancia do casal em questão, já que ele também fora visto ao início mais jovem e tão imaturo quanto o casal, rindo da natureza, é justamente a sua experiência da morte. Para ele, a natureza não é como para o casal ou fora para si no passado uma experiência de deleite, mas algo a ser vivenciado no seu limite. É essa a experiência que trará maturidade ao casal, após vivenciar sua perda e quase igualmente vir a morrer. Mesmo que exista todo um esforço do filme em um realismo de certo modo documental (como a presença de Udet, veterano da I Guerra, de fato realizando suas acrobacias no avião ou arriscados lances de alpinismo aparentemente vivenciados pelo próprio elenco) ele parece se esvair ou ser grandemente neutralizado não só por sua tola trama romântica (que consegue ser menos periférica do que a articulada pelo realismo do cinema produzido sob o fascismo italiano de Rossellini na década seguinte, por exemplo) como pelos notáveis efeitos visuais a partir de lentes que transformam em verdadeiras jóias o brilho do olhar de Riefensthal e de Diessl em seu flerte inicial. Esse, assim como Petersen, ao contrário de sua longeva contraparte, morrerão jovens (no caso de Petersen, já no ano seguinte). Sokal Film GmbH-Ht Film para Aafa Film AG.  135 minutos.

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