The Film Handbook#103: Yilmaz Güney
Yilmaz Güney
Nascimento: 01/04/1937, próximo de Adana, sul da Anatólia, Turquia
Morte: 09/09/1984, Paris, França
Carreira (como realizador): 1966-1983
Os métodos de produção e, na verdade, o sentido dos filmes para os quais Yilmaz Güney (nascido Putun) se tornou mais conhecido permanecem inextricavelmente vinculados às condições problemáticas de suas realizações. Tal é o talento de Güney como diretor-roteirista, no entanto, que um conhecimento da história política turca não é necessário para apreciar sua obra.
Após estudar direito e economia, Güney entrou na indústria do cinema no final dos anos 50 como roteirista e assistente de direção. Segue-se uma sentença de prisão por um romance considerado pró-comunista, estabelecendo-se então como ídolo das matinês ("O Rei Feio") em aventuras heroicas que ele próprio escrevia. Em 1966 realizaria sua estreia como diretor com The Horse, The Woman, The Gun/At Avrat Silah; não foi senão em 1970, no entanto, que ele desenvolveu um estilo maduro por si próprio. Em Hope/Umut os sonhos de um medíocre motorista de táxi de encontrar um tesouro escondido, fazem com que abandone sua família e embarque em uma busca que resulta em loucura; em Elegy/Agit, um contrabandista rural é traído pelos pérfidos comerciantes de classe média para os quais se arrisca, sendo perseguido (em fortes imagens dramáticas, por vezes reminiscentes dos westerns de Leone) por uma milícia sem rosto e armada. Inversamente, The Friend/Arkadas, realizado após uma outra prisão de Güney por militantes asilados, desloca seu olhar irônico dos pobres e necessitados para a burguesia: a visita de um veterano ativista político a casa de um velho e agora rico amigo provoca tensão na família do último,enquanto leva o protagonista ao suicídio. O realismo pessimista dos filmes de Güney era tão contrário aos suaves melodramas favorecidos pelas autoridades que não foi surpreendente quando, em 1974, ele foi sentenciado a 24 anos de prisão pela alegada morte de um juiz.
Dada tanto a sua popularidade nacional e as tendências relativamente liberais do curto governo de Ecevit, foi permitido a Güney a realizar, como que por procuração, diversos filmes da prisão, enviando roteiros altamente detalhados para Serif Gören e Zeki Ökten, diretores a quem confiou continuadas instruções. The Herd/Sürü>1 teve uma visão não sentimental da vida de camponeses patriarcais e supersticiosos e da corrupção da burocracia enquanto uma família de criadores de ovelhas desintegra-se durante sua épica jornada terrestre à cidade de Ankara; The Enemy analisa o efeito destrutivo da pobreza e da ignorância sobre o casamento. De forma mais impressionante, O Caminho/Yol>2 observa o país inteiro como uma prisão: cinco condenados descobrem, durante uma semana de liberdade condicional que a Turquia é agrilhoada por uma pobreza feudal, ódio e intolerância numa uma moralidade medieval violenta; mulheres adúlteras são engaioladas como animais ou mesmo assassinadas, camponeses curdos são reprimidos e massacrados pelas milícias. As histórias de Güney, melancólicas, simples e impressionantes, nunca glorificam as tradições da vida camponesa, mas apresentam a forma como tem crescido atrofiadamente por um governo omisso.
Em 1981, um ano após a lei marcial ter sido estabelecida, o diretor escapou para a Suíça enquanto, na Turquia, The Friend, The Herd e The Enemy foram banidos. Com financiamento francês, ele realizou então The Wall/Duvar>3, uma reconstrução dramática dos eventos que levaram a uma revolta em uma prisão de Ankara em 1976. Ainda que a maior parte da violência permaneça fora de quadro, a merea repetição de cenas apresentando agressão e sofrimento tendem a dissipar o poder do filme. No entanto, ao ressaltar o verdadeiro tédio que define a humilhação e repressão da vida prisional, Güney evita os clichês melodramáticos criando um microcosmo plausível de uma sociedade gerenciada e imersa nos poderes fascistas.
Tragicamente, Güney morreu de câncer logo após o lançamento do filme, o primeiro que ele próprio havia dirigido desde The Friend, oito anos antes. Que ele ainda poderia retornar a Turquia é improvável,mas seu senso de injustiça sócio-política, e sua habilidade de expressa-lo lucidamente através de imagens de decidida beleza, sugerem que no exílio ele poderia ter se tornado um grande realizador.
Cronologia
Güney foi uma força revolucionária no cinema turco, trazendo realismo a um país habituado a fantasias rotineiras, mesmo que tenha visto muito pouco cinema ocidental; ainda assim ele pode ser comparado a figuras tais como Rosi, Gillo Pontecorvo e (visualmente) Leone.
Destaques
1. The Herd, Turquia, 1979 c/Tarik Aken, Melika Deminag
2. O Caminho, Turquia, 1981 c/Tarik Aken, Halil Eergun
3. The Wall, Turquia, 1982, c/Saban, Sisko, Ziya
Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook, Londres: Longman, 1989, pp. 123-4.
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