Filme do Dia: Heimat (1984), Edgar Reitz

Resultado de imagem para heimat poster edgar reitz 1984

Heimat (Heimat – Eine Deustsche Chronik, Al. Ocidental, 1984). Direção: Edgar Reitz. Rot. Original: Edgar Reitz & Peter F. Steinback. Fotografia: Gernot Roll. Música: Nikos Mamangakis. Montagem: Mulle Goetz-Dickopp, Margarete Rose, Caroline Meier, Carola Aulitzki, Heidi Handorf & Kirsten Liesenborgs. Dir. de arte: Franz Bauer. Figurinos: Reinhild Paul, Regine Batz & Ute Schwippert. Com: Marita Breuer, Kurt Wagner, Rüdiger Waigang, Eva Maria Schneider, Karin Rasenack, Johannes Lobewein, Gertrud Bredel, Eva Maria Bayerwaltes, Hans-Jürgen Schatz, Johannes Metzdorf, Wolfram Wagner, Dieter Schaad, Jörg Hube, Helga Bender, Sabine Wagner, Jörg Richter, Gudrun Landgrebe.
O Desejo de Fugir. Paul Simon (Schaad), recém-retornado de uma experiência de guerra na França, reencontra a família, apaixona-se pela garota francesa que é vilipendiada na aldeia, mas essa parte e ele se casa com Maria (Breuer), abandonando a família e a aldeia sem dar notícias. O Centro do Mundo. O irmão de Paul, Eduard (Weigang), muda-se para Berlim e se envolve com a dona de um cabaré, Lucie (Rasenack), com pretensões de riqueza. Um Natal Como Nunca se Viu. Eduard se torna prefeito de uma cidade próxima da sua Schabbach. Ele e Lucie passam a morar numa extravagante mansão erguida para sua vida marital. O nazismo ascende ao poder. Uma crise de difteria ceifa a vida de várias crianças. O telefone chega a região.  Lucie começa a se impacientar com a vida trivial da pacata cidade onde seu marido é prefeito. Eles hospedam três importantes lideranças nazistas, mas o sonho de um contato mais próximo com a elite no poder não se cumpre. Eles partem de manhã cedo sem provar do sofisticada desjejum que lhes havia sido preparado. A Auto-Estrada do Reich. Maria se apaixona pelo engenheiro Otto, principal responsável pela construção de uma nova rodovia que passa próximo de Schabbach (Hube). Uma das ex-colegas de trabalho de Lucie, Martina (Bender), chega improvisadamente a sua casa e passa a trabalhar como sua serviçal. Para Cima, Para Fora e Para Trás. Após 12 anos sem dar notícia, Paul Simon envia uma carta dizendo que irá retornar em breve ao seio da família e que se encontra em Detroit. A situação deixa Maria melancólica por ter que se separar de Otto, transferido para outra cidade. No momento do desembarque, no entanto, Paul tem o seu visto de entrada negado até o momento em que se reconheça sua ascendência ariana. Eduard tenta desesperadamente resolver o caso no período curto de apenas uma semana. O Front Doméstico. Através de um telefonema, o filho de Maria, Anton, lutando na União Soviética casa-se com Martha (Wagner). Otto, que agora trabalha desarmando bombas, reencontra o outro filho de Maria, que vai trabalhar no seu grupo. Os moradores de Schabbach se deparam com a moralidade nazista, por vezes batendo de frente com certos preceitos tradicionais. Uma das menos adaptadas à nova moral é a matriarca dos Simon, Katharina, conhecida como Kath (Bredel). Os Soldados e o Amor. Otto retorna a Schabbach e reencontra Maria que decide por não dar prosseguimento a relação que gerou um filho. Após uma noite novamente reunidos, Otto partirá para sua última missão como desarmador de bombas. Martha, por sua vez, chora a morte do marido Anton. Os Americanos. Enquanto a família Simon luta para manter minimamente o padrão de vida que possuía antes da guerra, Paul retorna como bem sucedido empresário norte-americano de Detroit, organizando uma cara festa e se locomovendo de limusine. Ele tenta se reaproximar de Maria, que rejeita sua abordagem quase ofensiva. Kath morre dormindo. Paul não pode ficar para o enterro da mãe, sob o risco de ter seu visto expirado. Anton inquieta Martha com devaneios sobre se tornar ele próprio um industrial após a partida do pai. O Jovem Hermann. Hermann (Richter), o filho bastardo de Maria, passa a viver uma tórrida relação com Klärchen (Landgrebe), mulher onze anos mais velha e hostilizada pela cidade. A descoberta do amor para Hermann se dá ao mesmo tempo em que seu vibrante gosto pelas artes e seu senso de marginalidade em relação à família Simon igualmente assomam. Seus irmãos tomam posturas diversas. Anton se torna um  industrial reacionário, enquanto Ernest se identifica mais com os sofrimentos do Jovem Hermann. O amor entre ambos se demonstra condenado, quando a família fica sabendo de tudo, e Maria e Anton ameaçam Klärchen com um processo. Os Anos Mágicos. Disputas pelo sucesso levam os dois irmãos, Ernest e Anton, a se desdobrarem em suas atividades.

Embora se encontre longe da densidade de uma outra obra monumental da tv alemã de seu tempo, Berlin Alexanderplatz, de Fassbinder, trata-se, a seu modo, mais convencional e realista, de uma das melhores incursões em termos de série televisiva sobre a história de um país, partindo do recorte tradicional dos laços familiares. Sua irretocável fotografia em p&b, sépia e cores, enquadramento e trabalho de câmera, assim como direção de atores são atrativos por si próprios e talvez tão ou mesmo mais que sua narrativa, de postura realista tradicional, e com uma definição de “caráteres” algo esquemática, como é o caso da admirável Mãe Coragem que é a Kath de Bredel. Dentre os seus defeitos, a inevitável previsibilidade que acompanha a morte de Otto e Kath, mas mesmo esses se adequam grandemente a sua proposta abertamente realista; já alguns clichês, por mais que possuam os dois pés numa dimensão igualmente alegórica, como a do retorno “americanizado” de Paul, visionário self made man, soam mais dispensáveis. Uma das surpresas agradáveis após a série se deter quase a exaustão sobre os episódios relacionados à guerra é O Jovem Hermann, que não apenas ambienta seus conflitos – trata-se do ano de 1955 – no período do Milagre Econômico alemão, como igualmente faz menção indireta ao zeitgeist de uma geração que começa a se insurgir contra os valores estabelecidos, e que sinaliza indiretamente –  até mesmo de forma visual, tornando-se mais “vibrante” e dinâmico  -  tanto para o surgimento em breve do Novo Cinema Alemão, do qual o próprio Reitz faz parte, como para a radicalização da postura de enfrentamento entre ideologias polares no final da década seguinte. Evidentemente todo o drama romântico do adolescente reverbera os excessos românticos da própria literatura de Goethe, citada em sala de aula a determinado momento. Não por acaso, tendo senso do que tinha em mãos, trata-se de um episódio mais longo. Os conflitos traumáticos dos “anos de chumbo” não são incorporados à narrativa. O final é decepcionante, já que no último capítulo, ao invés de se desenvolver temas atinados com o momento contemporâneo no qual o filme foi produzido, a partir de novos personagens em destaque – como fora o caso anteriormente de O Jovem Hermann – apela-se para a saída do passado, tendo como mote a morte de Maria  e o resultado chega a ser constrangedor, inclusive na sua mal sucedida alusão de retorno real ao passado, algo evocativo do último episódio de Berlin Alexanderplatz, de Fassbinder, mas longe de conseguir algo semelhante com a sua mais convencional encenação próxima da teatral. Destaque para o inverossímil uso das fotografias que serve como pretexto para se relembrar eventos apresentados nos episódios anteriores, a partir de stills da produção – tanto por muitas das situações não comportarem um registro fotográfico, como situações de tensão doméstica ou de extrema intimidade quanto pela prática fotográfica ainda não se encontrar tão banalmente disseminada quanto nos tempos do digital. Edgar Reitz Film/SFB/WDR. 940 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng