Filme do Dia: The Brown Bunny (2003), Vincent Gallo
The Brown Bunny (EUA, 2003). Direção, Rot. Original,
Montagem, Dir. de arte, Cenografia e Figurinos: Vincent Gallo. Com: Vincent Gallo, Chloë Sevigny, Cheryl Tiegs,
Elizabeth Blake, Anna Vareschi, Mary Morasky.
Bud Clay (Gallo),
piloto de moto profissional, atravessa os Estados Unidos até Los Angeles para
acertar suas dívidas para com o passado trágico, que envolve sua ex-amante
viciada em drogas Daisy (Sevigny) e um filho morto. Durante o caminho, encontra
várias mulheres com quem mantém contatos ocasionais, como Violet (Vareschi),
jovem que promete levar em sua viagem, mas que deixa na casa de sua família ou
a prostituta Rose (Blake), que encontra em Las Vegas, paga uma merenda e a
deixa em algum lugar da cidade.
Gallo, cineasta do
cultuado Buffalo`66 (1998), volta ao road movie numa incursão amarga e
soturna pelo cenário americano, evocativa de muito do que já se produziu nesse
sentido, da literatura beatnik ao cinema de Wim Wenders (Paris, Texas pela similar epopéia do protagonista perdido, mas não
menos No Decorrer do Tempo, enquanto
experiência fenomeno-fisiológica radical) ou John Cassavetes (o momento em que
Bud abraça e beija uma balzaquiana solitária na beira da estrada, espécie de
comunhão dos desesperados, possui uma proximidade que evoca Faces) e Sem Destino. Para não falar de toda a tradição do herói solitário
evocada por décadas de westerns. Naturalmente Gallo não possui o mesmo talento
de seus predecessores citados. Sua direção de atores é um tanto modesta quando
comparada a Cassavetes, a dimensão de efetiva transcendência buscada nas cenas
de viagens associadas às canções melancólicas não chega a ser convincente de
todo, como em Wenders e, a seu modo, traduz uma verdadeira desesperança que vai
muito além do protagonista, sendo um retrato da própria nação. Nesse sentido,
sua melancolia parece o oposto da anarquia e vitalidade presentes no filme de
Dennis Hopper, como que refletindo momentos históricos diametricamente opostos.
Constituído de pequenos e lacônicos encontros entremeados por longos planos de
paisagens e música do ponto de vista do motorista, o filme perde quando,
próximo do final, cai na tentação de explicitar através de um flashback alucinatório (com direito a
uma seqüência explícita de sexo oral) de Bud a morte de Daisy e do filho, um
tanto quanto redundantemente, quando seria muito mais interessante seguir no
mesmo ritmo de registrar as ações de Bud de uma maneira quase documental e não
através da sempre necessária motivação psicológica, como é o caso das melhores
obras de Cassavetes. Essa versão é 26 minutos mais curta que a exibida em sua estréia
no Festival de Cannes. Kinetique
Inc./Vincent Gallo Productions/Wild Bunch. 93 minutos.
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