Filme do Dia: Crimes d'Alma (1950), Michelangelo Antonioni
Crimes D’Alma (Cronaca di un Amore, Itália, 1950)
Direção: Michelangelo Antonioni. Rot.Original: Michelangelo
Antonioni, Daniele D'Anza Silvio, Giovannetti Francesco & Maselli Piéro
Tellini. Fotografia: Enzo Serafin. Música: Giovanni Fusco. Com:Lucía Bosé,
Massimo Girotti, Gino Rossi, Marika
Rowsky, Ferdinando Sarmi, Vittoria Mondello.
Carloni (Rossi),
contratado pelo marido de Paola (Bosé), diz-se amigo do pai de uma jovem de 19 anos que teve morte misteriosa.
Ele inicia a investigação, baseando-se na existência da amizade da jovem com um
grupo, ao qual se encontrava no momento de sua morte. Encontra-se com Matilda
(Mondello), que também fazia parte do grupo, atualmente passando por
dificuldades financeiras e que acaba se negando a falar sobre o assunto. Porém escreve
para Guido (Girotti), jovem que havia sido objeto de paixão de Paola, mas que decidira
se casar com Giovanna, esta morrendo
poucos dias antes do casamento. O investigador descobre, através de uma criada
da família de Giovanna, o local em que
ocorrera sua morte: o elevador. Para ela, no entanto, sua morte ainda era
cercada de mistério. Guido, alertado por Matilda, resolve se reencontrar com
Paola, pela primeira vez desde a morte de Giovanna. Casada com o milionário Enrico Fontana
(Sarmi), Paola vive entediada com o luxo e falta de amor da vida que leva. O
reencontro com Guido, volta a lhe despertar a paixão. Após este lhe afirmar as
dificuldades financeiras por que passa, Paola promete-lhe fazer com que ele
ganhe um boa comissão, pela venda de um carro de luxo, carro que será seu
presente de aniversário. Após o contato com seu amigo, revendedor de carros,
Paola e Guido combinam um encontro ocasional em um clube, onde Paola finge
conhecer o amigo de Guido, não sem certa ressistência - provocada pelo ciúme de
ter visto Guido dançando com a namorada do amigo, a modelo Joy (Rowsky) - e
fala com o marido a respeito do carro. Enquanto o marido testa-o, Paola e Guido
se amam no carro de Paola. O marido desiste de comprar o carro, no entanto.
Paola, após se cansar dos encontros furtivos com Guido, e agora sabendo que
fora seu marido que encomendara o trabalho do detetive, arquiteta com esse o
assassinato do marido. Durante uma discussão entre o casal, a morte de Giovanna vem à tona, sendo que Guido e Paola
foram implicitamente cumplíces ao não lhe avisarem que o elevador ainda não
havia chegado. Agora, quando Guido se prepara para matar Enrico na estrada,
este sofre um acidente de carro e morre. Ao receber a visita da polícia de
madrugada, Paola foge de casa e encontra-se com Guido, aterrorizada, achando
que iam prendê-la. Este conta-lhe tudo. O sentimento de culpa os persegue, mesmo
sabendo que foi um acidente. Guido afirma que no dia seguinte ligará para o
inspetor de polícia, mas quando entra no táxi, pede para o motorista leva-lo à estação.
Trabalhando com
material semelhante ao do cinema noir
- mortes misteriosas, um homem sendo levado ao desejo de matar por causa da mulher,
investigação detetivesca, angústia frente ao modo de vida cotidiano -
Antonioni, no entanto, gradualmente se afasta das motivações típicas do
suspense e da reconstituição dos detalhes das mortes, comuns ao gênero, e se
aproxima do mal-estar espiritual em que vivem seus protagonistas. Vivendo uma
eterna situação de amor latente - primeiro por causa do “acidente”de Giovanna, depois pela morte de Enrico -
Paola e Guido desejam a morte de seus próximos, porém após estas ocorrerem, ao
invés de se libertarem dos obstáculos para a concretização de seu amor, ocorre
exatamente o oposto: a impossibilidade de sua realização devido ao sentimento
de culpa. Assim, se o plano do casal de matar Enrico remete imediatamente à
clássicos do cinema noir como Pacto de Sangue (1944), de Billy Wilder, o destino reverte o quadro e se
adianta de modo perverso (e perversor do que seria um clichê do thriller
da época). Primeiro longa-metragem de Antonioni, que anteriormente só havia
realizado curtas documentais. Apesar de se encontrar longe da maturidade de
filmes como O Eclipse (1962) e A Noite (1961), já apresenta nítidos
traços que comporiam seu estilo: casais burgueses atormentados e entediados (e
aqui, ironicamente, no auge de um Neorrealismo que pregava uma estética
completamente outra, na maior parte das vezes utilizando um suporte de cinema
social apenas para esconder um populismo de gosto duvidoso); sofisticação
visual; elipses e lacunas de informação em comparação ao cinema narrativo clássico;
recusa de um voyeurismo calcado em emoções e situações de maior apelo
apresentados que realize um contato mais fácil com o público, acabam resultando
em uma atmosfera fria, que se recusa a reestabelecer uma situação tranqüilizadora
no final (também inversamente oposto ao método trabalhado pelo cinema noir)
e que é mais importante, em última instância, que o próprio enredo em si.
Villani Film. 98 minutos.
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